EMANUEL
CANCELLA -
O acordo de
Leniência foi criado nos EUA, em 1978. Por esse acordo as empresas envolvidas
em corrupção, formação de cartéis, etc., que colaboram com a justiça, têm
redução na pena e outros benefícios. Vamos entender os outros benefícios.
O mundo
assistiu à quebradeira americana em 2008, quando aquela economia, baseada no
livre mercado e tida como a mais sólida do mundo, ruiu. Empresas- símbolos dos
EUA, como o Citibank e a poderosa GM, quebraram.
O que fez o governo americano? Traiu o ideário liberal, intervindo nas
empresas. O governo injetou trilhões de dólares, dinheiro público para salvar
empresas privadas. Fez isso para manter a imagem das empresas-símbolos do país
e, principalmente, para salvar o emprego dos trabalhadores ligados a essas
organizações.
O mundo se
espantou com a mudança de postura do governo americano. Quem sempre pregou que
o livre mercado pode tudo, por que injetaria dinheiro público para salvar
empresas privadas?
Retornando
ao Brasil de 2015. Pela primeira vez, corruptos e corruptores estão indo para a
cadeia e o dinheiro adquirido pela corrupção, voltando aos cofres públicos. É
sabido que a corrupção é irmã siamesa do capitalismo e, lamentavelmente, atinge
desde a relação do guarda de trânsito com o motorista até o executivo da mais
alta esfera de empresas poderosas como a Petrobrás.
Ninguém tem
dúvida da existência de corrupção na Petrobrás. Já na ditadura militar, o
ex-ministro de Minas e Energia e também ex-presidente da Petrobrás, Shigeaki
Ueki, era apontado como recebedor de propina por cada barril de petróleo que a
Petrobrás comprava. Isso nunca foi investigado!
No governo
de Fernando Henrique Cardoso (FHC), a corrupção corria solta. Certas empresas,
como a Marítima, ganhavam todas as concorrências para construção de
plataformas, apesar de estarem envolvidas com inúmeras denúncias. O reinado da
Marítima só terminou em 2001, com acidente na P-36, que resultou na morte de 11
trabalhadores. O estranho afundamento da plataforma, trazendo um prejuízo
exorbitante, foi apontado por muitos como criminoso. Uma espécie de queima de
arquivo.
FHC colocou
o ex-genro para dirigir a Agência Nacional de Petróleo, David Zilberstein. Uma
das marcas de seu governo foi a prática de engavetar denúncias. Nem é preciso
lembrar que nada foi investigado sobre as irregularidades na Petrobrás.
Mas, desde o
ano passado, assistimos a uma devassa na Petrobrás. A Operação Lava Jato
completou um ano em março de 2015. Já escândalos levantados no mesmo período,
como o Zelotes, Swssleaks, Fifa, Trensalão, que envolvem valores muito maiores
que os da Petrobrás, têm a investigação protelada. A revista Carta Capital
chegou a publicar que o escândalo conhecido como Zelotes envolve valores quatro
vezes maiores que o da Petrobrás.
Por que o
juiz Sérgio Moro não denuncia os tucanos envolvidos e citados em delação
premiada na Operação Lavo Jato? Por que a Justiça se cala, apesar de inúmeras
denúncias, diante dos escândalos no governo FHC? Aliás, já no mensalão (AP
470), em que Moro também atuou, os tucanos foram poupados e seus crimes estão
prescrevendo.
Os
empregados da Petrobrás apoiam as investigações visando punir os agentes da
corrupção. Torcem para que corruptos e corruptores permaneçam na cadeia. Mas a
pergunta que não quer calar é: “Por que só a Petrobrás?”
O Brasil é o
segundo parque de obras do planeta, só perdendo para a China. É a Petrobrás,
com os impostos que paga, que financia 80% dessas obras (PAC).
É
inaceitável que Moro não defenda os acordos de Leniência que assegurariam a
continuidade das obras do PAC, como fez o governo americano. A implementação da
leniência impediria o fechamento de estaleiros, de fábricas de sondas, e,
principalmente, a manutenção dos empregos e o sustento das famílias de milhares
de trabalhadores. A declaração do principal procurador da força tarefa da
Operação Lava Jato, Carlos Fernando Lima é contundente: “ A CGU foi feita para
controlar corrupção de funcionários, não para ser salvadora do emprego. Se o
governo quer criar um Proer, que faça no lugar certo, que é o Congresso”.
Como o Juiz
Sérgio Moro estudou nos EUA, ou ele e sua equipe são incompetentes e não
aprenderam nada, ou agem de má fé, pois parar a Petrobrás é parar o Brasil.
Quem quer
parar o Brasil, a que interesses serve?
*Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio
de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).



