DELÍRIO
O vento arranca
tudo o que escrevo
formando uma nuvem dançante
de páginas provocadoras e sarcásticas.
Em saltos tento fisgar alguma
mas elas escapam
abelhas renitentes
coceira incômoda
roçando
azucrinando
tripudiam
abrindo no ar
a tela
de uma palavra ou outra.
Aflito refreio as palavras
temendo perdê-las
no rumo à nuvem.
Meu peito vai inchando
em ponto de explosão
e na ânsia de salvar a vida
me rendo
enchendo o céu de nuvens-páginas.
E lavo em lágrima a dor
de não mais poder lavrar
lavra de livro.
***
VIDA NUA
Vida sol
vida lua
vida em casa
e na rua
vida horizonte
e cafua
vida que avança
e recua
vida acerto
e falcatrua
vida garça
e perua
vida cozida
e crua
vida minha
vida sua
retire
as vestes da vida
cante nu/a
vida nua.