DANIELA ABREU -
Embalados com o fervor que envolveu a eleição para reitor e com um sentimento de classe, que impede que olhos permaneçam fechados diante o caos e o desespero e trabalhadores que não tem como viver, por não receberem salários há seis meses, estudantes ocupam a seis dias a Reitoria da maior Universidade do Brasil.
Embalados com o fervor que envolveu a eleição para reitor e com um sentimento de classe, que impede que olhos permaneçam fechados diante o caos e o desespero e trabalhadores que não tem como viver, por não receberem salários há seis meses, estudantes ocupam a seis dias a Reitoria da maior Universidade do Brasil.
Muitos que lutavam contra as terceirizações,
hoje lutam ao lado dos trabalhadores terceirizados, incoerência? Não, a luta é
contra a política neoliberal na educação, que mercantiliza e precarisa as
instituições de ensino, os trabalhadores e o conhecimento. Uma crise como esta
só explicita a severidade que é o sistema com terceirizações.
A terceirização caiu no debate popular
esse ano devido à votação do PL4330 no Congresso Nacional. Embora grupos de
interesses empresariais defendessem o projeto, muitos tentavam esclarecer o
retrocessos nos direitos trabalhistas. E agora com a exigência internacional de
corte de verba nas instituições públicas, são eles os trabalhadores
terceirizados os primeiros atingidos. Tornam-se claro a precarização desse
modelo de trabalho. O trabalhador terceirizado vive um sistema opressivo,
salários baixos e direitos menores do que da maioria dos trabalhadores. Ao
contratar uma empresa terceirizada não será pago apenas ao trabalhador, mas o
dinheiro será depositado diretamente para a empresa que ficará responsável de
repassar. Nas instituições de ensino públicas do Brasil essa tem sido a
dinâmica. O que chamam parceria pública privada significa escoar verba publica
para empresas privadas. Quem lucra? A Instituição Pública? Os trabalhadores das
empresas privadas? Após uma eleição como esta para Reitor onde o debate sobre
programa e projeto, a comunidade universitária acordou e se articulou. Hoje
exige o retorno do seu papel de produtora de conhecimento, e de todas as
garantias que isso ocorra. Reivindicam também transparência nas licitações e
rapasse das verbas para as empresas privadas, além da suspensão da empresa
Qualitécnica. Pautas das lutas estudantis são também motivações para a ocupação
como abertura imediata do edital da bolsa auxílio, transferência dos estudantes
moradores da Moradia Estudantil entre outras.
A ocupação da Reitoria começou no dia 14
de maio, após a reunião do Conselho Universitário estudantes decidiram ocupar a
Reitoria da UFRJ. O Conselho acontece meio ao caos instalado, no centro do caos
trabalhadores terceirizados definhando, sem salários e com a vida em migalhas.
São seis meses sem receber seus vencimentos, não havendo outra possibilidade do
que entrar em greve. Estudantes levaram suas reivindicações, mas o Reitor
Carlos Levi abandona a reunião antes da mesma ser encerrada, deixando sem
respostas questões essencial para o funcionamento do Campus.
Após a ocupação, a reitoria foi obrigada
a abril canais de negociação e passou a realizar reuniões. Na reunião do dia 18
de maio, afirmou que irá depositar o dinheiro para o pagamento dos
terceirizados amanhã, exigindo o retorno dos trabalhadores em greve. Os mesmos
foram ameaçados de demissão caso não retornem. Também tem se comprometido com
demandas dos movimentos estudantis.
O Reitor Carlos Levi que tem sido um
representante desse governo no seu mandato, não esconde o seu constrangimento.
Quem compreende a importância do espaço universitário como produção de
conhecimento não suporta tal degradação, mesmo os liberais.
O ápice do caos e do esgotamento desse
modelo coincide o melhor momento de organização da comunidade universitária
contra a política neoliberal, onde universidade empresa, com metas e lucros,
não enchem mais os olhos dos estudantes e da sociedade.
Ocupar a reitoria nesse momento é
garantir o espaço democrático. Estudantes, professores e funcionários exigindo
a participação nos rumos da Universidade Pública no Brasil.
O cenário muda e a UFRJ escreve
importantes capítulos na história da educação brasileira. O mês de maio traz o germe da ruptura com o modelo
neoliberal, meritocrático e privatizante. Primeiro uma eleição onde com um
percentual maior que o dobro, ganha o candidato representante de toda esquerda,
agora uma ocupação com centenas de estudantes, com apoio de funcionários e
professores. Que tempos são esses? Esses
são tempos de mudança. Que sopre o vento para cada Federal do Brasil. Consulta universitária não tinha o seu
resultado respeitado.



