CARLOS CHAGAS -
O governo Dilma perderá o restinho de governabilidade que ainda
possui caso o Diário Oficial de hoje, no máximo o de amanhã, não tragam o
nome dos 150 felizardos escolhidos pelo vice-presidente Michel Temer
entre os partidos da base oficial para preencher a primeira leva de
nomeações para o segundo escalão da administração federal. A medida
provisória 665, das maldades contra os direitos trabalhistas, foi
aprovada semana passada na Câmara por pequena margem de votos, mas
apenas porque o coordenador político jurou de pés juntos que seriam
atendidos de imediato os deputados dispostos a trocar votos por
benefícios. Agora, estão cobrando a traição ao trabalhador e ameaçam
não votar a medida provisória 664, de mais maldades contra os mesmos de
sempre que pagam a conta dos desvarios econômicos do governo Dilma. Não
saindo as nomeações, nada feito. A Oração de São Francisco precisará
estar impressa antes que entre em pauta a proposta que extingue as
pensões das viúvas com menos de quarenta anos e não tenham sido casadas
por pelo menos dois anos com os falecidos maridos ou companheiros.
A gente se pergunta como as coisas puderam ficar piores do que já
eram, indo a razão para o vaticínio do dr.Ulysses, de que “pior do que o
atual, só o futuro Congresso”. Votar contra prerrogativas sociais que
se presumia imutáveis é uma vergonha, mas votar pela sua permanência
apenas porque Suas Excelências não foram contempladas com sinecuras
parece mais grave ainda.
As nomeações passaram do vice-presidente para o chefe da Casa Civil,
Aloísio Mercadante, encarregado de viabilizá-las. Ignora-se a hipótese
de Madame participar da lambança, vetando ou acrescentando mais
privilegiados na lista do Temer, mas não há como deixar de concluir que
se o restante do ajuste fiscal for derrotado, melhor seria para o
governo pedir para sair. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
confirmava ontem a disposição de colocar em pauta a MP 654 amanhã à
noite ou quarta-feira, e não ficará triste caso o Diário Oficial venha
sem as nomeações. A cada dia que passa ele mais se convence de que o
dedo do palácio do Planalto mexe no noticiário relativo ao inquérito que
responde no Supremo Tribunal Federal. Ficaria satisfeito com a derrota
da nova maldade, não propriamente por preocupar-se com a sorte dos
trabalhadores.
Em suma, a semana começa carregada, não só de esperanças para 150
eventuais protegidos da bancada governista, mas também de temores a
respeito do que acontecerá diante da possibilidade de votações sem o
cumprimento de promessas.



