Por LÚCIO FLÁVIO PINTO - Via blog do autor -
Todas as atenções se concentraram ontem no Palácio do Planalto, em
Brasília. A presidenta Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li
Keqiang, se encontraram para acompanhar o lançamento da pedra
fundamental do sistema de transmissão da energia da hidrelétrica de Belo
Monte, no rio Xingu, no Pará, por dois mil quilômetros, até Estreito,
em Minas Gerais. A linha será construída pela chinesa State Grid em
consórcio com as estatais brasileiras Eletronorte e Furnas.
A obra é no valor de cinco bilhões de reais e dá partida a um
programa de investimento chinês previsto para alcançar R$ 53 bilhões nos
próximos anos. É uma injeção de dinamismo esperada pelo governo
brasileiro e pelo empresariado nacional, principalmente porque boa parte
das inversões será em projetos logístico. O país continua muito carente
de infraestrutura para sua atividade produtiva.
Um detalhe, porém, parece ter passado despercebido à imprensa
nacional, que cobriu o acontecimento. A linha, na mais alta tensão de
todo sistema de transmissão, em 800 kV, só entrará em operação em 2018.
Mas a previsão é de que Belo Monte comece a gerar energia dois anos
antes, no início de 2016. Quando contar com a nova linha, poderá enviar
para o sul toda sua produção firme, de pouco mais de 4 mil MW, de uma
potência total – mas nominal – de 11,3 mil MW (só alcançável no pique do
inverno).
Mesmo com as modificações feitas no mercado de energia, foi mais ou
menos como a partida de Tucuruí, 30 anos atrás. Como o Pará não se
preparou para absorver o máximo de energia, que podia ser conseguido
pela formação de um parque siderúrgico completo, a maior parte da
energia acabou sendo transferida para outros Estados, onde na
transformação industrial é mais intensa.
Continuando a ser um produtor de matérias primas, o Pará se
consolidou colonialmente também como província energética. É o terceiro
maior exportador de energia bruta do Brasil. Com Belo Monte, que nova
posição ultrajante ocupará?



