Via Unisinos -
O Palácio do Planalto montou uma ofensiva para evitar que qualquer
coisa dê errado na Copa do Mundo — do controle das manifestações ao bom
acolhimento dos estrangeiros, do funcionamento dos aeroportos ao
patrulhamento de eventuais greves de policiais —, e a principal aposta
do governo é na militarização das ruas nas cidades-sede da Copa do Mundo
para inibir a violência nas manifestações. Dez dias antes do começo dos
jogos, tanques do Exército, militares armados e policiais da Força Nacional de Segurança começarão a ofensiva.
O governo está particularmente atento a duas datas: 12 de junho, abertura oficial da Copa do Mundo, com a partida entre Brasil e Croácia, em São Paulo; e 14 de julho,
um dia após a final, quando acontecerá a Cúpula dos Brics (grupo
composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A presidente
Dilma Rousseff estará presente na abertura da Copa, na
Arena Corinthians, e tem convidado chefes de Estado para assistir ao
jogo. Para a cúpula, Dilma vai recepcionar os quatro chefes de Estado dos Brics.
A reportagem é de Simone Iglesias e Luiza Damé, publicada pelo jornal O Globo, 26-05-2014.
Unisinos - No Planalto, a avaliação é que os protestos de junho
do ano passado em todo o país foram “educativos”. A partir deles, foi
possível mapear os movimentos por trás das manifestações e os motivos de
cada grupo ir para as ruas. Um ministro da articulação política conta
que, ao PT, foi delegada a tarefa de “desarmar” os sindicatos e negociar
um armistício durante os meses de junho e julho. O governo avalia que
haverá manifestações, mas serão de categorias específicas e mais bem
organizadas.
Redes monitoradas
Quanto aos manifestantes mais radicais, coube à área de inteligência da Polícia Federal e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
estudar quem são e acompanhá-los. Integrantes de movimentos violentos
como os black blocs, inclusive no exterior, foram identificados e estão
sendo acompanhados. Redes sociais também estão sendo monitoradas.
— Hoje, nossa avaliação é que os grupos estão contidos, e temos
informações sobre eles. Em junho passado, todos fomos pegos de surpresa,
ninguém sabia de onde vinham as manifestações e quais as
reivindicações. De lá para cá, grupos foram contidos ou identificados. A
preocupação diminuiu — afirmou um ministro.
A “super quinta”, organizada há dez dias por manifestantes em várias
capitais como um “esquenta” para protestos mais vigorosos na Copa,
contribuiu para a avaliação do governo de que o ímpeto reivindicatório
arrefeceu. Para o Planalto, a violência dos protestos em 2013 afastou a
classe média das ruas.
— Foi planejado algo gigantesco, não deu certo, e tudo acabou em
quebra-quebra para dar mídia, ao menos. Se houver cem mil manifestantes
nas ruas, mas protestando pacificamente, não tem problema. Ninguém sai
ferido. Complicado em grandes eventos é lidar com vandalismo — disse um
dos responsáveis pela área de inteligência do governo.
Além da mobilização das Forças Armadas e da Força Nacional de
Segurança, a Advocacia Geral da União estará de plantão em todo o país
para evitar greves de policiais. O órgão terá prontas ações para
ingressar na Justiça, pedindo a ilegalidade de paralisações e mandando
policiais de volta ao trabalho. O modelo foi a ação contra as greves de
policiais na Bahia e em Pernambuco.
O governo está preocupado, ainda, em assegurar que a imagem final
para a população seja positiva. Por isso, o Planalto está distribuindo
aos 39 ministros de Estado e às principais autoridades federais um kit
com informações sobre o chamado legado da Copa, com dados das obras
feitas e das que ainda serão concluídas, além de um discurso padronizado
dos benefícios do evento. A ideia é reproduzir o discurso de Dilma, que
apelou à hospitalidade do brasileiro, para mostrar o que representa
para o país receber bem os estrangeiros.
O governo vai insistir também no retorno econômico do evento e
reafirmar o discurso de que houve, sim, investimento em estádios, mas
que nenhum centavo foi tirado da Saúde ou da Educação. Mais do que isso:
as obras nas cidades-sede só teriam sido aceleradas em razão da Copa.