ALCYR CAVALCANTI -
A crise do capital e a roubalheira desenfreada que levou um estado próspero a uma situação de falência obrigaram as Escolas de Samba a deixarem de lado o luxo, às vezes excessivo, e repensar a maneira de se apresentar na Passarela do Samba. Falta apenas um mês para o grande desfile, sonhos e fantasias desfeitos em um ano extremamente difícil com sucessivos escândalos, prisões, liberdade em vez de "tranca dura" com um prefeito muitas vezes fundamentalista, que confunde o cargo com o púlpito de sua igreja, corte de verbas obrigaram as escolas de samba a traçar uma estratégia de sobrevivência para o "maior espetáculo da terra", como apregoa a TV detentora da exclusividade de transmissão para todo (ou quase todo) o planeta. Com um desgovernador totalmente despreparado, insensível aos milhares de servidores à beira da miséria, que faz parte de um grupelho que domina o Estado do Rio de Janeiro há mais de doze anos responsável pela falência do segundo estado da federação, onde a culpa não é dos royalties, mas da rapinagem, do saque aos cofres públicos.
Desde alguns anos que o desfile perdeu um pouco da espontaneidade e da alegria natural dos "sambistas de raiz", em função das câmeras e das luzes da TV e obrigou aos carnavalescos a um luxo que obrigava a gastos milionários para produzir em contrapartida lucros milionários. Mas agora a realidade é bem outra, falta dinheiro e tem de sobrar criatividade. Vai ser um "Carnaval da Crítica", como em outros tempos. Vai ser deixado de lado o tom laudatório, ufanista, do "Porque me Ufano de meu País" ao estilo Conde Afonso Celso, ou no "Estilo Temer", um presidente galgado ao poder em uma trama intrincada que mais de 200 milhões de brasileiros abominam, rejeitam seu estilo falsamente rebuscado, que não engana mais ninguém a não ser um cada vez menor grupo de suspeitos e condenados por corrupção, formação de quadrilha e crimes de lesa pátria.
Vai ser um Carnaval da Bronca, que por enquanto ainda é livre, leve e solta.