Por LÚCIO FLÁVIO PINTO - Via blog do autor -
A Camargo Corrêa admitiu ter pagado 20 milhões de reais de
suborno para integrar o consórcio de 10 empresas escolhido para construir a
hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. O custo da usina, a terceira
maior do mundo, com potência nominal de 11.233 megawatts e energia firme de
4.571 MW na média do ano inteiro, já atingiu o custo de 30 bilhões de reais.
Segundo o depoimento que o então diretor de Energia da
Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, deu aos investigadores da Operação
Lava-Jato, o a empresa foi obrigada a pagar uma “contribuição” ao PMDB
equivalente a 1% do valor do empreendimento. Como a Camargo tinha 15% de
participação na obra, sua contribuição seria de R$ 20 milhões, a ser pago ao
longo da execução do projeto.
O ex-presidente da construtora Camargo Corrêa Dalton
Avancini, que também fez delação premiada, confirmou todas essas informações, mas
não citou o nome de nenhum político do PMDB que possa ter sido beneficiado com
a propina. Alegou não se lembrar de nomes de parlamentares, funcionários
públicos ou integrantes do governo envolvidos no esquema de corrupção.
Avancini só admitiu que o diretor de Planejamento e
Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, teria “algum envolvimento com o
recebimento das propinas” de Belo Monte. Adhemar, há muitos anos no cargo, é
irmão do ex-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Ele teria recebido o dinheiro
por possuir envolvimento com o PMDB.
O ex-presidente da empreiteira investigada na Lava Jato,
contudo, disse que não tinha “conhecimento” de envolvimento do ex-ministro da
Casa Civil com “o pagamento de propinas ou contribuições” ao PMDB.
Dalton Avancini apontou para os representantes do Ministério
Público que o suborno ao PMDB foi pago para prevenir a empresa para uma suposta
manobra do governo federal, que pretendia afastar as grandes construtoras
nacionais do leilão realizado em 2010 para selecionar as empresas que iriam
construir a hidrelétrica.
A intervenção do Palácio do Planalto teria permitido a
vitória no leilão de um consórcio formado por empresas de pequeno porte, sem
tradição no setor de energia. A Camargo Corrêa desistira então de participar do
leilão, por verificar que o negócio não era economicamente viável. Mas quando a
construtora anunciou seu afastamento, “houve uma reação por parte do governo,
que tomou a iniciativa de formar um outro grupo”.
Essa movimentação do governo federal “soou estranha ao
mercado”, pelo risco que expunha um tão tecnicamente complexo, como o de Belo
Monte. Mas quem acabou vencendo a concorrência foi o consórcio integrado pela
construtora Andrade Gutierrez, que ofereceu menor preço. Avancini disse aos
procuradores que o resultado do processo gerou no mercado “a impressão de que o
governo pretendia dar uma lição em algumas grandes empresas”, como Camargo
Corrêa e Odebrecht.
Concluído o leilão, relatou o empresário, o consórcio
vencedor da concessão iniciou negociações para que Camargo Corrêa, Odebrecht e
Andrade Gutierrez pudessem atuar na fase de execução da usina hidrelétrica.
Avancini sustentou que a proposta de adesão das grandes
empreiteiras ao projeto foi motivado pela incerteza de que o grupo de empresas
montado pelo governo conseguiria construir o empreendimento bilionário no meio
da Amazônia. Essas empresas não teriam estudado o projeto como haviam feito a
Camargo Corrêa e a Odebrecht. Mas o ex-presidente da Camargo disse desconhecer
qualquer acerto na licitação da obra.
O Tribunal de Contas da União, a pedido do Ministério Público
Federal, investiga essas denúncias Os procuradores da República querem
verificar se foi formado um cartel de empreiteiras e pagamento de propinas à
semelhança do que atuou na Petrobras.
As referências a Belo Monte fazem parte do maior acordo já
assinado na história do Brasil de ressarcimento ao poder público, através do
qual a Camargo Corrêa se comprometeu a devolver R$ 700 milhões para três
empresas públicas (Petrobrás, Eletronuclear e Eletrobras), vítimas dos crimes
de cartel e corrupção por parte de ações da empreiteira.