28.8.17

A MULHER-BÚFALO

LUIZ ANTONIO SIMAS -


Caminhando pelas matas, o caçador viu um búfalo e preparou-se para caçá-lo. Admirado, descobriu que sob a pele do animal vivia Oyá, a senhora dos relâmpagos, capitã dos ventos de egungun. Quando Oyá escondeu a pele de búfalo no oco de uma árvore e foi para o mercado, o caçador, que a tudo assistia, roubou a pele e a escondeu no telhado de casa.

Apaixonado, o caçador foi ao mercado e pediu Oyá em casamento. Ela não aceitou. Voltando à floresta, Oyá não encontrou a pele de búfalo e desconfiou do caçador. Por astúcia, aceitou viver com ele, com a condição de que ninguém na casa do caçador mencionasse o seu segredo. Exigiu ainda que, naquela casa, a casca de dendê nunca fosse usada para alimentar o fogo em que o inhame era cozido.

Deste casamento, Oyá teve nove filhos. As demais mulheres do caçador resolveram descobrir o mistério de Oyá. Uma delas embebedou o marido com o vinho de palma. O caçador revelou o segredo da mulher-búfalo.

No dia seguinte, assim que o homem saiu para a caçada das manhãs, as mulheres começaram a cantar, zombando de Oyá:

- Ela pode ser a mais bonita, mas a sua pele está guardada no telhado. Oyá é um animal.

Além disso, quebraram o tabu e alimentaram o fogo com as cascas do dendê.

Vendo o seu segredo revelado, Oyá subiu no telhado da casa e recuperou a pele. Enfurecida, virada em búfalo majestoso, não poupou quase ninguém daquela aldeia, começando pelo caçador. Preservou apenas a vida dos seus nove filhos.

Oyá decidiu retornar à floresta, mas sem os filhos, ainda não preparados para os perigos das matas. Com eles, todavia, deixou os seus dois chifres de búfalo, com a recomendação de que, em caso de necessidade, batessem um contra o outro. A este sinal, Oyá viria socorrê-los de imediato no cair das tardes mais bonitas.

É por isso que os chifres de búfalo fazem parte dos assentamentos de Oyá. É por isso ainda que ela os traz a tiracolo quando, ao ritmo sagrado do ilú, saído dos couros do rum, do lumpi e do lé, comanda com o seu bailado de ventania o relampejar do Tempo nos terreiros do Brasil.

Êpahei!

(texto meu a partir de dois poemas de Ifá. Abaixo, "A Senhora do Afefé", samba que fiz para Oyá, na voz do Lucio Sanfilippo) * Via facebook