JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
A discussão já não é mais em torno de se os militares vão intervir, mas quando intervirão. Eles serão obrigados a intervir em face do total descalabro das condições sociais brasileiras determinado por um Governo que só pensa em tirar vantagem em tudo, como em outros tempos dizia o nosso craque de muitas copas, Gérson. Intervirão porque nos encaminhamos para uma convulsão social patrocinada pelo total derretimento das instituições republicanas, um Executivo corrupto, um Legislativo vendido, um Judiciário suspeito de tramoias, e um Ministério Público que denuncia seletivamente.
É demais. Os militares intervirão, malgrado a experiência terrível de uma ditadura que muitos de nós vivenciamos, porque a superestrutura política derreteu. Como imaginar que a Câmara formada ao gosto de Eduardo Cunha venha a ter algum papel na regeneração da República? Como esperar que o Executivo que patrocinou o petrolão possa ser um referência de moralidade? Como ver no STM um ponto de equilíbrio quando seus ministros agridem uns aos outros com objetivos claramente escusos? E como levar a sério um Ministério Público que atua seletivamente escolhendo a dedo seus denunciados por vaidade ou oportunismo?
O que o povo quer é submeter a superestrutura da República a uma varredura completa, expulsando os vendilhões do templo. Isso, infelizmente, não se faz fora do contexto de uma ditadura. Nosso problema, portanto, não é quando e como ela vem, mas como e quando ela deve sair de cena. Esse é que deve ser nossa preocupação prioritária: os militares assumirão o poder em decorrência de uma convulsão social que está à nossa porta, ou que já entrou por ela, e temos que fazer os nossos melhores esforços políticos para tornar sua entrada breve, porém eficaz. Em outras palavras, não pode ser 64.
Creio que os comandantes militares sabem disso, embora alguns poucos deles gostariam de uma ditadura clássica. Que não se atrevam. A crise econômica e social é profunda demais para que possa ser solucionada pela simplicidade de uma quartelada. Se intervierem e ficarem no poder, levarão a carga da maior crise de nossa história, em todos os níveis, e isso não será solucionado por generais. Muito provavelmente levaria à divisão das Forças Armadas e a um conflito fratricida, do tipo desejado pelo Departamento de Estado americano com suas revoluções coloridas e violadora de soberanias nacionais.
Não temos que preocupar sobre como os militares entrarão no jogo político. Entrarão de qualquer maneira na medida do risco ou da efetivação de uma convulsão social. Temos de nos preocupar, como observado acima, sobre como eles vão sair. Nesse ponto, será essencial uma articulação dos comandantes militares com o que subsiste de honrado e honesto no Parlamento e no STM. Objetivamente, é preciso uma intervenção cirúrgica, sob o comando de um líder civil respeitado nas Forças Armadas, para fazer um trabalho de profilaxia da superestrutura da República simultaneamente à convocação de eleições gerais em três meses.
Sei que muita gente que carrega o trauma do golpe de 64 não gosta desse tipo de solução. Desafio-a a oferecer uma alternativa melhor. Fazer eleições diretas sem prévia limpeza da sujeira que penetrou as instituições republicanas é construir sobre o lodo. Colocar o sistema político sob o controle das massas, como querem os anarquistas, é pura estupidez. A democracia é um ótimo sistema, mas tem fragilidades. Potências estrangeiras, avaras em relação ao pré-sal e contrárias à nossa articulação no BRICS, aproveitam-se dessa fragilidade.
Se ainda houver escrúpulos, que se remeta à origem remota da democracia moderna, a república de Atenas. Em situações de risco, a cidadania indicava um estratego com poderes absolutos para enfrentar a crise. Na Roma senatorial o poder, nas mesmas condições, era entregue a um ditador – palavra que, na época, não tinha o sentido pejorativo de hoje. Superada a crise, o ditador entregava o poder ao Senado, envergonhado de tê-lo exercido. Portanto, se essa história tiver de ser repetida no Brasil, devemos simplesmente saudá-la.
Há uma condição para o sucesso dessa alternativa sem guerra civil. Quem assumir o poder deve ter um receituário imediato para atacar a crise econômica, origem da crise social e política. Isso não é difícil. Os neoliberais nos impingiram a ideia de que temos uma crise gigantesca e não sairemos dela nem dentro de vinte anos. Pois vou apresentar as cartas dos progressistas: em um mês será possível reverter totalmente as condições da economia brasileira e deslanchar o processo de recuperação do PIB e de geração de emprego e renda sem qualquer efeito colateral.