5.12.16

RETRATO DE UM JUDICIÁRIO MEDÍOCRE; UM PARLAMENTO ABAIXO DA CRITICA

ROBERTO MONTEIRO PINHO -


O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, acumula, em seu gabinete, 47,02% da fila de 3.298 habeas corpus que aguardam julgamento. São 1.426 habeas corpus sob sua relatoria - o mais antigo de 2008 (HC 94.189) -, segundo a estatística oficial do STF, duas vezes confirmada pelo ministro, por seu gabinete.

O segundo colocado é o ministro Luiz Fux, que tem 291 HCs sob sua responsabilidade. Ou 9,3 vezes a mais do que os 152 relatados pelo ministro Edson Fachin, o ministro que menos tem habeas corpus no gabinete, considerando-se a distribuição regular, segundo a estatística oficial do dia 25 de novembro.

Papel de embrulho...

Habeas corpus ad subjiciendum - do latim, "que tenhas o teu corpo" - é remédio jurídico previsto no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição: "Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". Qualquer pessoa física pode pedi-lo - é o "paciente", no termo processual -, contra o acusado de ferir o direito, chamado de "coator", não exige nem sequer advogado - e pode ser feito, sem nenhuma formalidade, até em papel de embrulho.

Juízes terão que se controlar e esquecer o famoso “cala boca”!

Tão logo a Câmara dos Deputados aprovou no dia 30 de novembro a inclusão de juízes e procuradores nas medidas que consideram crime o abuso de autoridade, surgiram as reações contrárias de juízes. Para os legisladores, o descontentamento era esperado. “Quando eles proferem decisões que ferem elementares direitos, apenas com base em convencimento, não admitem reações”,  confidenciou um parlamentar a esta coluna.

Reação era esperada

Coube a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, figura máxima do judiciário reagir: “A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, reafirma seu integral respeito ao princípio da separação dos poderes. Mas não pode deixar de lamentar que, em oportunidade de avanço legislativo para a defesa da ética pública, inclua-se, em proposta legislativa de iniciativa popular, texto que pode contrariar a independência do Poder Judiciário”, diz o comunicado.

VIOLAR PRERROGATIVAS DOS ADVOGADOS AGORA É CRIME.

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, por 285 votos a 72, destaque do PMDB ao projeto de lei de medidas contra a corrupção (PL 4850/16) para incluir no texto emenda do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) caracterizando como crime, por parte de juiz, promotor ou delegado, a violação de prerrogativa de advogado, com detenção de um a dois anos e multa.

A emenda também especifica que, se a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não concordar com o arquivamento de inquérito policial sobre esse crime ou o de exercício ilegal da advocacia, poderá assumir a titularidade da ação penal.

O povo de volta as ruas

O povo está de voltou neste domingo (4) as ruas do país. Os dois principais palcos das manifestações, Avenida Paulista em São Paulo (15 mil manifestantes), e Avenida Atlântica (12 mil) no Rio de Janeiro, capitanearam mais de duas centenas de manifestações que reuniram os mais variados segmentos da sociedade. Entre os movimentos que convocaram os protestos deste domingo, estão o Vem pra Rua e o Avança Brasil. Em Brasília (5 mil) pessoas foram para frente da Esplanada dos Ministérios para protestar.

A manifestações é contra a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar, com alterações, a proposta de emenda à Constituição (PEC), de autoria popular e que reuniu 2,5 milhões de assinaturas, com 10 medidas de combate à corrupção.

Juízes, políticos e promotores

Os persona non gratia são políticos, juízes e promotores. "Diga não a esse absurdo. O que o povo pedia? Prisão aos corruptos! O que eles entregaram? Prisão a juízes e promotores", "Podem até calar a Justiça, mas não podem calar a voz do povo", além de palavras de ordem como "Fora Renan", "Fora Maia" e "Viva Moro" e "Viva Marcelo Bretas", em alusão aos juízes que iniciou a Lava Jata e determinou a prisão do ex-governador Sérgio Cabral.

A maioria dos manifestantes carregam cartazes com frases como "Somos todos Sérgio Moro", "Fora Corrupção", "Estamos de olho: a Lava Jato não será sabotada", "Fim do foro privilegiado" e "Pressa do julgamento de políticos no STF".

Um Parlamento abaixo da critica

A madrugada do dia 30 de novembro ocorreu fatos inacreditáveis na Câmara dos Deputados. Os parlamentares, examinando Projeto de Lei oriundo do Ministério Público, que propunha medidas contra a corrupção, inverteram a ordem da proposta, promoveram 11 mudanças e criaram outro PL que atribui crimes de abuso de autoridade e cria regras de Penal, Processo Penal, Eleitoral, Improbidade administrativa e exercício da advocacia.