26.2.18

O ALKMIN DO PARÁ

SEBASTIÃO NERY -


Rio de Janeiro – A sabedoria política nacional acha que ela só existe em Minas, Bahia, São Paulo, no nordeste e no sul maravilha. No entanto ela está espalhada de norte a sul. Por exemplo: o Pará teve um José Maria Alkmim que durou décadas: João Botelho.

João Botelho foi candidato a prefeito de Belém. Passou o dia inteiro anunciando um comício à noite, na praça Brasil. Chegou lá, não havia ninguém. Imaginou um engano, perguntou ao secretario.

Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma?

Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado: - Socorro, socooorro, socoooooooorro!

Correu gente de todo lado para ver o que era. Assegurada a plateia, ele começou o comício: - Socorro para um candidato… 

E fez o comício.

*

Deputado do Rio, passou muito tempo sem ir a Belém. Quando foi, encontrou na rua o filho de um grande amigo:

- E o velho? Ainda não tive tempo de abraça-lo.

- Papai faleceu, deputado.

Desculpou-se como pôde, a vida absorvente do Congresso, a longa ausência da terra:

- Aceite minhas condolências, extensivas a todos os seus.

Dias depois, volta a encontrar-se com o rapaz:

- E o velho?

- Eu já disse, deputado. O papai faleceu.

- Ah, foi mesmo. Esta minha cabeça! Mas nunca é demais renovar a expressão de meu pesar. E deu-lhe um longo abraço. Semanas depois, novo encontro. Foi começando:

- E o velho?

Mas emendou logo:

- O velho sempre morto, não é? Sempre morto.

*

Secretário de Segurança, recebeu em audiência um capitão do Exército, fardado:

- Tenha a bondade, major.
- Major, não, doutor Botelho, capitão.
- Mas é major na promoção de minha amizade.

*

Encontra o cabo eleitoral:

- Como vai? E a diletíssima esposa? E as crianças?

- Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto, é um menino só.

- E eu não sei que é um filho só? É um menino, certo, mas que vale por muitos. Então, como vão os meninos?

*

Já fora da política, no Rio, precisava conseguir uns esclarecimentos no Instituto Félix Pacheco. Ia saindo, o colega da Procuradoria da Caixa Econômica chamou a atenção para o calor desesperado que fazia lá fora:

- Mas você sair daqui desse ar refrigerado e enfrentar o sol da avenida, a pé, até a rua Venezuela? Por que não telefona?

- Pelo telefone eles não informam.

Ligou, fez voz macia:

- Meu filho, aqui fala Monsenhor Botelho, do Palácio São Joaquim. O senhor cardeal deseja uma informação.
O funcionário anotou, saiu do telefone alguns instantes e voltou com todos os esclarecimentos.
- Muito obrigado, meu filho. Que Deus abençoe e a mim não desampare. Quando puder venha tomar um café com o velho Monsenhor Botelho.