Por PAULO METRI -
Os últimos acontecimentos seguiram um script com lógica irretocável levando em conta o momento mundial e as condições brasileiras. Uma nova onda neoliberal está varrendo o ocidente e, por isso, não é obra da roleta do destino assumirem as chefias de Estado ou de governo Macron, Macri, Kuczynski, Monti e Peña Nieto, e ocorrer o golpe no Brasil. Todos têm em comum, inclusive Temer, terem sido guindados ao poder com forte apoio do capital.
O sucesso de experiências mais compromissadas com a sociedade e de menor subserviência aos mercados, do início do atual século, não foram bem transmitidas para a nova geração, perdendo-se na memória dos mais velhos, cujas teses precisam ser combatidas, pensam os jovens, para que eles possam trilhar seus caminhos. Sem garantir que a opção mais atraente para a sociedade é imune a erros, ela é melhor que o liberalismo econômico.
Sinais foram emitidos pelo Fórum Econômico Mundial do que estava por vir. Não importará qual será o número da reedição do neoliberalismo, elas sempre trarão exclusão social. As agências reguladoras do mercado são retumbantes fracassos, quando vistas como órgãos para não permitir a exploração da sociedade pelas corporações, e são esplendorosos sucessos como parte do processo de ludibrio da sociedade, pois permite a espoliação sem existir reação.
O ardiloso capital sempre soube que não poderia enganar tantos durante tanto tempo, se a sociedade recebesse informações corretas. Sentiu que a mídia tinha que ser dominada para poder a sociedade também ser. Como consequência, em países com população pouco politizada, não existe mais mídia independente, que analisa os fatos, dá as diversas versões, faz projeções para o futuro, podendo até recomendar posições, mas que deixa as conclusões para seus clientes tomarem. No Brasil, a mídia tradicional ou convencional não é independente. Como consequência, muitos brasileiros estão mal informados, o que é pior do que estarem desinformados.
Trata-se de um escárnio, a nova lei do trabalho, aprovada pelo Congresso e a ser sancionada por Temer, considerando que se está no século XXI. Não existe uma pessoa honesta que a ache boa, a menos que seja um alienado político. Se for necessário criar um teste para separar os seres do bem e os maus-caracteres, sugiro uma única pergunta: “A nova lei do trabalho é boa ou má para o trabalhador?” Assim, com o poder econômico e a mídia tendenciando as eleições, e sendo a sociedade pouco politizada, ela dificilmente irá crescer.
Outra aberração social e, também, aberração jurídica e democrática, foi o Moro condenar Lula a nove anos e meio de prisão. Não vou repetir os argumentos de juristas fora da influência do capital, até porque eles estão na mídia alternativa, mas este fato é outra involução da sociedade brasileira. Finalizando a penca de infelicidades recentes, a permissão para Temer ser investigado, solicitada pela Procuradoria Geral, foi rejeitada na CCJ da Câmara.
O que estes três fatos mostram, além da proximidade das suas ocorrências, é que eles irão permitir ao capital continuar acumulando riquezas em futuro próximo. Moro se motivou para condenar Lula mais pelo seu “crime” de tirar 32 milhões de miseráveis das suas tristes condições. Se fosse bastante franco, este juiz escreveria na sentença proferida o seguinte: “Cada grupo de 3,368 milhões de miseráveis retirados da morte próxima, por governante traidor dos princípios do liberalismo econômico, merece um ano de prisão, para servir de exemplo para que ninguém mais ouse mexer na exclusão social, cuja consequente mais valia usurpada abastece nossa burguesia”.
Contudo, uma onda contra o neoliberalismo está despontando no horizonte. Tem-se o “Podemos” espanhol, a “França Insubmissa”, o novo trabalhismo inglês, com Jeremy Corbin, o Movimento Regeneração Nacional do México com Lopez Obrador e, também, Bernie Sanders, nos Estados Unidos. Mas, esta nova onda não tem a força de penetração nas massas que têm a mídia controlada e os marqueteiros pagos pelo capital.
Desta forma, se os brasileiros querem que uma onda positiva chegue ao Brasil e expulse a corja de neoliberais corruptos incrustrados em diversas das nossas instituições, só tem uma receita: ir para a rua para protestar, sabendo que só contará com a mídia alternativa. Se a massa que aderir às manifestações for expressiva, tudo será possível, inclusive eleições diretas já!
* Via e-mail. Paulo Metri é Conselheiro do Clube de Engenharia e do CREA-RJ