CARLOS CHAGAS -
Confirma
o palácio do Planalto que a presidente Dilma, entre possíveis presenças
em outros estádios, vai comparecer aos jogos de abertura e de
encerramento da Copa do Mundo, em São Paulo a 12 de junho e no Rio a 13
de julho. Até aí, nada demais, podem estar misturados prazer e
obrigação. O singular na informação é que nas duas oportunidades a
presidente estará acompanhada do Lula.
Abrem-se
algumas interrogações, não se tratando daquelas bissextas cerimônias
onde se espera que todos os ex-presidentes da República vivos acompanhem
a titular, como na posse e na morte de um Papa, por exemplo. Estaria o
comparecimento do Lula ligado a alguma encoberta manobra do PT, para
fixar o apoio do antecessor à sucessora? Afinal, ainda persistem boatos
sobre a substituição dela por ele como garantia da reeleição. Ou será
por conta da amizade que os une?
Não dá
para ignorar a versão de que o Lula foi escalado para servir de anteparo
à perda de popularidade de Dilma. Sozinha, quando os alto-falantes
anunciassem sua chegada, não escaparia de uma educada porém inexorável
vaia. Com o Lula a tiracolo, arrefeceriam os apupos à dupla. Afinal,
mesmo junto à classe média, o ex-presidente mantém seus índices de
carinho popular.
Por que
se fala em classe média? Por causa do altíssimo preço das entradas, já
testado na Copa das Confederações, há um ano. Aquele certame, pelas
imagens de televisão, parecia estar sendo disputado na Suécia: nas
imagens televisivas prevaleceram as louras e os espectadores arianos bem
arrumados. Era raro ver-se um negro nas arquibancadas, muito menos
alguém vestido modestamente, oriundo das classes menos favorecidas. Não
há evidência de que venha a ser diferente, agora.
Conclui-se
que as partidas do selecionado nacional e de outros selecionados serão
assistidas pela classe média e daí para cima. Um pedreiro que recebe 724
reais por mês de salário mínimo não poderá, mesmo deixando os filhos em
casa, dispender a média de 300 reais por ingresso em estádios que até o
deslumbrariam, se comparecesse. Como a classe média será capaz de arcar
com a despesa, a ela caberá aplaudir ou apupar a presidente, que não
anda muito bem de relações com o cidadão que paga impostos, que os
filhos frequentam escolas particulares e que as mulheres não deixam de
sentar-se nos salões de beleza. Já com o Lula a seu lado, a esperança é
de que a recepção possa ser diferente. Ou não?
ESFORÇO CONCENTRADO OU RECESSO REMUNERADO?
Os
presidentes da Câmara e do Senado já traçaram o roteiro para os
trabalhos a partir da próxima semana. As duas casas do Congresso não vão
paralisar suas atividades, durante a Copa do Mundo, mas nos dias e até
nas semanas de jogos do Brasil, haverá comparecimento zero nos plenários
e comissões. Se o selecionado brasileiro for se classificando nas
sucessivas etapas, menos deputados e senadores permanecerão em Brasília.
E com um bonus adicional: o jogo final da competição será a 13 de
julho. Dois dias depois iniciam-se as férias regulamentares. Quer dizer:
trabalho, mesmo, só em agosto…



