10.12.16

A CORRUPÇÃO INSTITUCIONALIZADA EM PLENA PRAÇA DOS TRÊS PODERES

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


A Praça dos Três Poderes virou uma praça de negócios. Não demora muito e vai virar uma praça de guerra. Em pleno reinado do onipotente Sérgio Moro, que acha ter sido enviado por Deus para acabar com a corrupção no país, nunca se viu tamanho exercício de corrupção a céu aberto, envolvendo Executivo, Legislativo e Judiciário. Todos, ou quase todos se vendem e quase todos se compram. E para que não me entendam mal, não falo de corrupção por seu efeito econômico, que é mínimo, mas de corrupção como prática de venda de consciências que comprometem a elaboração e a aplicação das leis.

Alguém acredita que Temer tem maioria “limpa” de mais de 400 deputados na Câmara? Alguém pode achar que tenha maioria “limpa” de mais de dois terços no Senado? Traz o governo Temer uma mensagem de esperança tão grande que tenha convencido a maioria dos parlamentares da eficácia de seu governo? Desculpem-me, mas não sou idiota. E espero que o povo, parando um pouco para pensar à margem da manipulação de mídia, também não o seja. Manipulando cargos e privilégios, e fazendo exatamente o que se faz no Brasil há décadas, o governo Temer simplesmente está
comprando essas maiorias.


Também não acredito que todos sejam corruptos no Parlamento. Há uma parcela que, por falta de conhecimentos econômicos, se vê forçada a acreditar no governo quando ele diz que não há alternativa aos seus planos, notadamente, agora, o plano embutido na PEC-55 – conhecida como PEC do Teto de Gastos pelos seus apoiadores e como PEC da Morte pelos contrários. Esses parlamentares, que não tem culpa por não conhecer economia, deveriam ser esclarecidos pelos que conhecem. Entretanto, muitos desses últimos estão mais empenhados em defender o governo anterior do que ver os grandes furos do atual acima de ideologias.



Há, portanto, culpa dos dois lados quando se examina essa crise de proporções monumentais. O lado do governo propõe o absurdo, a construção de um Estado sem serviço público em 20 anos. O lado da oposição ainda se preocupa em defender o mandato de Dilma. Minha proposta tem sido, simplesmente: o que está feito está feito. Combati o impeachment, mas o resultado do impeachment, que é um dado da realidade, não pode ser ignorado. Pois então apaguemos o farol de ré e levantemos farol alto: temos que olhar para a frente, superar a “merda” política em que a elite dirigente legislativa, executiva e judiciária nos meteu.


Aceitar o resultado do impeachment não significa abandonar a ideia de que, para a volta do país à plena normalidade, temos que realizar eleições limpas a fim de encontrar um sucessor que enfrente a crise,econômica e a crise política. Difícil?, sim. Mas impossível, não. Sob pressão da opinião pública mesmo a parte corrupta do Parlamento entenderá que terá de ceder alguns anéis para salvar os dedos. Do contrário, esses parlamentares pusilânimes serão os primeiros a parar no poste como as vítimas do Terror na Revolução Francesa. Alguns me acusam de fazer terrorismo. Prefiro a semântica do terrorismo ao terror nas praças e ruas.


Nenhum fundamentalismo deve prevalecer quando a Nação está em risco profundo. Nem mesmo o fundamentalismo do rito democrático. Se for para salvar a pátria, e caso Temer caia, o Congresso pode encontrar um caminho assimilável pela opinião pública mesmo na forma de eleição indireta. A fórmula que tenho proposto, para escapar de uma situação de extrema divisão social que seria inevitável numa eleição direta, é realizar eleição indireta, negociada, tão logo Temer caia – pois ele evidentemente vai cair, com ou sem PEC -, e legitimar imediatamente essa eleição através de um referendo popular.



Difícil?, sim. Mas é mais fácil do que aceitar a fatalidade de uma convulsão social que, inevitavelmente, levará a uma ditadura militar. Até aqui, os militares tem-se comportado de forma impecável. Observam a situação, como lhes compete. Na hipótese de uma convulsão, porém, eles terão que intervir por dever de ofício pois não podem, de forma inerte, ver a nação consumir-se numa guerra civil. Entretanto, uma vez instalados no poder, os militares entrarão numa dinâmica própria, também se dividindo, seguindo o curso de 64 que supostamente começou para “defender” a democracia e acabou no AI-5 e no terror do Estado.