ISA COLLI -
Quando se trata de alfabetização o assunto é permeado por controvérsias. Enquanto algumas escolas apostam em atividades ligadas à leitura e à escrita, outras defendem a ideia de que é preciso preparar a criança antes do letramento.
O educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), em 1919, defendia a tese de que a única tarefa saudável para uma criança de 7 anos desenvolver na escola é brincar. Para ele, a confiança é adquirida quando a criança participa de brincadeiras e de atividades físicas lúdicas. Além de gastar energia, brincar ajuda na coordenação motora, que reflete no domínio corporal, na linguagem oral e, principalmente, contribui para a inteligência da criança.
Na Pedagogia Waldorf, primeiramente deve-se integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos, pois aprimorar essas características é mais importante do que aprender a ler o próprio nome.
Rudolf Steiner alerta que eliminar atividades que favorecem a criatividade e o pensamento pode ter consequências graves para o futuro pueril.
Mas, infelizmente, muitas dessas práticas estão sendo substituídas pela escolarização antecipada. Os pais acham bonitinho os filhos saberem ler e escrever e pensam que eles são mais inteligentes do que os amigos da mesma idade. Triste engano, pois alfabetização é um processo longo e repleto de etapas, como gestos e expressões.
Existem crianças que aprendem mais cedo, com naturalidade, e impedir esse processo é tão ou mais prejudicial quanto forçar o letramento.
A alfabetização começa desde bebê, quando a mãe balbucia as primeiras palavras. Quando a criança desenha símbolos no ar, por exemplo, ela está manifestando o seu aprendizado. E essa linguagem deve ser desenvolvida nas classes de Primeira Infância, sem que atividades mecânicas de leitura e escrita atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento.
O letramento é importante, mas deve ser iniciado na idade certa
Forçar a leitura precocemente pode comprometer a formação do indivíduo. Além disso, pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse. Aprender a ler vai além de memorizar letras, juntar sílabas e formar palavras. É um período muito importante de apropriação das várias formas de comunicação.
A meta do educador deve ser concentrar energias, sem pular nenhuma etapa no preparo do aluno na Primeira Infância. Fazer isso significa antecipar iniciativas relacionadas a processos de alfabetização e letramento para que ele vá bem na etapa seguinte, no Ensino Fundamental.
Ao mesmo tempo em que a instituição educacional exerce um papel importante, os pais também devem redobrar o cuidado com o letramento precoce. Na maioria dos casos, a pressão começa a ocorrer dentro de casa, quando os familiares exageram ao incentivar a criança a ler palavras ou a escrever nomes aleatórios.
É fundamental que todos se atentem a isso. No lar, bem como na escola, as atividades devem ser adequadas para a faixa etária, sem forçação de barra.