CARLOS CHAGAS -
Pelo menos até agora, ninguém ficou chocado com os nomes de políticos
revelados na delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo
Roberto Costa. São deputados, senadores, governadores e dirigentes
partidários há muito envolvidos em denúncias que, mesmo pouco
explicadas, levam-nos à conclusão de sempre: são bandidos. Vale esperar
pela divulgação da lista completa para saber da existência de
surpresas, ou seja, de supostos arcanjos na realidade demônios.
O que emerge dessa nova temporada de corrupção explícita é a certeza
de que o mensalão não morreu. Transfigurou-se. Nos tempos do Lula, os
partidos que apoiavam seu governo recebiam propinas engendradas por uma
quadrilha formada por bancos, publicitários e altos funcionários do
palácio do Planalto. No governo Dilma, mudaram as fontes de irrigação do
Congresso com dinheiro podre. Agora são a Petrobras e as empreiteiras
de obras públicas, mas os beneficiários continuam os mesmos: os partidos
da base oficial. Certamente mais amplo, esse novo capítulo da
corrupção deslavada aprendeu com os erros anteriores. Agora são
contratos superfaturados das atividades da empresa estatal com empresas
privadas, com 3% distribuídos pelos políticos, destinados a garantir
para o palácio do Planalto maioria no Congresso. Com passagem pela caixa
dos partidos e para o bolso de parlamentares e servidores públicos.
Livrou-se o Lula, alegando nada saber do mensalão. Deve livrar-se
Dilma, com o argumento de ignorar o que se passava nos desvãos da
Petrobras. O diabo é que são os mesmos: PT, PMDB, PP, PR, PTB e outros
enfiados até o pescoço na lambança da garantia de votos. Os números por
enquanto variam: 49 ou 62 deputados? Dois ou quatro governadores? Doze
ou quinze senadores? Um ou cinco ministros?
Não se incluirá as empreiteiras no rol das vítimas, coitadinhas que
se não cedessem à chantagem perderiam seus contratos. Pelo contrário,
lucraram como nunca ao superfaturar o preço de suas obras. Metade para
os políticos, metade para elas?
Não escapa ninguém dessa pantomima, a começar pelo PT, que teve seu
primeiro tesoureiro, Delúbio Soares, condenado e hoje na cadeia por
envolvimento no mensalão. Agora, seu sucessor, João Vaccari Neto, ainda
solto. No episódio inicial foi necessário o tacape do então presidente
do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Aguarda-se a borduna de
Ricardo Lewandowski, mas garantir, quem garante?
Até os presidentes da Câmara e do Senado aparecem na delação premiada
do meliante comprovadamente tendo enviado 23 milhões para contas
secretas na Suíça, felizmente congeladas por iniciativa do governo
daquele país.
Fazer o quê? Fechar a Petrobras, outrora motivo de orgulho de todos
nós? Extinguir os partidos políticos? Decretar o recesso do Congresso?
Votar o impedimento de Dilma Rousseff, por omissão evidente? Chamar de
volta os militares, que tanto mal causaram às instituições democráticas?
Melhor seria convocar o Padre Eterno, com direito à presença de
Jeová, Alá, Tupã, Isis, Osíris, Júpiter, Zeus e quem mais mereça em
pouco de fé, fazendo-LHES um desesperado apelo: de novo, o dilúvio…