CARLOS CHAGAS -
Estariam os presidentes da Câmara e do Senado em estado de
beligerância apenas por discordância em torno do projeto da
terceirização? Afinal, as duas casas do Congresso estão consagradas
entre nós desde o Império, cada uma com suas atribuições e
representatividade, precisamente para elaborarem leis capazes de
exprimir tanto a vontade popular quanto os interesses dos estados, antes
províncias.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros estão exacerbados por outro motivo:
encontram-se submetidos a inquérito judicial promovido pelo Supremo
Tribunal Federal, depois de integrarem a lista do Procurador Geral da
República, relacionados como suspeitos de envolvimento no escândalo da
Petrobras. Todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa, mas a
simples hipótese de estar sob investigação deixa qualquer um com os
nervos à flor da pele. Ainda mais ocupando as funções que ocupam. Por
isso, destemperam-se em suas relações institucionais e acabaram batendo
de frente.
Se porventura condenados, perderão não apenas as presidências do
Legislativo, mas os próprios mandatos, além da desmoralização política. É
natural que ao primeiro pretexto, acionem suas metralhadoras
giratórias.
Não está fácil a vida de Cunha e de Renan, explicando-se porque
deixaram de dialogar. Quem lucra com a história é a presidente Dilma,
atropelada pelo anseio de independência de deputados e senadores e tendo
sido derrotada diversas vezes em votações e iniciativas, tanto na
Câmara quanto no Senado. Enquanto as duas casas se enfrentam, Madame
consegue algum tempo para pesar as feridas, mesmo com seus auxiliares
espalhando que gostaria se a paz voltasse a reinar no Congresso.
Mentira. Para a presidente, quanto mais ebulição houver entre seus
vizinhos da Praça dos Três Poderes, melhor...
CONTRADIÇÕES E INCOERÊNCIAS
Razão terá a senadora Marta Suplicy quando afirma ter sido o PT que
mudou, abandonando o sonho de tornar-se um partido diferente, ético e
voltado para a justiça social. Os companheiros mudaram muito, em
especial depois de haverem chegado ao poder, com o Lula.
Feita a ressalva, vale prospectar mais fundo. Marta queria voltar à
prefeitura de São Paulo, depois de derrotada na primeira tentativa. Como
o Lula preferiu Haddad, ganhou de compensação o ministério da Cultura.
Lá permaneceu reverenciando o ex-presidente e tecendo loas à sucessora,
mas de olho nas eleições de 2016. Frustrou-se ao perceber que o atual
prefeito será candidato à reeleição e deixou o governo Dilma com duas
pedras na mão. Disposta a concorrer, vai para o PSB, que já lhe garantiu
legenda. Sobre sua candidatura paira a sombra da perda de mandato, já
tendo perdido qualquer relacionamento com Lula e com Dilma e mais a
torcida do Corinthians.



