23.5.14

FALTA AUTORIDADE

CARLOS CHAGAS -

Falta autoridade no país. Nada que se confunda com ditadura ou regime de exceção. Pelo contrário. Torna-se imprescindível demonstrar que democracia não é sinônimo de baderna. Que a liberdade não pode conviver com o caos.

Torna-se inadmissível numa sociedade livre e organizada o que temos assistido nas últimas semanas em matéria de greves, depredações, ocupação de áreas públicas e privadas, bem como ruas e avenidas.

Engana-se quem imaginar que terminada a copa do mundo tudo voltará ao normal, ou seja, a um sistema que admite o debate aberto, protestos, manifestações e até paralisações, mas sem perturbar a não ser de forma rápida e sem violência a vida do cidadão comum. É aquela história que ouvíamos em criança, do tigre da Índia.Velho, sem forças para perseguir os bichos da floresta, o animal postou-se na entrada de uma aldeia e passou a comer crianças. Gostou, não precisava fazer força e não queria outra refeição. Até que um dia a comunidade organizou-se e conseguiu matá-lo.

A greve é necessária, em muitas situações. Deve ser feita contra o patrão, seja ele empresário ou governante. Jamais contra o povo. É preciso inteligência, muito mais do que truculência.

Tome-se os rodoviários de São Paulo. Em vez de deixar os ônibus nas garagens, furar seus pneus e até estimular para que sejam queimados, por que não continuar circulando , mas com as catracas abertas? Sem cobrar passagem, fazendo feliz a multidão de usuários. Cada categoria de reivindicantes encontrará seu artifício para obter resultados até mais eficazes.

Quanto às depredações, é uma questão de polícia. E bem simples, se desenvolvido um sistema de informações mesclado à repressão necessária. Cadeia nos vândalos. Não seria difícil um entendimento com o Judiciário para tornar difíceis os recursos que em poucas horas levam os bandidos de volta às ruas.

Do jeito que as coisas vão, viver ficará impossível, no Brasil. Claro que menos para os governantes, isolados em seus gabinetes refrigerados e dispondo, quando não de helicópteros, ao menos de carrões de luxo. Não é com eles a greve dos ônibus, assim como as greves dos hospitais, da polícia, dos professores, dos aeroviários, dos metalúrgicos ou quaisquer outras categorias. Disporão sempre de privilégios especiais, jamais receberam salário mínimo. Em suma, a autoridade perdida começaria por eles, se descessem à planície. Para exercê-la, precisariam sofrer os males de sua ausência.

TODO O PODER AO JUDICIÁRIO

Em 1945, quando depuseram Getúlio Vargas, os militares não assumiram o poder. Foram buscar o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, para ocupar a presidência da República até a realização de eleições livres e diretas. Nos estados, foram recrutados os presidentes dos Tribunais de Justiça para substituir os governadores. A palavra de ordem no país era “todo o poder ao Judiciário”. Até que funcionou, naquela emergência.