ALCYR CAVALCANTI -
"Super-escolas
de Samba SA, Super Alegorias,
Escondendo
Gente Bamba, Que Covardia"
(Samba do Império Serrano 1982 de Arlindo
Machado)
O Carnaval carioca é a maior festa popular do mundo. Não
depende das câmeras de televisão, nem dos arroubos de governantes que só
aparecem nas quadras e nos desfiles para conseguir votos e enganar eleitores
que ainda acreditam em promessas que jamais serão cumpridas. Este ano foi o
"Carnaval da Vaquinha" em que o famoso "livro de ouro" foi
passado para conseguir botar o bloco nas ruas. Na Folia de Momo tudo pode
acontecer, inclusive escolas que gastaram o que puderam e o que não puderam
para seus cento e poucos minutos de fama, por meio das objetivas mágicas
das câmeras de TV.
![]() |
| O "Maior Show da Terra" segundo patrocinadores. |
O "choque de ordem" que o prefeito quis impor aos
foliões é de uma perfeita inutilidade, o carnaval carioca é a expressão do
caos, que se auto organiza, onde tudo se confunde em uma perfeita
inversão: homens se vestem de mulheres, adultos de crianças, crianças de
super-heróis, pessoas comuns em figuras famosas, onde em muitas ocasiões existe
uma anulação entre as barreiras entre as classes e categorias sociais, embora
de maneira efêmera. Nas escolas de samba, pelo menos nos dias de hoje essa
comunhão que é o verdadeiro espírito do carnaval não tem acontecido, as escolas
de samba se transformaram em "Super-Escolas de Samba SA" conforme o
inesquecível samba do Império Serrano com alegorias imensas e destaques
fantasiosos fruto do delírio de carnavalescos alucinados, em que apenas
com muito capital é possível desfilar no Sambódromo. Se não for assim o
jeitinho é desfilar na Intendente Magalhães.
![]() |
| Muito esforço para o desfile de alguns minutos de fama. |
Mas nos últimos anos uma emissora de TV monopolizou o desfile
das escolas de samba e tem determinado o horário, número de componentes e o
tempo do desfile, que mais parece uma correria desenfreada. Escolas que
investiram milhões de reais para uma apresentação relativamente
pequena estão se sentindo prejudicadas, a transmissão das primeiras
escolas como sexta feira no Grupo de Acesso a Acadêmicos da Rocinha e uma
das mais tradicionais no "Grupo de Elite" a Estácio de Sá, que já foi
São Carlos, não aconteceu, deixando todo mundo a ver navios, a blasfemar
contra a emissora do Jardim Botânico. Conversei com um dos diretores da
Rocinha que contou as imensas dificuldades de colocar com dignidade uma das
mais jovens grandes escolas na Marquês de Sapucaí. A "dona da
transmissão" optou por levar a milhões de espectadores as desventuras dos
"heróis" da novela das oito, que agora é levada ao ar às nove ou a
triste exibição do teatrinho do "Big Brother" em sua centésima
edição. Mais uma "bola fora" da emissora de TV que detém os direitos
exclusivos de exibição e segue a fria lógica da economia de mercado, cuja
essência é a acumulação de capital em que a máxima é "que o povo se
exploda" conforme o jargão usado pelo comediante. Mas nem assim vão
conseguir acabar com o tradicional e irreverente espírito dos carnavalescos da
cidade que brincam o carnaval sob as bênçãos do padroeiro São Sebastião ou de
São Jorge-Ogum que abençoou não só a Estácio São Carlos mas todos os
verdadeiros filhos da folia, que só querem se divertir para esquecer as
dificuldades do dia a dia.




