Por ALTAMIRO BORGES - Via blog do autor -
Foto: Jornalistas Livres. |
No final da tarde desta terça-feira (3), centenas de estudantes secundaristas ocuparam a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Eles exigem a imediata instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o desvio de milhões de reais da merenda escolar. Segundo inúmeras denúncias, o próprio presidente da Alesp, deputado Fernando Capez - que adora desfilar nas marchas golpistas "pela ética" - seria um dos líderes do esquema mafioso. Diante da falta de transparência de Geraldo Alckmin - que governa com base em documentos sigilosos -, da subserviência da maioria dos deputados estaduais - que sempre sabotou CPIs para investigar os crimes tucanos -, e do silêncio do Judiciário paulista - que parece um biombo do PSDB -, os estudantes resolveram agir, numa ação ousada e combativa. De imediato, o governador tucano-fascista acionou a tropa de choque da PM.
Na véspera da medonha votação do impeachment de Dilma na Câmara Federal, uma foto que vazou na internet mostrou um dos integrantes da "máfia da merenda" contando maços de dinheiro. Carlos Luciano Lopes, ex-vendedor da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), devia estar feliz com a impunidade dos criminosos que furtaram milhões de reais em contratos superfaturados da merenda escolar com o Palácio dos Bandeirantes. Ao que parece, porém, ele é só um bagrinho em um esquema milionário, que envolve o governo tucano e 22 prefeituras. Sua felicidade durou pouco e ele foi preso em 19 janeiro passado. Em sua delação premiada, Luciano Lopes confessou que o roubo beneficiou vários tucanos de alta plumagem, incluindo secretários de Alckmin e o presidente da Alesp.
Conforme relato da Folha, "em depoimento à Polícia Civil de Bebedouro em janeiro, Luciano Lopes apontou Capez, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, como um dos beneficiários do esquema de pagamento de propina em contratos superfaturados de merenda". O deputado também foi citado por outros presos na segunda etapa da Operação Alba Branca. "Em delação premiada, o lobista Marcel Ferreira Julio, que atuava para a Coaf, disse que se encontrou duas vezes com Capez em 2014. Em um dos encontros, disse ter visto Capez ligar para a Secretaria de Estado da Educação para agilizar um contrato da Coaf e, em seguida, sinalizar que queria dinheiro para sua campanha".
Outro detido, Luiz Carlos Santos, o Português, revelou à polícia que a Coaf emprestava um veículo para um ex-assessor do presidente da Alesp. "Segundo seu advogado, César Andrade Correia, no depoimento Santos disse que ele foi, a pedido, buscar em São Paulo um veículo emprestado pelo presidente da Coaf ao ex-assessor de Capez Jéter Rodrigues. 'Ele havia ouvido, dentro da Coaf, que esse veículo estava emprestado para um assessor do Fernando Capez, o Jéter, para uso pessoal do Jéter. Ele só estava emprestado, porém não era mantido pela cooperativa. Devia ser mantido pelo próprio Jéter', disse o advogado".
Até agora, a polícia prendeu somente os "bagrinhos" da Coaf. Fernando Capez segue livre e solto, fazendo discursos cínicos contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma. Assessores e secretários de Geraldo Alckmin, também citados na Operação Alba Branca, também continuam impunes. E a mídia chapa-branca, banhada com milhões em publicidade oficial, nem toca no nome do "picolé de chuchu" que ainda governa São Paulo. No outro extremo, as escolas públicas têm suas salas de aula fechadas e não contam com uma merenda digna. A ocupação da Alesp - o refúgio dos mafiosos - é uma resposta digna a estes e outros desmandos do tucanato paulista e merece total solidariedade.