19.6.14

UMA SEMANA DA COPA 2014

ALCYR CAVALCANTI -

A primeira semana da Copa 2014 deixou muitas surpresas. A maior foi a eliminação da campeã do mundo, que dominou o futebol durante pelo menos seis anos, vencendo todos os torneios em que participou A derrota para o Brasil por 3X0 na Copa das Confederações em 2013 seria o prenúncio de uma morte anunciada, e o que o estilo tiki-taka baseado no famoso “carrossel” da seleção holandesa de Cruiyff vice-campeã de 1974, não era assim tão maravilhoso. A geração Barcelona parece ter chegado ao fim, decepcionando no último mundial de clubes. Os espanhóis estão voltando para a casa muito mais cedo do que se esperava, e Casillas que foi durante algum tempo um dos melhores goleiros do mundo, falhou em vários lances. Parece próximo da aposentadoria. Um final melancólico da seleção espanhola.

Da mesma forma a seleção do Uruguai, a celeste olímpica, decepcionou em sua estreia, onde o melhor jogador da Copa 2010 Diego Forlán não jogou bem, parece estar em franco declínio, como já havia demonstrado no Internacional de Porto Alegre. A seleção do Uruguai, uma das quatro melhores na última Copa sentiu a falta de Luiz Suarez, e não andou em campo. Os hermanos argentinos também decepcionaram em sua estreia lotando o Novo Maracanã, e só conseguiram a vitória, depois de um lampejo de Messi, que conseguiu se livrar dos muitos marcadores e fez o gol da vitória.

A Invasão vermelha, o toque laranja e a decepção amarelinha 

Na quarta feira dia 18/06 os vermelhos invadiram o Maracanã. Surpresa agradável foi assistir à seleção chilena, massacrar a fúria com toques envolventes, atacantes extremamente habilidosos como Vidal da Juventus da Itália, e ter na retaguarda  Claudio Bravo, um dos melhores goleiros da atualidade,  que inspira total confiança não só aos defensores, mas também ao técnico Jorge Sampaoli. Os atuais vermelhos têm levado à loucura os milhares de chilenos que tem literalmente invadido a cidade, e num ato de desespero depredaram instalações do estádio, sendo presos.  Deverão ser deportados ainda durante a Copa. Dentro de campo, até agora, as melhores jogadas têm partido da nova edição da “laranja mecânica” com os veteranos Robben e Van Persie suando a camisa, com uma exibição para ficar na história de todas as copas, como na espetacular  vitória por 5 X1 sobre a campeã do mundo, após estarem perdendo por mais um erro de arbitragem, em um pênalti inexistente em Diego Costa.  A Holanda veio para ficar, demonstrando seu poderio na vitória contra a Austrália em um gol espetacular de Robben, que até agora disputa o lugar de melhor do torneio.

A seleção canarinho até agora decepcionou, não conseguindo vencer a fraquinha seleção mexicana, apesar de termos jogadores teoricamente muito, mas muito melhores do que os astecas. Como sempre Fred que seria o “homem-gol” não se mexeu, não fez absolutamente nada, e foi substituído por outro atacante completamente perdido em campo. As nossas esperanças estavam depositadas na dupla Oscar/Neymar, mas nenhum de nossos jogadores não conseguiu marcar nenhum golzinho. O goleiro mexicano Ochoa defendeu todas. Afinal, esse é o papel de um bom goleiro. O treinador Felipe Scolari não tem encontrado a formação ideal, se é que ela existe, e tem demonstrado impaciência contra tudo e contra todos.

As televisões de todo o planeta estarão ligadas durante os 64 jogos da Copa, mas nos Estados Unidos o futebol não é uma unanimidade. Para justificar a pouca importância dada ao esporte de massas e a pouca habilidade em conduzir a pelota justamente quando o maior torneio esportivo é realizado em nossas terras, os estadunidenses invocam um “padrão ético”. O New York Times analisa os insucessos americanos nas varias edições da Copa com o título: “O futebol dos Estados Unidos cai rápido, onde a desonestidade é a melhor política” a propósito da queda do atacante Fred resultando em gol do Brasil, sugerindo que o futebol é pouco ou nada ético. E cita ainda os atacantes Cristiano Ronaldo e Luizito Suarez como desonestos. Um dos textos bases na formação da sociedade norte americana é a obra de Max Weber “A ética protestante e o espírito do capitalismo” livro de cabeceira de Fernando Henrique Cardoso, que influenciou seguidamente milhões de americanos. A prática, no entanto, tem demonstrado justamente o contrário, as ideias de Weber não têm sido seguidas. Alguns esportes em terras ianques não têm sido nada éticos, recordes têm sido contestados por uso de substâncias proibidas, lutas têm sido exploradas e manipuladas por verdadeiras máfias de apostas, onde nem sempre vence o melhor.  Na política externa o padrão ético “Made USA” também é discutível, as recentes e constantes invasões pelas tropas americanas destruindo cidades como Bagdá, Kabul ou Damasco têm demonstrado o oposto. Seria quando muito, uma ética subordinada a interesses práticos em um jogo da geopolítica mundial, com interesses predatórios, tendo em jogo as reservas de petróleo.

Futebol é paixão, futebol é emoção em movimento, e nossa seleção tem demonstrado frieza, uma apatia que tem decepcionado não só os quase duzentos milhões de brasileiros, mas principalmente aos mais de dois bilhões de espectadores com os olhos grudados em telinhas e telões em todos os continentes. Todos esperam muito mais de vocês. Não basta cantar o hino nacional “à capela”, mas botar o coração na ponta da chuteira, dar um pouquinho de sangue e suor para chegar à partida final no Maracanã.