JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Uma leitura do recente documento da Congregação pela Doutrina da Fé do Vaticano, aprovado pelo Papa Francisco, deixa claro que a alternativa mundial para a saída da armadilha especulativa do sistema financeiro ocidental é o deslocamento para o sistema financeiro asiático, capitaneado pela China. Os bancos ocidentais apodreceram em sua ganância por lucro fácil, levando à virtual destruição o sistema produtivo. Nós temos que escapar das garras de Wall Street e de Londres para ter alguma perspectiva de desenvolvimento econômico real.
O fato é que, desde o fim dos arranjos de Breton Woods, criados em 1944 e cuja eficácia se estendeu até a ruptura com a conversibilidade do dólar em 1971 por Richard Nixon, o sistema financeiro mundial entrou num processo de caos. Os países ricos europeus se defenderam com esquemas de estabilização forçada – serpentes cambiais -, mas não por muito tempo. O arranjo que se pretendia ser definitivo foi a criação da moeda única, o euro, que não passou de um esquema de escravização do resto da Europa pela Alemanha.
A crise de 2008 atingiu de cheio o sistema financeiro ocidental – não o oriental, que acusou apenas respingos. A razão não era difícil de compreender. Trata-se de um sistema montado na especulação descolada da economia real, favorável exclusivamente aos oligopólios do eixo Wall Street-Londres-Fraancfurt. Em algum momento esse sistema iria desabar. E desabou efetivamente, não levando a si mesmo e à economia mundial ocidental à bancarrota graças a trilhões de dólares nele injetados pelo Governo Obama.
É claro que o mundo não pode ficar à mercê desse jogo especulativo indefinidamente. O Governo Obama chegou a ensaiar um processo de recuperação da saúde financeira dos bancos, inclusive separando bancos especulativos de investimento de bancos comerciais (a antiga Lei Glass-Steagall), mas suas tentativas foram confrontadas e liquidadas por Wall Street. Curiosamente, a proposta não surgiu de críticos do sistema capitalista: surgiu do respeitabilíssimo Paul Volcker, ex e bem sucedido presidente do FED.
Haverá tremendas resistências, no mundo e no Brasil, para o deslocamento político do sistema financeiro ocidental para o sistema oriental. Estão envolvidos interesses trilionários nessa decisão, que é eminentemente política. Essa, na verdade, é a questão estratégica de maior envergadura com que o mundo enfrentará nessa e nas próximas décadas. Neste momento, o Brasil está fora do jogo. Nossas reservas internacionais, cerca de 400 bilhões de dólares, podem ser simplesmente engolidas pelo sistema especulativo. Na iminência de instalação de um novo Governo, o momento é de refletir para encaminhar a melhor decisão.