22.6.14

DONA PEROLINA DO PMDB

SEBASTIÃO NERY -

Imbituba, Santa Catarina, 1962, eleição para prefeito. A UDN, comandada por Álvaro Catão, dono das docas da cidade e deputado federal, tinha seu candidato.

O PTB, dirigido pelo brilhante líder Doutel de Andrade, lançou Moacir Orige, candidato dos estivadores, casado com dona Perolina, agente local do IAPETEC. A eleição ia ser decidida no distrito de Vila Nova, onde a UDN dos Catão era mais forte.

Dona Perolina foi a Laguna, chamou um enfermeiro do SAMDU, alto, pretão, elegante. Meteu-lhe um jaleco branco, calça branca, sapato branco, maleta preta, estetoscópio no pescoço, entrou orgulhosa em Vila Nova:

- Chegou o médico. O doutor vai dar consulta e remédio de graça pra todo mundo. É uma colaboração do PTB para o povo de Vila Nova.

PTB

Juntou gente, dona Perolina abriu duas malas enormes, entupidas de amostras-grátis que havia conseguido em Laguna e Imbituba, estendeu uma toalha branca sobre a mesa longa e pôs os remédios em fila, por ordem alfabética:

A, Aspirina. B, Beladona. C, Coristina. E assim por diante. O “médico”, de jaleco e estetoscópio, ia fazendo as consultas:

- O que é que o senhor tem?

- Dor no peito.

- Dor no peito, letra P.

Dona Perolina pegava um remédio da letra P, o homem saia.

- E a senhora?

- Estou passando mal do coração.

- Coração, letra C.

Dona Perolina pegava um remédio da letra C, a mulher saia. Ninguém piorou, muitos foram curados e o PTB ganhou as eleições.

MICHEL

Michel Temer é a dona Perolina do PMDB. Na farmácia do governo, ele tem remédio para tudo. Distribui empregos como quem aplica pomada para pereba e vai comprando correligionários.

Foi assim na ultima convenção do partido. Anunciou que ganharia com mais de 80% dos votos.

Saiu de lá humilhado. Não passou de 59%. Apesar de todas as pressões, cambalachos e corrupção urdidas por ele e sua turma, a oposição teve 41% e sobretudo venceu em 6 dos 7 maiores Estados:

Minas, Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará e Pernambuco. Em todos eles o PMDB não vai apoiar a chapa Dilma-Michel.

PIRRO

A convenção foi uma vitória de Pirro para o Palácio do Planalto. (Pirro foi aquele rei do Épiro e da Macedônia, na Grécia, inimigo irreconciliável de Roma e dos romanos, que, depois da batalha de Heracleia, proclamou-se vitorioso apesar de perder todos os seus soldados).

Uma das lambanças foi, entre os votos apurados, os brancos, nulos e abstenções terem sido desconsiderados, omitidos, em lance de esperteza à altura da contabilidade criativa prevalecente no governo federal.

Ficou claro o nível de desprestígio do vice-presidente da República, licenciado da presidência do PMDB e comprovando ter uma liderança fragilizada na condução da legenda, mal assegurando o horário de rádio e televisão para a chapa Dilma-Temer sem conseguir garantir a mobilização dos seus lideres e militantes nos maiores colégios eleitorais.

ULYSSES

Em política, não adianta a fantasia. A verdade surge das urnas.

Em 1989, o exemplar Jarbas Vasconcelos, vice-presidente do PMDB, assumiu a presidência do partido com a licença do titular, o saudoso e gigante Ulysses Guimarães, lançado candidato à presidência da República, e honrou até o fim seu dever de sustentar a bandeira do partido.

Ocupou a vice-presidência o bravo deputado Helio Duque, do Paraná. Eram os melhores do partido. O tempo de rádio e televisão que Ulysses tinha era mais do que o dobro do mais próximo.

Ao final da eleição, Ulysses ficou em 6º lugar, com votação constrangedora. A militância peemedebista se encaminhou majoritariamente para as candidaturas de Mário Covas e Brizola, comprovando que o tempo de mídia eletrônica não é suficiente para ganhar eleição.

Voto não é pereba que se cuida com pomada, com maracutaia.