19.8.15

JUIZ SÉRGIO MORO AGE MOVIDO POR INCOMPETÊNCIA OU MÁ FÉ?

EMANUEL CANCELLA -

O acordo de Leniência foi criado nos EUA, em 1978. Por esse acordo as empresas envolvidas em corrupção, formação de cartéis, etc., que colaboram com a justiça, têm redução na pena e outros benefícios. Vamos entender os outros benefícios.

O mundo assistiu à quebradeira americana em 2008, quando aquela economia, baseada no livre mercado e tida como a mais sólida do mundo, ruiu. Empresas- símbolos dos EUA, como o Citibank e a poderosa GM, quebraram.


O que fez o governo americano? Traiu o ideário liberal, intervindo nas empresas. O governo injetou trilhões de dólares, dinheiro público para salvar empresas privadas. Fez isso para manter a imagem das empresas-símbolos do país e, principalmente, para salvar o emprego dos trabalhadores ligados a essas organizações.

O mundo se espantou com a mudança de postura do governo americano. Quem sempre pregou que o livre mercado pode tudo, por que injetaria dinheiro público para salvar empresas privadas?

Retornando ao Brasil de 2015. Pela primeira vez, corruptos e corruptores estão indo para a cadeia e o dinheiro adquirido pela corrupção, voltando aos cofres públicos. É sabido que a corrupção é irmã siamesa do capitalismo e, lamentavelmente, atinge desde a relação do guarda de trânsito com o motorista até o executivo da mais alta esfera de empresas poderosas como a Petrobrás.

Ninguém tem dúvida da existência de corrupção na Petrobrás. Já na ditadura militar, o ex-ministro de Minas e Energia e também ex-presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, era apontado como recebedor de propina por cada barril de petróleo que a Petrobrás comprava. Isso nunca foi investigado!

No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), a corrupção corria solta. Certas empresas, como a Marítima, ganhavam todas as concorrências para construção de plataformas, apesar de estarem envolvidas com inúmeras denúncias. O reinado da Marítima só terminou em 2001, com acidente na P-36, que resultou na morte de 11 trabalhadores. O estranho afundamento da plataforma, trazendo um prejuízo exorbitante, foi apontado por muitos como criminoso. Uma espécie de queima de arquivo.

FHC colocou o ex-genro para dirigir a Agência Nacional de Petróleo, David Zilberstein. Uma das marcas de seu governo foi a prática de engavetar denúncias. Nem é preciso lembrar que nada foi investigado sobre as irregularidades na Petrobrás.

Mas, desde o ano passado, assistimos a uma devassa na Petrobrás. A Operação Lava Jato completou um ano em março de 2015. Já escândalos levantados no mesmo período, como o Zelotes, Swssleaks, Fifa, Trensalão, que envolvem valores muito maiores que os da Petrobrás, têm a investigação protelada. A revista Carta Capital chegou a publicar que o escândalo conhecido como Zelotes envolve valores quatro vezes maiores que o da Petrobrás.

Por que o juiz Sérgio Moro não denuncia os tucanos envolvidos e citados em delação premiada na Operação Lavo Jato? Por que a Justiça se cala, apesar de inúmeras denúncias, diante dos escândalos no governo FHC? Aliás, já no mensalão (AP 470), em que Moro também atuou, os tucanos foram poupados e seus crimes estão prescrevendo.

Os empregados da Petrobrás apoiam as investigações visando punir os agentes da corrupção. Torcem para que corruptos e corruptores permaneçam na cadeia. Mas a pergunta que não quer calar é: “Por que só a Petrobrás?”

O Brasil é o segundo parque de obras do planeta, só perdendo para a China. É a Petrobrás, com os impostos que paga, que financia 80% dessas obras (PAC).

É inaceitável que Moro não defenda os acordos de Leniência que assegurariam a continuidade das obras do PAC, como fez o governo americano. A implementação da leniência impediria o fechamento de estaleiros, de fábricas de sondas, e, principalmente, a manutenção dos empregos e o sustento das famílias de milhares de trabalhadores. A declaração do principal procurador da força tarefa da Operação Lava Jato, Carlos Fernando Lima é contundente: “ A CGU foi feita para controlar corrupção de funcionários, não para ser salvadora do emprego. Se o governo quer criar um Proer, que faça no lugar certo, que é o Congresso”.

Como o Juiz Sérgio Moro estudou nos EUA, ou ele e sua equipe são incompetentes e não aprenderam nada, ou agem de má fé, pois parar a Petrobrás é parar o Brasil.

Quem quer parar o Brasil, a que interesses serve?

*Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).