Por EDUARDO SIMÕES - Via Reuters -
As campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves
(PSDB) precisarão adotar uma estratégia de desconstrução da imagem de
Marina Silva, candidata do PSB à Presidência, e um discurso mais
atraente para a classe C para recuperar o terreno perdido na disputa
presidencial.
Marina tornou-se a estrela da disputa eleitoral após sua entrada na
corrida presidencial com a morte há duas semanas do então candidato do
PSB, Eduardo Campos. Duas pesquisas divulgadas nesta semana mostraram a
candidata em segundo lugar no primeiro turno, bem à frente de Aécio, e
vencendo Dilma numa segunda rodada.
A candidatura de Marina foi catapultada pelo desejo de mudança
apontado pelas pesquisas, pela comoção causada pela trágica morte de
Campos e pelo discurso da "nova política".
É justamente esse discurso que, na avaliação de analistas ouvidos
pela Reuters, Dilma e Aécio precisam desmontar para reverter o quadro
atual.
"Eles precisam incutir no eleitor o receio de um governo Marina",
disse o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores. "Essa é a
chave para tentar derrubar a Marina."
A tarefa é considerada "bastante complicada" pelo analista da
Tendências Consultoria Rafael Cortez. Para ele, o desafio maior cabe a
Aécio, que corre o risco de ser o primeiro tucano a ficar abaixo da
segunda posição numa eleição presidencial desde 1989.
"A tentativa de desconstrução da Marina, dado que ela tem uma baixa
rejeição, pode se mostrar ineficiente", ressalvou. "Um caminho, embora
seja difícil, é explorar essa certa ambiguidade do posicionamento
político da Marina, que não é claro o lado que ela adota em relação a
uma série de temas."
Sem citar diretamente Marina, Aécio tem afirmado que "o Brasil não é
para amadores" e buscado exaltar a equipe que o acompanha na disputa
presidencial e que estará com ele em um eventual governo, batendo na
tecla de que ele é o candidato que poderá realizar com segurança as
mudanças desejadas pela população.
Um dos membros dessa equipe, o ex-governador de São Paulo Alberto
Goldman, se referiu à candidata do PSB nesta semana como "uma pessoa
absolutamente só".
"Ela tem do lado dela quem? Ela sozinha. Em algum momento, eu
acredito, que a população vai perceber que a candidatura é muito frágil,
não a pessoa dela, mas a candidatura", disse Goldman.
Na avaliação de Cortez, a situação de Dilma é um pouco melhor do que a
do tucano, já que ela pode aguardar as próximas pesquisas, como um
levantamento do Datafolha previsto para sexta-feira, para decidir
começar a concentrar sua artilharia contra a ex-ministra.
"No médio ou longo prazo, em questão de dias ou mais uma semana,
sobretudo se o próximo levantamento do Datafolha mostrar a manutenção
desse quadro, o PT vai precisar de uma contraposição à Marina, sim",
avaliou.
Mas Dilma já começou a explorar a falta de experiência administrativa
de Marina, ao rebater declaração da candidata do PSB de que o país não
precisa de um gerente e lembrar, no debate na Band, que o presidente da
República tem que agir e tomar muitas decisões para atacar os problemas.
CLASSE C
Um dos fatores que torna a desconstrução de Marina uma missão árdua
para petistas e tucanos é o fato de a candidata do PSB estar bem
posicionado em todos os segmentos do eleitorado.
Segundo a pesquisa do Ibope, Marina é pelo menos a segunda colocada
quando se considera cortes como sexo, idade, nível de instrução, região
do país e faixa de renda.
Para os analistas, além de bater de frente com a candidata do PSB,
Dilma e Aécio terão de buscar atrair a Classe C, grupo que tem renda
familiar média mensal entre 1.792 reais e 3.273 reais e representa cerca
de 56 por cento do eleitorado brasileiro, segundo o instituto de
pesquisas Data Popular, especializado nessa faixa de renda.
"A competitividade passa por achar um discurso para essa nova classe média", disse Cortez.
Pela divisão de faixa de renda feita pelo Ibope, a Classe C se
enquadra melhor no grupo das famílias que ganham entre dois a cinco
salários mínimos. Nesta faixa, Dilma lidera com 33 por cento das
intenções de voto, contra 31 por cento de Marina e 21 por cento de
Aécio.
Esse segmento da sociedade, apontado como fundamental para decidir os
rumos da eleição, também inspira confiança na campanha de Marina, que
espera conseguir ainda mais fôlego desse eleitorado.
"(A pesquisa Ibope) é o comecinho da migração da Classe C. Ainda
migrará muito mais", disse nesta semana o deputado federal Márcio França
(PSB-SP), integrante do comitê financeiro da campanha de Marina.
"É só você ir nas periferias das cidades, dos grandes centros, que você vai ver como está a relação, é um massacre."