24.12.17

DOS ERROS

MIRANDA SÁ -

“Ao examinarmos os erros de um homem, conhecemos o seu caráter” (Confúcio)


70 anos atrás, no tempo em que a minha fome de ler só perdia para a voracidade estomacal de adolescente, passou por minhas mãos um livro, “La trahison des Clercs” – “A traição dos intelectuais”. Não lembrava a autoria, mas o Google registra que é do escritor francês Julien Benda e foi publicado em 1927 e reeditado 1946.

A memória do texto se deve ao infeliz momento no Brasil que atravessa a decadência da cultura em todos os estamentos sociais das Artes, do Direito, do Jornalismo e da Literatura.

É tão generalizada a queda da qualidade intelectual na atualidade que o argumento “esquerdista” da falta de oportunidades cai por terra, ao nos lembrar das extraordinárias figuras de Benjamim Constant, Carlos Chagas, Castro Alves, Rio Branco, Epitácio Pessoa, Santos Dumont, Silvio Romero, Pedro Américo, Oswaldo Cruz, Lima Barreto, Rui Barbosa, Machado de Assis… Seria fastigioso citar mais ilustres compatriotas do passado.

O legado desses brasileiros está sendo trocado pelas exposições pornográficas e canções pornofônicas, pela exibição asquerosa de estudantes histéricas, pela adoção de ideologias tronchas nos tribunais e pelo estado patológico da chamada grande imprensa.

Já não se encontram na mídia os erros médicos e judiciários; nem a falência da representação popular no Congresso, nem a apatia medíocre da Academia. Hoje, a editoria política dos jornais virou página policial, e as manchetes só abordam escândalos sexuais de personalidades do cinema e da televisão.

Seja como for, eu não poderia ser injusto se escondesse entre os erros, acertos que deixo para Deus. Relembro a História, e nela o fato em que o Papa enviou o cardeal Monfort para tratar da heresia albigense e este decretou: – “Exterminem-se todos; Deus saberá escolher os seus…”

Nada diferente da anedota que corre sobre um determinado pastor protestante que joga o dinheiro do dízimo para o ar e diz que Deus pega os dele; as notas e moedas que caem no chão “são minhas”.

Também deixo ao julgamento divino o caso da atriz negra que disse outro dia que as pessoas trocam de calçada para não olhar o seu filho. Mentira deslavada. Ninguém neste País faria isto; a aleivosia – isto não pode ser considerada denúncia – é feita para trocar a falta de talento pelo holofote do escândalo e a projeção do nome.

Deixo para o julgamento divino aquela escritora (que ninguém leu) que na avidez de um cotejo personalista improvável se compara a Lima Barreto, um mestre da escrita e do enredo.

Deixo para o julgamento divino a imprensa (aonde poucos jornalistas, novos ou antigos se salvam) “vendendo pesquisas” que todas pessoas bem informadas sabem serem compradas.

Que Deus julgue o juiz togado do STF, que na sua onipotência libertou um compadre da prisão decretada na 1ª Instância por revelar-se mafioso, corrupto e corruptor. Este meritíssimo, se vivesse anos atrás, se sentiria obrigado a se julgar impedido.

E chegando à Justiça, é impossível calar o clamor popular diante da leniência das primeira e segunda instância deixando Lula da Silva, um réu condenado por vários crimes, solto e fazendo campanha política com acusações insanas contra o juiz que o julgou.

Constatamos a dificuldade das exigências por Justiça, chegarem à Suprema Corte na sua suspeitosa vagareza para julgar e muitas vezes pelo engavetando dos processos. Não é por acaso que até hoje as declarações de Antônio Palocci, ex-poderosíssimo ministro nas gestões de Lula e de Dilma como proposta de delação premiada não foram ainda acolhidas pela Justiça.

Uma revista semanal trouxe as contundentes acusações de Palocci sobre os governos a que serviu; e mais, conta que o PT recebeu US$ 1 milhão de dólares do ditador líbio Muamar Kadafi para a campanha de Lula em 2002.

Diante disto, tudo o que se refere a Lula na vida criminosa paralela à do político, é fichinha. Ele cometeu um crime de lesa pátria receber dinheiro de procedência estrangeira na campanha eleitoral. Aliás, a traição nacional dos lulopetistas nunca foi segredo; é feito abertamente no chamado “Foro de São Paulo”.

Será um erro inominável que o STF continue a se omitir e que, junto às demais autoridades da República, civis, eclesiásticas e militares, não assuma uma punição exemplar para a traição ao País. Como ensina Freud: “De erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade”. E não quero esperar a punição divina!