CARLOS CHAGAS -
Ainda que pesquisa não ganhe eleição, jamais se concluirá pela
inocuidade das consultas eleitorais, que exprimem a tendência de um
momento na vida do eleitor, sempre capaz de ser alterado até a
verdadeira consulta popular, o voto. Mesmo assim, o pais aguarda com
ansiedade os números que o Ibope divulgará amanhã, para saber se o
súbito crescimento de Marina Silva se confirmará. Afinal na pesquisa
anterior, da Datafolha, semana passada, ela bateu Aécio Neves no
primeiro turno, por um ponto, e, de forma ainda mais densa, Dilma
Rousseff no segundo, por quatro pontos.
Na campanha agora acirrada e cheia de surpresas, surge uma
encruzilhada para a ex-senadora: diante da possibilidade de vencer a
disputa, ela manterá a imagem de candidata que rejeita a prática vigente
no país desde o governo Fernando Henrique, passando pelo Lula e por
Dilma, ou, no reverso da medalha, prepara-se para amaciar? Fará
concessões às forças conservadoras, evitando assustá-las, como
estratégia para ganhar a eleição, ou preservará suas características de
contestadora da velha política, imaginando ter sido esse o instrumento
que a trouxe à pole-position?
Numa palavra, Marina apresentará uma nova “Carta aos Brasileiros”, no
estilo Lula, garantindo a governabilidade e abrindo mão de seu perfil
contestador? Ou seguirá atropelando concepções e diretrizes enraizadas
no Brasil? A dúvida é saber por qual desses caminhos imagina chegar ao
palácio do Planalto: recuar e garantir o apoio das elites ou avançar
imaginando dispor da maioria do eleitorado ávido por mudanças
fundamentais?
Em sua primeira aparição nas telinhas, sábado, ela ficou em cima do
muro. Prometeu superar a velha política e criticou PSDB e PT, “que
dividem o país numa guerra”. Denunciou a chantagem dos partidos sobre
Dilma, “que troca ministérios por tempo na televisão” e até provocou
Aécio, revelando esperar o apoio de José Serra. E enviou sinais à turma
do agronegócio, através de seu candidato a vice, Beto Albuquerque.
Está sendo pressionada pela turma do “deixa disso”, no Partido
Socialista, para não bancar o lobisomem, modelo que o Lula seguiu depois
de vencer a eleição, dando garantias de que não mudaria as regras do
jogo. A dúvida é saber se Marina conseguirá chegar ao 5 de outubro
equilibrando-se entre os dois pólos contrários. Entre ser reformista,
quase revolucionária, ou acomodada, submetendo-se ao modelo econômico,
político e social vigente, estará chave do sucesso ou do malogro de
suas pretensões.