LUIZ ANTONIO SIMAS -
Tiradas dos meus cadernos de anotações sobre culturas brasileiras, que guardo, faço e refaço o tempo todo.
O Natal foi datado em 25 de dezembro pelo papa Julio I, em 376. No calendário católico, o Natal marca o encerramento do Advento (as quatro semanas que antecedem a celebração do nascimento de Jesus) e anuncia a Epifania (a manifestação de Cristo aos Reis Magos do Oriente).
A nossa tradição do Dia de Reis é ibérica – a festa é forte pacas na Espanha e Portugal - e manifesta-se na formação de grupos de foliões que visitam as casas com estandartes e instrumentos musicais. Munidos de violas, pandeiros, reco-recos, sanfonas, chocalhos, cavaquinhos e triângulos, os foliões entoam músicas em louvação aos Santos Reis e recebem, em troca, oferendas propiciatórias ao festejo.
Geralmente as folias formam-se em consequência de promessas feitas e graças alcançadas pela ação dos Reis. O pagamento da promessa inclui a obrigação de angariar recursos financeiros para manter uma folia por até sete anos.
Além dos músicos e cantores, muitas folias são compostas por palhaços, dançarinos e personagens das tradições locais, transformando-se em verdadeiros autos dramatúrgicos de celebração comunitária.
Os palhaços são personagens que não podem faltar nas Folias de Reis. Folia sem palhaço é fake, pode apostar. Tem uma curiosidade bacana aí. A tradição diz que a função dos palhaços é a de distrair, pelas brincadeiras, os soldados de Herodes, impedindo que eles encontrem a Sagrada da Família, que para escapar da matança dos inocentes foge para o Egito. Outra versão diz que os palhaços mascarados representam soldados de Herodes que se converteram ao cristianismo. Para fugir do castigo que isso geraria, já que Herodes teria ficado cuspindo vespa contra os convertidos, eles se disfarçam.
Nas festas e folguedos populares o que não pode faltar é comida. Veio da Europa a nossa tradição do bolo de Reis, normalmente preparado com frutas cristalizadas. Em algumas regiões de Portugal, o bolo é servido com uma fava escondida. Quem encontra a fava – ou algum outro brinde – deve ser o responsável pelo bolo do ano seguinte. Tradição similar ocorre na Itália, na França e nos países de colonização francesa. Na Espanha é hábito a criança colocar um sapato na janela (costume entre nós enraizado no Natal) com alguma oferenda aos Reis. Reza a tradição que, na manhã seguinte, o sapato amanhece com doces e presentes deixados pelos magos do Oriente.
Já a minha avó gostava de fazer a simpatia da romã. A fruta, originária da Pérsia, é presente em várias culturas com significados propiciadores da prosperidade e da fecundidade (fato provavelmente originado da sua grande quantidade de sementes). Os judeus lembram que a romã possui 613 sementes; mesmo número dos “mitzvotis”, os provérbios sagrados da Torá. O suco de romã ainda é tomado em regiões da Índia como um propiciador da fertilidade feminina. O Brasil herdou de Portugal a tradição de que devemos retirar da romã nove sementes no Dia de Reis; com rogações a Baltazar, Gaspar e Belchior. Três sementes devem ser comidas, três devem ser ofertadas e três devem viver dentro de carteiras ou bolsas onde se leva o dinheiro. A prosperidade no ano que se inicia estará garantida.
Um bom dia de Reis para todo mundo. O cancioneiro de Reis na música brasileira é vastíssimo. Aqui eu vou de Trio Parada Dura, dos grandes Creone, Barreirito e Mangabinha. Essa versão, adaptada da tradição popular pelo Mangabinha, é linda.