25.7.17

DESINDUSTRIALIZAÇÃO E AGRONEGÓCIO

HÉLIO DUQUE -


No cenário mundial os países que alcançaram pleno nível de desenvolvimento priorizaram ao máximo o investimento em educação, infraestrutura e inovação tecnológica. É um tripé que aponta o caminho do futuro. A partir da Revolução Industrial, a emergência de países desenvolvidos se sustentou na modernização econômica e social. O Brasil foi ao longo da sua formação e estendendo-se a tempo presente, exemplo negativo dessa realidade. Retardatário no processo de modernização, a partir de 1930 até a década de 80, teve relativo êxito na substituição de importações, atingindo taxas de crescimento que o colocaram entre 1950 e 1980, entre os países que mais cresceram no mundo.

Nas últimas décadas, viu o processo de industrialização se reduzir drasticamente, como aponta o IBGE. São vários os fatores que determinaram o regressionismo. A falta de competitividade, garantido pelo protecionismo estatal, subsidiando privilegiadores e capitalismo de compadrio, travaram a marcha modernizante. A velha estrutura de economia fechada obstaculizou rota evolutiva impedindo a emergência de uma realidade nova e competitiva. O professor Harry West, do MIT (Massachusetss of Technology), ensina: “Educação, infraestrutura, são bases fundamentais para o desenvolvimento, gerando inovações produtivas, vale dizer tecnologia.” O grande salto do Japão e da Coréia do Sul na escala do desenvolvimento, nas últimas décadas, teve nesses ensinamentos a garantia do seu deslanchar. Foi a soma do capital humano (educação e conhecimento) e capital físico (capacidade produtiva e infraestrutura) a sua base de sustentação.

No Brasil, o investimento em educação representa em 2017, 6% do PIB e na infraestrutura, somando investimentos público e privado, alcança pouco mais de 2%. Insuficientes para garantir um ritmo sustentável de crescimento. É uma anatomia de um desastre anunciado. Hoje mais de dois terços do nosso PIB é gerado pelo setor de serviços, caracterizando-se por geração de empregos, em atividades diversas, bastante heterogêneas: os serviços mercantis, respondem por 23,4%; os serviços não mercantis, por 17,4%; o setor comercial, 15,2%; e o setor financeiro por 1,2%, do total do pessoal ocupado. A fonte é o IBGE e Contas Nacionais. Já em relação ao PIB, no setor serviços os mercantis participam com 28,4%; os serviços não mercantis, com 16,5%; o setor comercial, com 7,3%; e o setor financeiro, com 6,1%.

Paralelamente, nos últimos anos, o agronegócio vem sendo o polo mais dinâmico da economia brasileira, responsável por 23% do PIB. Responde por 41% das exportações para diferentes mercados mundiais. Sem ele os reflexos da brutal recessão em que mergulhou o País, nos últimos anos, a situação seria devastadora. O extraordinário trabalho de pesquisas e introdução de tecnologias produtivas modernas, nascida na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), foi fundamental para o seu desenvolvimento. Fortalecê-lo e transformar sua presença no cenário mundial, como grande fornecedor de alimentos, é um caminho seguro. Exigindo investimentos em estradas, portos, aeroportos e energia, que garanta a sua competitividade.

A rigor, quando foi criado o BRIC (o S ocorreria anos depois com o ingresso da África do Sul), formado por Brasil, Rússia, Índia e China, analista econômico internacional contestou a formação do bloco. Excluía a Rússia e analisava que a China em uma década seria a fábrica do mundo; a Índia, a oficina pela sua elite de 200 milhões, dotada de elevada formação técnica, numa população subdesenvolvida de 1.2 bilhão; e o Brasil não poderia ser a fazenda do mundo. Hoje, na produção de “commodities”, não apenas agrícola mas nos setores de petróleo e minérios, o Brasil é um grande produtor mundial, mas não pode continuar sendo apenas um produtor de bens primários. Deveria avançar na “destruição criativa” de velhas estruturas buscando o crescimento diversificado e moderno das suas enormes potencialidades econômicas.

Comparativamente, a Petrobrás, no conjunto petróleo, gás natural e investimentos em múltiplos setores, responde, por 13% do PIB. Na exploração em águas profundas a empresa detém tecnologia pioneira em escala mundial. Na América Latina é quem mais investe na área de pesquisas tecnológicas. Na atual recessão econômica, a redução de investimentos da estatal, decorrente da corrupção e de projetos inviáveis e irresponsáveis, foi fatal para a economia nacional. A fonte da participação da estatal no PIB é o Boletim Focus, do Banco Central.

Baseado nesses exemplos de êxito, o grande desafio é enxergar o futuro com otimismo e extrair os exemplos positivos em outros setores que puderam incorporar a tecnologia e a modernidade na escala produtiva. Ao Estado é missão priorizar a educação, a infraestrutura e estimular a inovação tecnológica. Só assim o decadente setor industrial que vem perdendo força no PIB nacional poderá ter futuro no desenvolvimento brasileiro.

* Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.