26.2.18

A ENGANAÇÃO DO CAPITALISMO NO ACIRRAMENTO DO GOLPE DE ESTADO NO BRASIL

ANDRÉ MOREAU -


O ilegítimo Michel Temer foi eternizado em meio a corrupção do sistema legal brasileiro, retratado no desfile da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, revelando ao mundo no Carnaval de 2018, a revolta dos mais pobres com o desmonte em curso que visa implantar um sistema de escravização do Povo.

Apesar dos retrocessos indicarem uma tragédia anunciada: a convulsão social, decorrente do congelamento, por 20 anos, da verba destinada aos programas sociais, o desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho e a privatização da Previdência Social, a direção das Organizações Globo, manipulou os fatos e passou a apoiar a decisão do ilegítimo de implantar uma intervenção militar, antes do desfile das campeãs.

Para entender melhor porque os Marinho têm essa força, é preciso rever a história recente que não é contada nos livros escolares, até porque dentre outras áreas, o ensino também é em grande parte controlado parte eles.

O Departamento de Propaganda e Cinema (DPC), do IPES, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, comandado pelo então Tenente Coronel, Golbery do Couto e Silva, foi crucial para acorrentar as mentes dos incautos e gerar a tensão necessária antes da deflagração do golpe em 1º de abril de 1964, visando gerar a histeria da ideologia do capital brutal contra o comunismo, que provocou o medo e terror.

Foram produzidos 24 filmes por diversos roteiristas e acadêmicos contratados pelos diretores do DPC, Irineu Marinho e Jean Manson, de 1962 à 1964, com o objetivo de convencer o público da seguinte forma: a saída para defender a todos da ameaça vermelha, era derrubar o presidente João Goulart, que nunca foi comunista e sim, trabalhista.

Os filmes eram exibidos em toda a rede de cinemas Luiz Severiano Ribeiro, antes dos filmes principais e em praças publicas, nas cidades de interior, repetidamente, até que a mentira que pretendiam enfiar nas cabecinhas, de que comunistas comiam criancinhas, fosse admitida como verdade.

O golpe foi dado e o Presidente João Goulart, se viu obrigado a partir para o exílio visando evitar um derramamento de sangue. O Estádio Caio Martins, em Niterói, no dia 1º de abril de 1964, passou a funcionar como presídio a céu aberto, o primeiro da América Latina, onde foram presos centenas de camponeses, operários, estudantes, médicos, advogados, professores e alguns jornalistas.

A possibilidade do Brasil se desenvolver através de programas sociais, do ensino, da tecnologia própria, da Reforma Agrária, assim como a China, nunca foi tolerável pelos oligarcas do Brasil e dos Estado Unidos, por isso, as áreas mais visadas da ditadura foram o ensino, a comunicação e os transportes.

Os negócios do Estado, foram sucateados: a Rede Ferroviária Federal; a indústria naval (a terceira maior do mundo), foi desmontada; a Fábrica Nacional de Motores (FNM), conhecida popularmente como "FeNeMê",  estatal brasileira concebida para produzir motores aeronáuticos, que ampliou a sua atuação para fabricar caminhões e automóveis, foi fechada; os Institutos de Aposentadorias e Pensões, de todas as categorias profissionais tiveram seus bens usurpados, dentre outros retrocessos.

O crescimento de O Globo, em escala de atividades cruzadas, foi o maior dentre todas as empresas de comunicação do Continente, fundamentalmente graças aos apoios que vinham do norte, objetivando manter a exploração de nossas riquezas naturais em curso na mais longa ditadura da América Latina.

O desmonte da indústria naval, interrompeu a cabotagem (o meio de transporte mais barato visando não elevar os custos entre produtores e mercados revendedores), assim como as ferrovias, substituída por rodovias e os trens, pelo transporte terrestre feito por caminhões, o modal mais caro do mundo, visando gerar lucro para indústrias de combustíveis, óleo, peças, pneus e asfalto importados principalmente dos EUA e Japão.

Com a decretação do Ato Institucional nº 5, as prisões, seqüestros, torturas e desaparecimentos, de pessoas que se opunham à ditadura, se tornaram freqüentes. Os militares destacados pela repressão estudaram tortura na Escola das Américas. Com o declínio do "milagre econômico", acentuado pela crise do petróleo em 1973, a repressão aumentou, e foi criado o “slogan”: "Brasil, ame-o ou deixe-o".

Dando saltos na história, passados 49 anos, a queda induzida do preço do petróleo, acentuou a crise internacional em 2013, quando a classe média saiu às ruas em protestos contra o aumento do preço das passagens de ônibus.

As manifestações de 2013 contra o aumento do preço da passagem de ônibus, despertaram a cobiça da diretoria das Organizações Globo, que acirrou a narrativa de ódio usando o “slogan” “anti-corrupção”, contra a “Presidenta valente” Dilma Rousseff.

50 anos depois da implantação do golpe de estado empresarial/militar de 1964, em meio a essa onda de mentiras repetidas que alardeava a idéia de recessão, no ano de 2014 os Marinho se desculparam de forma tímida, sem falar das ações junto ao IPES, pelo apoio que deram ao golpe de Estado 1964.
As datas estão erradas, ou a idéia do arrependimento se tratava de outra manipulação visando confundir os incautos, sobre o plano de derrubar a Mandatária e implantar uma ditadura com base na teoria de choques de Milton Friedman, implantada no Chile?

Com as usurpações na velocidade imposta pela tecnologia informática, com mais experiência e maior alcance do que seus antecessores do DPC de Irineu Marinho, a narrativa elaborada nos PCs das Organizações Globo, transformou o candidato à presidência perdedor, Aécio Neves, assim como o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, juristas e parlamentares que apoiaram o impeachment, sem mérito, em salvadores da pátria.

A narrativa de choques arrastou centenas de incautos acorrentados pela ideologia do capital brutal, que em atos de catarse pediram pelas praças públicas a cabeça da Presidenta Dilma Rousseff, derrubada no golpe de Estado travestido de impeachment.

A narrativa “anti-corrupção” ocultou no túmulo da cidadania a omissão das Forças Armadas quando chamada a intervir pela Presidenta Dilma Rousseff.

Os resultados dessa narrativa de moer mentes do capital através do consumo, do medo e do terror, foi logo notada com o aumento da miséria, mas continua invisível para a maioria da classe média que tem ódio dos mais pobres e só lê informações uniformizadas, distribuídas por agências de noticias e repercutidas nos meio de comunicação conservadores que operam os “milagres” da globalização.

O objetivo de transformar o País em uma colônia semelhante ao Chile e ao México está sendo atingido, no entanto, a teoria do “domínio do fato” de Roxin, admitida no “mensalão”, que agora atinge o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desperta a cada dia que passa a atenção de mais trabalhares organizados e dos defensores dos direitos humanos de diferentes países.

As denúncias dos carnavalescos que eternizaram episódios do golpe de estado e o ilegítimo Temer como "presidente vampiro", parecem ter antecipado outra etapa do golpe de Estado que gerou um dos maiores choques da narrativa, agora desdobrada em “anti-crime organizado”, visando calar o Povo e dando uma sobrevida ao ilegítimo com a intervenção militar, retardando o desmonte da Previdência Social e protegendo-o da justiça, caso suspendam as eleições de outubro de 2018.

Qualquer jornalista sabe como a mentira é usada para “manter a ordem” neoliberal. A mentira de que o Iraque tinha armas químicas de destruição em massa, foi fundamental para o Presidente Bush deflagrar a guerra, é um desses exemplos: além das obras de reconstrução, dos ganhos da indústria armamentista, da usurpação das riquezas naturais - petróleo e água, dentre outras.

* André Moreau, é Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê - Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos - ABI - Associação Brasileira de imprensa, arbitrariamente impedida de concorrer à direção nas eleições de 2016/2019.