JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
O poder civil corrompido em todos os níveis – Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público – acaba de lançar um repto às Forças Armadas, instituição que se mantém afastada do festival de podridão da República, na forma de uma conspiração para liquidar com o esforço brasileiro, através da Odebrecht, para a construção de um projeto de defesa nacional apoiado em tecnologia interna. A empresa foi colocada sob investigação “irrestrita” do Departamento de Justiça norte-americano num acordo de leniência feito lá fora com o suporte dos promotores e do juiz da Lava Jato sob a falsa cobertura da luta contra a corrupção.
Não por acaso a Odebrecht, maior empresa privada brasileira, é a operadora do contrato de construção do submarino nuclear, com tecnologia partilhada com a França, assim como de projetos de mísseis de características altamente tecnológicas. Não somos inimigos dos EUA. Acontece que os EUA consideram inimigos todos os países que não se comportam como seus vassalos. Nesse caso, corrompem, ajudam a corromper e criam as condições para que os vendilhões da pátria assumam o poder. Acuso Temer de ser um capacho americano, ele e a quadrilha que o cerca, todos apressados em cometer os maiores crimes contra o povo.
O povo não sabe, mas a arma norte-americana preferida para derrubar governos não subservientes não é apenas intervenção militar – como no Iraque, Líbia, Yemen, Egito, Síria –, mas sobretudo a manipulação de denúncias de corrupção através de uma mídia comprada. Corrupção da qual o capitalismo americano é o maior mestre do mundo, inclusive nas gigantescas operações de fraude em contratos do Departamento de Defesa. Aí se rouba até no fornecimento de coca cola. Os “fiscais” contra a corrupção não mexem, porém, nos regimes que são seus vassalos. Quase ninguém fala em corrupção no Canadá, será que são anjos?
Se as Forças Armadas não derem um ultimato a Temer para que o Governo intervenha na Odebrecht e crie, a partir dela, uma Odebrecht Brasil, que venha a ser a detentora das parcerias dos projetos do submarino nuclear e dos mísseis, com seus segredos industriais intocados, começarei a acreditar que são uma instituição cara demais por ser inútil. Seria o caso de os vendilhões da pátria fazerem logo acordo com o Departamento de Justiça norte-americano para transformar nossas Forças num Departamento Verde e num Departamento Azul do Pentágono. Ficaria mais barato para o país, na forma como exigem os neoliberais.
Sei dos escrúpulos de oficiais superiores em não interferirem no processo político. Um deles me esclareceu a posição oficial: não intervir a não ser em condição de sublevação social e guerra civil. Pois estamos nos aproximando disso. Na verdade, a intervenção que o Exército não quer fazer o juiz Sérgio Moro já fez, avacalhando com o sistema jurídico nacional. O Judiciário está em conflito interno, não pode intervir em nada. O mesmo acontece com o Legislativo. A Lava Jato se revelou um braço operacional do Departamento de Estado americano, com as idas e vindas Washington do seu juiz e dos seus promotores.
Acuso, mais uma vez, a quadrilha de Temer por degradar junto com os outros poderes apodrecidos as instituições republicanas. Ou reagimos, ou nos tornamos colônia formal americana, já que nos transformaram numa colônia informal. Alguns ingênuos podem pensar que a imputação aos EUA da razão principal de nossa crise é um exagero conspiratório. Pois bem, o que os EUA querem é negócio, negócio fácil e negócio rendoso. No campo da Defesa, porém, as empresas norte-americanas estão proibidas de transferir tecnologia pelo Senado. E o Brasil exige transferência de tecnologia em seus contratos de defesa.
Essa exigência brasileira é inaceitável para o Departamento de Estado. A propósito, estou louco para ver na prática como isso vai funcionar sob Donald Truman. Ele quer as empresas norte-americanas de volta a casa. Isso é um movimento lógico de qualquer governo nacionalista. Será que os neoconservadores-neoliberais da quadrilha belicista Bush-Clinton vão deixar? Se for derrotada pelo pragmatismo de Trump, e se organizarmos nossa vida política no Brasil sob a bandeira nacionalista, muito certamente vamos partilhar do mundo novo prometido por Trump, Papa Francisco, Putin e Li Keqiang!
