7.8.16

POESIAS: AQUIAGORA; QUANDO ...

MARCELO MÁRIO DE MELO -


QUANDO ...
Quando na arte poética, além de sentimentos, encantos, espantos, passamos a ter o domínio de um tema; e ao tecemos em fios de erotismo uma figura humana, não confundimos a atração pelo belo com intentos de sedução e relação.
Quando além do prazer imediato do depois, sabemos ponderar nas nossas atitudes as repercussões no pós-depois.
Quando conseguimos contar de um até dez e controlar o ato impulsivo e precipitado.
Quando aprendemos a dizer não com mansidão.
Quando estabelecemos os limites na arte de engolir sapos.
Quando temos amizade íntima com pessoas do sexo “oposto”, sem passar às raias da sensualidade;
Quando mantemos a fidelidade ao ser amado, sob atração e tentação.
Quando, em condições adversas, mantemos a coerência entre o discurso e a prática e rejeitamos acomodações e vantagens oferecidas.
Quando mantemos a radicalidade e a contundência na defesa de nossas convicções e propostas, sem ofender aos que a elas se oponham.
Quando não confundimos a afirmação da nossa identidade em todas as linhas, com o sentimento de orgulho e superioridade em qualquer sentido
Quando assumimos posturas públicas movidos pela substância e a convicção, e não pela pose ou para agradar a personalidades, grupos, entidades, plateias, segmentos, maiorias, minorias
Quando sabemos persistir, sem, aderir, na condição de oposição, minoria ou isolados
Quando conseguimos preservar a amizade e o afeto em meio às mais profundas divergências teóricas e propositivas, notadamente, no terreno da política.
Quando não caluniamos e demonizamos os inimigos políticos, nem acobertamos e santificamos os amigos.
Quando nos orientamos politicamente sob o fundamento de idéias programáticas e interesses republicanos de cidadania, e não movidos pelo espírito de grupo, seita ou torcida organizada.
Quando diante de um confronto incontornável tomamos a iniciativa do ataque
Quando sabemos recuar e esperar sem esmorecer.
Quando julgamos a nós e aos outros pela mesma bitola.
Quando sabemos valorizar, reconhecer e recolher, na vida e nas atitudes das pessoas, porções equivalentes a 1%, em meio a 99% que possamos rejeitar.
Quando reconhecemos erros e pedimos desculpas.
Quando reorientamos nossa conduta no sentido de não repetir erros cometidos.
Quando sabemos perdoar e aprendemos a nos perdoar, libertando-nos do sentimento de culpa como espécie de prisão perpétua mental.
Quando começamos a cuidar da nossa saúde, e não apenas a tratar das nossas doenças.
Quando incorporamos como alimento, não somente a comida, mas o sono, o repouso, a atividade física, o lazer, a criatividade, o convívio, a doação, a expressão da indignação e do carinho.
Quando atentamos em fazer as coisas concentradamente, uma a uma, no ritmo da nossa respiração.
Quando sabemos reconhecer com serenidade as marcas e as responsabilidades do envelhecimento.
Quando colocamos em pauta os tratos da morte, ante as vias do envelhecimento, da doença ou da circunstância.
Quando procedemos assim estamos fincando marcos de maturidade.

***


AQUIAGORA
Viver o aqui e agora
atento à respiração 
cada coisa em seu momento
o começo a conclusão
água do rio ao mar
elo de olho e mão.

Antes fica para trás
depois vai acontecer
agora é tempo insurgente
para plantar e colher
quem perde a noção da hora
soterra seu florescer.
Vamos viver o presente
nos toques na pulsação
não somos donos do tempo
ruímos na dispersão
os frutos do amanhã
nascem da germinação.
Regar o nosso canteiro
e cuidar da nossa cria
prever o passo adiante
sem furor nem agonia
assim como sol que nasce
e se põe ao fim do dia.
Olho disperso e ausente
desfocado do instante
gera trilha distorcida
descaminho desandante
saldo de sonho sem ninho
ave sem rumo errante.
O passo dado não volta
a vida não tem replay
a areia da ampulheta
só desce: é a sua lei
cada momento é um grão
correndo no tempo-rei.
Concentrar-se no instante
olho ouvido passo mão
estrada de chão e nuvem
corpo e mente em comunhão
surfar nas ondas do tempo
águas do sim e do não.