CARLOS CHAGAS -
Foi fulminante a primeira metade da denúncia do procurador Deltan Dallagnol contra o Lula, na medida em que referiu-se a ligações do ex-presidente da República com os principais participantes e beneficiados do maior assalto aos cofres públicos de nossa História.
O problema é que na segunda metade, na hora da apresentação das provas de envolvimento do primeiro-companheiro em atos de corrupção, a peça acusatória transformou-se numa tertúlia imobiliária. Se o Lula tiver a prisão decretada, será por conta de sofisticados armários de cozinha e azulejos de luxo acrescentados a um triplex destinado a ele, e família, do qual acabou renunciando.
Citado seis vezes como general comandante máximo, mentor, ápice da piramide da corrupção, maestro da orquestra criminosa e chefe da corrupção, o Lula responderá por uma denúncia imobiliária limitada a 3 milhões e 700 mil reais. Em torno dele e da quadrilha que supostamente chefiava, tem gente que desviou e roubou bilhões. Poucas vezes se pode imaginar um chefe tão condescendente com seus asseclas.
Numa palavra, estão evidentes ligações espúrias do ex-presidente com empreiteiras, vilões e aproveitadores do PT e adjacências, mas, no reverso da medalha, nenhuma prova conclusiva surgiu, de alta corrupção.
Fica claro o fator oculto nessa equação que acaba de abalar o país: pretendem impedir o Lula de disputar a presidência da Republica em 2018. Será por temerem sua vitória?
Um apartamento no Guarujá, recebido e depois devolvido, pode configurar ilícito penal, apesar de inferior a milhares de mansões, fazendas e até ilhas particulares habitadas pelas elites empresariais. Montes de presentes recebidos durante seus dois mandatos ficaram guardados anos a fio em depósitos de uma empreiteira, hoje sob guarda do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Bastariam para justificar o impedimento de uma candidatura?
Se querem afastar o Lula, terá de ser com algo bem mais substancioso do que denúncias imobiliárias.