Por PAULO METRI -
Deixo claro, desde já, que não existe só um fator indutor de violência na nossa sociedade e, também, que a existência de um destes fatores alimenta todos os demais. Procurarei listar os possíveis fatores que determinam o alto nível de violência existente hoje no Brasil. Primeiramente, o mau-caratismo dos bandidos é indiscutivelmente causa relevante. No entanto, a incidência dos que têm propensão a ser bandido não deve diferir tanto com o local.
O policial corrupto é mais bandido que o pior dos bandidos, porque dele se esperava o exemplo. Da mesma forma, o juiz que não faz justiça é um usurpador da esperança do povo e fator de desestruturação de toda a organização social. Políticos corruptos, junto com os policiais e juízes corruptos, compõem mais um fator gerador de violência social, dos mais danosos.
A falta de um tempo mínimo na escola para toda a população, quando seriam transferidos valores sociais e humanísticos, bloqueadores da violência, transforma-se em fator facilitador da agressividade.
A vergonhosa distribuição de renda e riqueza no Brasil é uma causa da violência sempre esquecida na mídia e, por conseguinte, na percepção do povo. Para ser preciso, esta nossa péssima distribuição de renda e riqueza, que é uma das piores do mundo, trata-se, por si só, de uma violência. A diferença abissal entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil é um fio desencapado pronto para originar um curto circuito a qualquer momento, e nunca é lembrada pelos analistas da mídia venal. Aliás, o jeito que esta mídia esconde ou torce as informações para enganar o povo é também um fator indutor de violência.
A precária vida dos mais pobres, que têm fome e não têm atendimento social algum, consiste em uma brutal violência. O nosso Estado nacional, graças à maioria dos políticos que o dominam, não dá prioridade aos mais necessitados. A fome e a falta de atendimento da saúde são, por definição, violências constrangedoras. Além disso, os pobres, por serem propositalmente despolitizados, são sempre tratados com violenta desconsideração. Eles com seus sofrimentos são transformados pela mídia (sempre ela!) em seres invisíveis.
Os catadores dos lixões são o próprio retrato da violência. Estes inaladores de cheiros putrefatos, comedores de alimentos estragados, que se expõem a toda sorte de vírus e bactérias, são seres que se submetem à violência de catar nos rejeitos dos abastados sua subsistência. Assim como os que dormem nas ruas, os catadores passam a ser considerados pela elite como sub-humanos, aos quais não é preciso dedicar solidariedade. Cadáveres já não causam espécie, pois tropeçam neles no caminho para casa quase todos os dias. Hannah Arendt diria que foi banalizado o mal também nas comunidades carentes brasileiras. Aqui, o valor da vida é mínimo, ficando mais fácil praticar atos violentos.
Como um fator de peso, estão os atos da mídia para encobrir falcatruas de poderosos, que são tratadas com inusitada benevolência e sem grande divulgação (mais uma vez, “ela”!). Também, o governo dá isenção de impostos para setores econômicos extremamente rentáveis, que não precisariam de apoio algum, caracterizando uma violenta renuncia de tributos, em possível ato de corrupção. Estes recursos poderiam ser destinados para aplicações de grande impacto social, como saúde e educação.
O Estado brasileiro pouco está nas favelas. Aí, este mesmo Estado brasileiro manda o Exército para elas. O que mesmo o Exército veio fazer nestas comunidades carentes? Ele tenta ser só o agente repressor! Não há nenhuma iniciativa para mudar o curso das demais violências. Falta pouco para o triste fim desta corporação da qual os brasileiros ainda se orgulham. O que os pracinhas brasileiros, que deram a vida para defender o Brasil de eventual jugo nazista e que eram oriundos, na sua maioria, de comunidades carentes, diriam do Exercito, que serviram com tanto garbo, estar agora confundindo pobre com bandido? O Exército foi convocado por “ela”, a causa primeira de todos nossos males, junto com os interessados na manutenção do status quo, para ser o exterminador da dignidade do pobre.
* Via e-mail/Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia e vice-presidente do CREA-RJ