MARCELO MÁRIO DE MELO -
QUANDO ...
Quando na arte poética, além de sentimentos, encantos, espantos, passamos a ter o domínio de um tema; e ao tecemos em fios de erotismo uma figura humana, não confundimos a atração pelo belo com intentos de sedução e relação.
Quando além do prazer imediato do depois, sabemos ponderar nas nossas atitudes as repercussões no pós-depois.
Quando conseguimos contar de um até dez e controlar o ato impulsivo e precipitado.
Quando aprendemos a dizer não com mansidão.
Quando estabelecemos os limites na arte de engolir sapos.
Quando temos amizade íntima com pessoas do sexo “oposto”, sem passar às raias da sensualidade;
Quando mantemos a fidelidade ao ser amado, sob atração e tentação.
Quando, em condições adversas, mantemos a coerência entre o discurso e a prática e rejeitamos acomodações e vantagens oferecidas.
Quando mantemos a radicalidade e a contundência na defesa de nossas convicções e propostas, sem ofender aos que a elas se oponham.
Quando não confundimos a afirmação da nossa identidade em todas as linhas, com o sentimento de orgulho e superioridade em qualquer sentido
Quando assumimos posturas públicas movidos pela substância e a convicção, e não pela pose ou para agradar a personalidades, grupos, entidades, plateias, segmentos, maiorias, minorias
Quando sabemos persistir, sem, aderir, na condição de oposição, minoria ou isolados
Quando conseguimos preservar a amizade e o afeto em meio às mais profundas divergências teóricas e propositivas, notadamente, no terreno da política.
Quando não caluniamos e demonizamos os inimigos políticos, nem acobertamos e santificamos os amigos.
Quando nos orientamos politicamente sob o fundamento de idéias programáticas e interesses republicanos de cidadania, e não movidos pelo espírito de grupo, seita ou torcida organizada.
Quando diante de um confronto incontornável tomamos a iniciativa do ataque
Quando sabemos recuar e esperar sem esmorecer.
Quando julgamos a nós e aos outros pela mesma bitola.
Quando sabemos valorizar, reconhecer e recolher, na vida e nas atitudes das pessoas, porções equivalentes a 1%, em meio a 99% que possamos rejeitar.
Quando reconhecemos erros e pedimos desculpas.
Quando reorientamos nossa conduta no sentido de não repetir erros cometidos.
Quando sabemos perdoar e aprendemos a nos perdoar, libertando-nos do sentimento de culpa como espécie de prisão perpétua mental.
Quando começamos a cuidar da nossa saúde, e não apenas a tratar das nossas doenças.
Quando incorporamos como alimento, não somente a comida, mas o sono, o repouso, a atividade física, o lazer, a criatividade, o convívio, a doação, a expressão da indignação e do carinho.
Quando atentamos em fazer as coisas concentradamente, uma a uma, no ritmo da nossa respiração.
Quando sabemos reconhecer com serenidade as marcas e as responsabilidades do envelhecimento.
Quando colocamos em pauta os tratos da morte, ante as vias do envelhecimento, da doença ou da circunstância.
Quando procedemos assim estamos fincando marcos de maturidade.
***
AQUIAGORA
Viver o aqui e agora
atento à respiração
cada coisa em seu momento
o começo a conclusão
água do rio ao mar
elo de olho e mão.
atento à respiração
cada coisa em seu momento
o começo a conclusão
água do rio ao mar
elo de olho e mão.
Antes fica para trás
depois vai acontecer
agora é tempo insurgente
para plantar e colher
quem perde a noção da hora
soterra seu florescer.
depois vai acontecer
agora é tempo insurgente
para plantar e colher
quem perde a noção da hora
soterra seu florescer.
Vamos viver o presente
nos toques na pulsação
não somos donos do tempo
ruímos na dispersão
os frutos do amanhã
nascem da germinação.
nos toques na pulsação
não somos donos do tempo
ruímos na dispersão
os frutos do amanhã
nascem da germinação.
Regar o nosso canteiro
e cuidar da nossa cria
prever o passo adiante
sem furor nem agonia
assim como sol que nasce
e se põe ao fim do dia.
e cuidar da nossa cria
prever o passo adiante
sem furor nem agonia
assim como sol que nasce
e se põe ao fim do dia.
Olho disperso e ausente
desfocado do instante
gera trilha distorcida
descaminho desandante
saldo de sonho sem ninho
ave sem rumo errante.
desfocado do instante
gera trilha distorcida
descaminho desandante
saldo de sonho sem ninho
ave sem rumo errante.
O passo dado não volta
a vida não tem replay
a areia da ampulheta
só desce: é a sua lei
cada momento é um grão
correndo no tempo-rei.
a vida não tem replay
a areia da ampulheta
só desce: é a sua lei
cada momento é um grão
correndo no tempo-rei.
Concentrar-se no instante
olho ouvido passo mão
estrada de chão e nuvem
corpo e mente em comunhão
surfar nas ondas do tempo
águas do sim e do não.
olho ouvido passo mão
estrada de chão e nuvem
corpo e mente em comunhão
surfar nas ondas do tempo
águas do sim e do não.