14.8.15

“Embarcar nessas candidaturas é, provavelmente, um grande fracasso”, diz cientista político sobre celebridades nas eleições

Por BRUNO PAVAN - Via Brasil de Fato -

Coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo alerta que fenômeno pode se alastrar pelo país por conta da crise política.


Partidos já se mobilizam para as eleições municipais do ano que vem em São Paulo. Recentemente, o Partido Progressista (PP) lançou o apresentador José Luis Datena como pré-candidato à prefeitura da capital. Outro que procura bases e se articula para sair candidato pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) é o empresário e também apresentador João Dória Júnior – competindo com Andrea Matarazzo, quadro histórico da legenda.

O fenômeno não é novo e, muito menos, exclusivo do Brasil. O coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), Aldo Fornazieri, em entrevista ao Brasil de Fato, aponta experiências fracassadas no mundo todo como os governos Vincent Fox, no México, Sebastian Piñera, no Chile, e Silvio Berlusconi, na Itália. “Para ser uma bom político você precisa dominar um saber fazer político, e isso você só adquire através da experiência prática”, aponta.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato - Qual o novo motivador que temos nessas candidaturas de 'artistas' em São Paulo? Existe a chance dele se alastrar para outros lugares?

Aldo Fornazieri - O fator novo é a enorme crise política do país. Recorrentemente, pessoas famosas, seja da área artística, desportiva ou empresarial costumam se lançar na política. Embora uma candidatura dependa de um partido político, eles são vistos como celebridades e não como represetantes de partidos. Existem chances desse fenômeno se alastras no país porque os oportunistas vem uma brecha para se lançar na vida política sem nenhuma experiência e pescando em águas turvas uma oportunidade que a crise política do país oferece.

Qual o perigo dessas candidaturas?

A população se ilude porque confunde o êxito em termos de promoção pública da personalidade com possível êxito politico, são duas coisas completamente diferentes. A história tem se pronunciado sobre esse tipo de evento, que normalmente se trata de uma aventura política. Para ser uma bom político você precisa dominar um saber fazer político, e isso você só adquire através da experiência política, e geralmente essas celebridades estão atrás de alimentar o seu egoísmo e vaidade, movido por interesses pessoais.

Temos inúmeros exemplos de fracasso em casos como esse. No México, o ex-presidente Vincent Fox, executivo da Coca Cola, fez um governo desastroso, assim como o Sebastian Piñera no Chile e o Silvio Berlusconi na Itália. Essas advertências devem servir pra produzir um alerta no eleitor. Veja que aqui [em São Paulo] temos duas pessoas: um empresário (João Dória Jr.) e um representante da mídia (José Luis Datena) que estão na mesma condição, sem nenhuma experiência política. Veja o caso do Datena, que se arvora como especialista em segurança pública, mas sequer essa ação é da alçada do poder municipal, o principal agente público responsável por isso é o governo estadual. Embarcar nessas candidaturas é embarcar numa aventura e, provavelmente, num grande fracasso e vai na contramão do que as gestões dos últimos tempos vem avançando.

Qual seria o papel dos partidos?

Seria não entrar nessa onda oportunista, dando guarida a esse tipo de personalidade e de candidatura. Na medida em que eles abrem as portas e dão brechas para que isso aconteça, patrocinam uma desmoralização ainda maior na política e deles mesmo, porque, como já foi dito, provavelmente se alguma delas viessem a se eleger seriam governos fracassados e de fracasso em fracasso o Brasil não consolida a sua democracia e há uma degradação das políticas públicas e do serviço público.