2.8.18

GREVE DE FOME PELO RESTABELECIMENTO DA JUSTIÇA NO BRASIL SIGNIFICA LUTA CONTRA OS QUE FALSIFICAM A NOSSA HISTÓRIA [VÍDEOS]

ANDRÉ MOREAU -

A “greve de fome por justiça” iniciada (31) pelo Frei Franciscano Sérgio Görgen, juntamente com cinco irmãos, após a entrega do documento ao STF que postula a restauração da justiça e a libertação do preso político Luíz Inácio Lula a Silva, lembra o pensamento do Filósofo Camus: “Eu me revolto, logo nós somos”. Ao declarar no Supremo Tribunal Federal (STF), “iniciada a greve de fome para que a justiça se restabeleça no Brasil,” Görgen e seus companheiros representaram todos os cidadãos atingidos por injustiças nesses tempos de judicialização em que vivemos.

Leitura do manifesto que explicou razões da greve e associou prisão de Lula a cenário de perda de direitos e aumento da pobreza. Manifestantes defendem que o STF cumpra a Constituição e o direito do povo escolher o próximo presidente | Foto: MST.
Segundo reportagem a Rádio CBN (1), Frei Sérgio Görgen foi empurrado quando subia as escadas do Supremo Tribunal Federal (STF), tendo chegado a cair com mais dois companheiros, mas a repressão não foi capaz de conter a greve de fome para que a justiça se restabeleça no Brasil”, que clama aos ministros da Corte Máxima de Justiça, para que zelem pela Constituição e libertem o preso político Lula.

Antes da manifestação de revolta pacifica pelo bem estar social do povo brasileiro, João Pedro Stédile lembrou que o tempo de duração da greve de fome seria determinado pela Presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia.

“Ela foi indicada para respeitar a Constituição”, ressaltou Stédile, mas no entanto existem “(...) dois recursos aguardando julgamento - uma ADC do PCdoB, que consulta se uma pessoa pode ser presa antes do julgamento de todos recursos e; um outro recurso da OAB, sobre validade da presunção de inocência até o julgamento da última instância. Basta colocar os recursos em plenário para acabar com a greve.”

A greve de fome reforça a orientação do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas ao STF: de permitir a libertação de Lula, por falta de provas. "É uma greve que não tem data para terminar. Não é apenas um jejum de um ou dois dias. Isso implica em uma decisão mais séria, mais grave, e são poucas pessoas que têm coragem de tomar essa decisão", destacou João Pedro Stédile, ao site Brasil 247.

A ocultação da mencionada informação imposta pelos senhores dos meios de comunicação que pregam “austeridade”, “combate a corrupção” e ao “crime-organizado” expõe o retrocesso social que foi implantado no País, para derrubar a Presidenta Dilma Rousseff e que abriu as porteiras do Congresso Nacional para desmontar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), entregar de bandeja a Petrobrás, assim como congelar o teto dos investimentos sociais por vinte anos com a Emenda 95 (PEC da morte). Isso para não falar sobre a entrega da Base de Alcântara; na interrupção das obras do submarino nuclear; da invasão autorizada da Amazônia; da venda de terras para estrangeiros, dentre outras manobras praticadas por oligarcas locais e estrangeiros da rede neoliberal, que operam a mudança do sistema de governo, a partir dos choques usados para desmontar a soberania nacional.

Não seria demais citar o pensamento de Hegel, outro Filósofo que tratou de questões semelhantes: “Só existe o senhor porque existe o escravo que o reconhece como tal”, mas não é sábio filosofar preso a frases de personalidades que marcaram a História da Filosofia. Deve-se usa-las, analisá-las, para se ir além, aprofundando o debate. Pois além de entender o que os filósofos disseram, é preciso ampliar o espectro para enxergar além dos contornos da luta de classes acirrada a partir de 2013 com a narrativa de ódio ao Governo Dilma, que uniformizou os noticiários nos meios de comunicação organizados em consórcio.

Só elaborando o nosso próprio pensamento sobre todos os assuntos que nos dizem respeito, é possível criar caminhos para enfrentar o retrocesso de “cinqüenta anos, em dois”. Reproduzir fórmulas consagradas, que não se referem a nossa realidade, fragmenta o raciocínio, limita o pensamento em meio a tantas ocultações e meias verdades. Tende a levar o incauto, por exaustão, a admitir a derrota, até “abdicar do direito de pensar” como bem assinalou a Filósofa Hannah Arendt, no julgamento do nazista Adolf Eichmann que afirmou só receber e cumprir ordens.

Estudar é assimilar e disseminar conhecimento. Por isso dá trabalho estudar. É preciso partir das premissas, visitar a História, no caso em questão: a “Doutrina de Choques” de Milton Friedman que instituiu o neoliberalismo na ditadura de Augusto Pinochet; as sentenças da Ação Penal 470, com base na “Teoria do Domínio do Fato,” usada para condenar em tempo de paz, sem provas, denegrindo a reputação de políticos como José Genuíno e José Dirceu e; as ferramentas usadas na indução da luta de classes estimulada pela narrativa de ódio dos meios de comunicação que estão orquestrando o plano de mudança do sistema de governo.

Não por acaso nos deparamos com as conseqüências dos desmandos que arrastam a cada dia que passa mais pessoas pobres de volta à miséria extrema, recolocando o Brasil no mapa da fome, de acordo com especialistas em Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas e a repetição de mentiras nos noticiários que responsabilizam o cidadão pela crise na saúde, mas sem falar nos efeitos da Emenda 95.

Os “especialistas” que falam que as doenças erradicadas há décadas voltaram a atingir principalmente as crianças, porque os pais não as vacinam, parecem querer debochar de quem usa a cabeça para raciocinar e sabe que tais colocações funcionam como “cortina de fumaça”, para ocultar as conseqüências da Emenda 95. O desmonte gerado pela Emenda 95 atinge todos os órgãos públicos voltados para o bem estar social, principalmente dos mais pobres.

Caso implantem a “reforma da Previdência Social”, por decreto, ao apagar das luzes, no final de 2018, como especulam especialistas do direito previdenciário, milhares de membros da classe média em idade de se aposentar, serão obrigados a trabalhar até seus últimos anos de vida, se quiserem usufruir de uma reduzida parcela de suas contribuições.

A “greve de fome por justiça,” representa todo cidadão que preza pelos princípios e cláusulas pétreas da Constituição e não admite prisão em segundo grau, nem a introdução da “Teoria do Domínio do Fato”, no ordenamento jurídico brasileiro, por determinação dos ministros do STF que deveriam zelar pela Constituição e não mutila-la.

A “greve de fome por justiça,” chama a atenção da população para o impeachment, sem mérito, da Presidenta Dilma, o primeiro “clímax” da narrativa de choques que mantém o “modus operandi”, que encarcerou Lula na masmorra de Curitiba, o líder político que o povo quer ver de volta governando o Brasil.

A “greve de fome por justiça” dos irmãos Franciscanos e dos movimentos sociais, além de chamar a atenção para o fato de que a Constituição foi rasgada, nos leva a pensar na intervenção militar no Rio, ocorrida logo após os carnavalescos da Escola de Samba Tuiuti, eternizarem o “vampirão” do golpe de Estado, com a representação do ilegítimo Michel Temer, no Carnaval de 2018.

Se não fosse para calar as manifestações populares, por que a intervenção militar não ocorreu em São Paulo, retomando investigações sobre os sonegadores que todos os anos lavam bilhões em paraísos fiscais?

A coletiva à imprensa concedida pelos membros da greve de fome segunda-feira (30), foi ocultada pela maioria dos meios de comunicação, porque a ocultação dessa provação que testa os limites dos seres humanos, é a principal estratégia para minar a força dos movimentos sociais e de governos que contrariem os interesses da rede neoliberal, mas assim como no passado, a manobra só se sustenta se não houver repercussão internacional.

A provação é o teste dos limites que nesse caso, a partir da revolta de seis pessoas que participam da “greve de fome por justiça”, representa a maioria da população brasileira, porque chama a atenção dos ministros do STF que ignoram a função precípua de zeladores da Constituição da República Federativa do Brasil.


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*André Moreau, é Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê – Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos – ABI – Associação Brasileira de imprensa, jornalabi.blogspot.comarbitrariamente impedida de concorrer à direção nas eleições de 2016/2019.