19.6.14

“O DIA EM QUE A ORDEM DA PM ERA ATIRAR E BATER”. A GROTESCA EXPERIÊNCIA POLÍTICA-ADMINISTRATIVA-ECONÔMICA DA “REPÚBLICA DOS BANQUEIROS” FAZ A MISÉRIA ABSOLUTA E A RIQUEZA TOTAL CONVIVEREM DESCARADAMENTE

DANIEL MAZOLA -

Cerca de 1 milhão de manifestantes tomaram o centro da cidade do Rio naquele dia 20 de junho de 2013. A mídia corporativa fingiu que eram 300 mil, mas não conseguiram alterar os números, as imagens desmentiam qualquer dado que fosse abaixo de 1 milhão de pessoas.
20 de junho de 2013, completando agora 1 ano. Participei, protestei e acompanhei a maior parte dos fatos que marcaram aquele dia de lutas aqui no Rio de Janeiro. Desde a manifestação do dia 13 de junho, já dava pra perceber que a coisa estava ficando séria. As manifestações que reivindicavam o “Passe Livre” aqui no Rio, começaram com pouco mais de 100 pessoas em abril e maio, eram poucos ativistas e manifestantes. 

13 de junho já havia no mínimo 3.000 manifestantes nas ruas, eu estava lá. Mas o jornalismo de mercado fez de tudo (como continua) para criminalizar o movimento que começou contra o aumento das tarifas de ônibus. Logo depois foi sendo ampliado em função das diversas demandas da sociedade.

No dia 18, escrevi um texto que foi publicado no site da ABI, além de alguns blogs, redes sociais, minha página e comunidades no Facebook, segue um trecho: “(...) Ontem, 17 de junho de 2013, ocorreu uma LEGÍTIMA REVOLTA POPULAR no Centro do Rio de Janeiro. Certamente mais de 100 MIL pessoas na Avenida Rio Branco, só da Candelária a Cinelândia! A Alerj foi tomada por centenas de manifestantes furiosos, sedentos por justiça, “o velho Estado não nos representa”. A maioria despolitizada e a mídia comercial vão dizer que depredaram o patrimônio público, fala sério... (...) Agora vamos aguardar os próximos capítulos dessa ótima novela chamada Luta de Classes, ou a próxima partida dessa importante Copa Popular Por Direitos Básicos. QUINTA-FEIRA, 20 de junho, TEM MAIS!”.

E foi ainda maior e mais impactante... 

A ditadura do capital no Brasil pode estar por um fio 

Dia 25 estava no site da ABI, e posteriormente publicado no Jornal da ABI, o  seguinte artigo: O dia em que a ordem da PM era atirar e bater”.

Truculência da Tropa de Choque durante as manifestações do dia 20 de junho de 2013.
Certamente mais que 1 milhão de pessoas foram as ruas do Rio de Janeiro no dia 20. Venho participando de todas as manifestações. Na primeira havia no máximo 100 pessoas e pouca repressão das forças policiais. Já no dia 20, quando centenas de milhares caminharam da Candelária ao prédio da Prefeitura, os policiais estavam mirando e atirando aleatoriamente em qualquer pessoa, houve pânico generalizado. Alguns poucos manifestantes mais revoltados praticaram atos de violência isolados, mas a Polícia jamais poderia praticar os mesmos atos, e de forma ainda mais intensa e totalmente irresponsável. Helicópteros davam vôos rasantes e ajudavam os militares a se posicionar e cercar os manifestantes. Após muita violência na porta da Prefeitura, milhares de pessoas se dispersaram e muitos foram para a Lapa, onde o Batalhão de Choque promoveu um verdadeiro massacre. 

Por muito pouco a covardia, o despreparo e a truculência da tropa não causou uma tragédia de grandes proporções. PMs, Choque, guarda municipal, Caveirão, Bope, etc, lançaram bombas de efeito moral contra tudo e todos, inclusive no Hospital Souza Aguiar, no IFCS, em Sindicatos, na Escola de Música, na Faculdade de Direito da UFRJ e no Colégio Pedro II, locais onde diversos lutadores ficaram encurralados e acuados. Eu e minha esposa ficamos acuados no Bar Ernesto, onde pude ver muita coisa, tanto na ida quanto na saída do bar em direção a minha casa.

Tudo o que ocorreu por ordem das autoridades são fatos característicos de um regime ditatorial, e que não aconteciam há décadas por aqui. Puro terrorismo estatal. Mesmo assim o saldo foi extremamente positivo: os manifestantes ocupavam toda a Avenida Presidente Vargas, numa passeata pacífica, com a presença de estudantes do ensino médio e de universidades, trabalhadores, idosos e crianças. Muitos levavam flores. Apesar da perseguição desumana e covarde, o sentimento geral é que o próximo protesto precisa ser ainda maior do que este. A versão dominante nos grandes jornais fala apenas dos vândalos e baderneiros, mas a população está desmistificando essa versão no boca a boca, nas conversas do dia-a-dia, pois foi vítima da covardia desmedida contra aqueles que estavam pacífica e ordeiramente se manifestando.

Como sempre faço, participei e observei tudo. Desde 1992 no Fora Collor e o impeachment, não vi tamanha indignação e revolta nas ruas do Rio. O problema não é apenas o aumento da tarifa de um serviço que deveria ser muito barato ou de graça, em um país riquíssimo como o nosso; os protestos são contra a realidade que lhes é apresentada neste País, onde há séculos se faz uma grotesca experiência político-administrativa-econômica onde miséria absoluta e riqueza total convivem descaradamente. 

O que está ocorrendo não vai parar com a revogação dos 20 centavos, é uma legítima revolta popular, um levante nacional, com eixo na juventude, com adesão de milhares de trabalhadores e trabalhadoras jovens e dos setores médios contra todo tipo de Governo e por reivindicações no geral justas: contra o aumento das tarifas, contra gastos da Copa, fora Feliciano, saúde, educação, corrupção, democratização da mídia e os temas relativos a isso. Muitos perceberam que só nas ruas vamos conquistar nossos direitos, e após séculos de descaso com a população, as demandas são muitas!”.
Praticamente na cabeça da megamanifestação, eu e minha mulher (centro) sorrindo e segurando parte da faixa do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas. Todos caminhando na Avenida Presidente Vargas em direção ao prédio administrativo da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foram dias históricos e inesquecíveis... Foto de Marco Gracie Imperial.