Por TEREZA CRUVINEL - Via Brasil247 -
No conjunto
de fatos que indicaram o agravamento da crise política nas últimas horas, o que
mereceu maior atenção dos agentes políticos e analistas políticos foi a frase
do vice-presidente Michel Temer, de que o país precisa de “alguém que tenha a
capacidade de reunificar a todos”. Concedendo-se a Michel o benefício da
dúvida, a frase pode não ter sido um auto lançamento como alternativa de
governo mas, no mínimo, ele ofendeu inadvertidamente a presidente Dilma
Rousseff. Diz, nas entrelinhas, que a atual presidente não tem mais esta
capacidade.
No círculo do vice-presidente
assegura-se que sua intenção não foi criticar a presidente nem se oferecer como
alternativa aos que tramam o impeachment. Teria sido mais uma das frases que
usou nas reuniões em que, pela primeira vez aparentando nervosismo, apelou a
deputados, e depois a senadores, para que não aprovassem medidas que
aumentassem as dificuldades econômicas, como o reajuste salarial que a Câmara
começou a aprovar para algumas carreiras de servidores. Faltam os destaques, o
que ainda pode evitar que se derrame mais este leite fiscal.
Apesar destas explicações, a frase
estimulou os que investem no impeachment de Dilma com a posse de Michel Temer,
tese que já teria atraído inclusive o grupo de Aécio Neves, que apostava mais
na impugnação de toda a chapa pelo TSE, situação que exigiria nova eleição
presidencial em que o senador tucano voltaria a ser candidato. Mas neste caso,
Lula também poderia concorrer.
Na marcha das conspirações, vale
recordar o que já aconteceu esta semana e avaliar seu devido significado.
1. Aproximação Serra-Temer – O senador tucano aproximou-se do PMDB e também do
vice nos últimos tempos. Com Temer, Serra repete a tática que FHC utilizou com
o então vice-presidente Itamar Franco quando o impeachment de Collor se
delineou. Ganhando a confiança de Temer, Serra poderia tornar-se ministro da
Fazenda de seu eventual governo, superar a crise e lançar-se a presidente com
chance de êxito, como fez FHC. Estaria a História disposta a repetir-se como
fato e não como farsa, contrariando conhecido filósofo?
2. Articulações Cunha-PSDB – O presidente da Câmara desmentiu a discussão que
teria tido com tucanos na noite de segunda-feira sobre um rito alternativo para
o impeachment. Mas a cogitação existe de fato: ele recusaria o pedido de
abertura de processo apresentado pela oposição, que recorreria ao plenário,
obtendo a tramitação do processo por maioria dos presentes. Depois, para abrir
o processo, será preciso 2/3 dos votos, o que não é fácil. Mas como a base anda
fazendo água, tudo é possível.
3. Articulação Renan-PSDB – O jantar de terça-feira na casa do senador Tasso
Jereissati, presentes Renan e alguns senadores do PMDB, Aécio e senadores
tucanos, foi um avanço em direção à tese do impeachment com posse de Temer. A
aproximação PSDB-PMDB com vistas ao futuro justifica a frase de Temer: ele
formaria um governo de união nacional (PT fora, é claro) com o objetivo de
“reunificar a todos” para vencer a crise. Ou quase todos.
Junte-se a tudo isso a piora na
avaliação de Dilma e do Governo, indicada pela pesquisa Datafolha. Depois de duas
semanas de contatos com as bases e as ruas, aferindo a (im)popularidade do
governo, os deputados voltaram à Câmara com o humor muito mais azedo. Isso
ajuda a explicar as derrotas do governo nesta primeira semana.
Este cenário, entretanto, reflete
disposições políticas mas não ainda condições objetivas para um impeachment.
Elas dependem ainda de duas agendas deste mês de agosto: as manifestações
contra o governo no dia 16 (apoio popular, condições políticas) e a apreciação
das contas de Dilma pelo TCU no dia 19 (condições jurídicas). Por isso
tornou-se crucial para o governo tentar obter no tribunal um parecer pela
aprovação, ainda que com ressalvas, com base nas explicações que já foram
apresentadas.
Por isso a semana de 16 a 21 de
agosto será uma Semana S para o Brasil.



