SEBASTIÃO NERY -
Imbituba, Santa Catarina, 1962, eleição para prefeito.
A UDN, comandada por Álvaro Catão, dono das docas da cidade e deputado federal,
tinha seu candidato.
O PTB, dirigido pelo brilhante líder Doutel de Andrade,
lançou Moacir Orige, candidato dos estivadores, casado com dona Perolina,
agente local do IAPETEC. A eleição ia ser decidida no distrito de Vila Nova,
onde a UDN dos Catão era mais forte.
Dona Perolina foi a Laguna, chamou um enfermeiro do
SAMDU, alto, pretão, elegante. Meteu-lhe um jaleco branco, calça branca, sapato
branco, maleta preta, estetoscópio no pescoço, entrou orgulhosa em Vila Nova:
- Chegou o médico. O doutor vai dar consulta e remédio
de graça pra todo mundo. É uma colaboração do PTB para o povo de Vila Nova.
PTB
Juntou gente, dona Perolina abriu duas malas enormes,
entupidas de amostras-grátis que havia conseguido em Laguna e Imbituba,
estendeu uma toalha branca sobre a mesa longa e pôs os remédios em fila, por
ordem alfabética:
A, Aspirina. B, Beladona. C, Coristina. E assim por
diante. O “médico”, de jaleco e estetoscópio, ia fazendo as
consultas:
- O que é que o senhor tem?
- Dor no peito.
- Dor no peito, letra P.
Dona Perolina pegava um remédio da letra P, o homem
saia.
- E a senhora?
- Estou passando mal do coração.
- Coração, letra C.
Dona Perolina pegava um remédio da letra C, a mulher
saia. Ninguém piorou, muitos foram curados e o PTB ganhou as eleições.
MICHEL
Michel Temer é a dona Perolina do PMDB. Na farmácia do
governo, ele tem remédio para tudo. Distribui empregos como quem aplica pomada
para pereba e vai comprando correligionários.
Foi assim na ultima convenção do partido. Anunciou que
ganharia com mais de 80% dos votos.
Saiu de lá humilhado. Não passou de 59%. Apesar de
todas as pressões, cambalachos e corrupção urdidas por ele e sua turma, a
oposição teve 41% e sobretudo venceu em 6 dos 7 maiores Estados:
Minas, Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará e
Pernambuco. Em todos eles o PMDB não vai apoiar a chapa Dilma-Michel.
PIRRO
A convenção foi uma vitória de Pirro para o Palácio do
Planalto. (Pirro foi aquele rei do Épiro e da Macedônia, na Grécia, inimigo
irreconciliável de Roma e dos romanos, que, depois da batalha de Heracleia,
proclamou-se vitorioso apesar de perder todos os seus soldados).
Uma das lambanças foi, entre os votos apurados, os
brancos, nulos e abstenções terem sido desconsiderados, omitidos, em lance de
esperteza à altura da contabilidade criativa prevalecente no governo federal.
Ficou claro o nível de desprestígio do vice-presidente
da República, licenciado da presidência do PMDB e comprovando ter uma liderança
fragilizada na condução da legenda, mal assegurando o horário de rádio e
televisão para a chapa Dilma-Temer sem conseguir garantir a mobilização dos
seus lideres e militantes nos maiores colégios eleitorais.
ULYSSES
Em política, não adianta a fantasia. A verdade surge
das urnas.
Em 1989, o exemplar Jarbas Vasconcelos, vice-presidente
do PMDB, assumiu a presidência do partido com a licença do titular, o saudoso e
gigante Ulysses Guimarães, lançado candidato à presidência da República, e
honrou até o fim seu dever de sustentar a bandeira do partido.
Ocupou a vice-presidência o bravo deputado Helio Duque,
do Paraná. Eram os melhores do partido. O tempo de rádio e televisão que
Ulysses tinha era mais do que o dobro do mais próximo.
Ao final da eleição, Ulysses ficou em 6º lugar, com
votação constrangedora. A militância peemedebista se encaminhou
majoritariamente para as candidaturas de Mário Covas e Brizola, comprovando que
o tempo de mídia eletrônica não é suficiente para ganhar eleição.
Voto não é pereba que se cuida com pomada, com
maracutaia.