1.8.18

O COMBATENTE MILLÔR FERNANDES

HELIO FERNANDES -


Um amigo que não quer aparecer, intuitivamente acertou nas intenções do Coronel Passarinho de me preservar. Meses depois de voltar de Fernando de Noronha, ainda em 1967, eu jantava num restaurante de Ipanema, (com Rosinha e um casal) inesperadamente o coronel vem á minha mesa, cordial, levanto, ele me diz: "Estamos em campos opostos, mas tenho admiração por você. A ideia de Fernando de Noronha foi minha, eu só ouvia dizerem, o jornalista tem que morrer, achei que era a solução".

Ah! Com certeza! O Jarbas Passarinho foi uma exceção naquela tribo de paletós verdes emedalhados. Não quero dizer com isso que ele não fizesse parte daquilo, mas com certeza ele teve consideração e apreço por você. Você só sobreviveu, Helio, devido ao caldo que resultava dos trabalhos de ambos. Do teu trabalho e do Millôr, porque enquanto você jogava lenha na fogueira, o Millôr pacificava aquilo com humor. O casamento era perfeito.

O Millôr era um combatente nato, só que usava humor e ironia, que são armas de tempera divina. Mas sabia o que enfrentava. Tempos depois de ser demitido de O Cruzeiro, lançou o Pif-Paf como revista semanal. 6 números magníficos, vieram os generais torturadores, fecharam a revista, que ele fazia sozinho.

Completando e complementando. Já na fase ainda mais combativa do Pasquim, circulou a notícia que 12 jornalistas do brilhante semanário seriam presos. O Millôr incluído. Ele não esperou. Escreveu: "Se eu for preso, um dia vão ter que me soltar. Aí, irei para o exterior e farei a maior campanha contra essa ditadura. Podem me encontrar em casa ou na redação".

Ninguém conseguiu explicar, mas o Pasquim teve 11 jornalistas presos, o Millôr continuou solto, trabalhando e combatendo AS EMPREITEIRAS ROUBALHEIRAS.