CARLOS CHAGAS -
Falta autoridade no país. Nada que se
confunda com ditadura ou regime de exceção. Pelo contrário. Torna-se
imprescindível demonstrar que democracia não é sinônimo de baderna. Que a
liberdade não pode conviver com o caos.
Torna-se inadmissível numa sociedade livre e
organizada o que temos assistido nas últimas semanas em matéria de
greves, depredações, ocupação de áreas públicas e privadas, bem como
ruas e avenidas.
Engana-se quem imaginar que terminada a copa do mundo
tudo voltará ao normal, ou seja, a um sistema que admite o debate
aberto, protestos, manifestações e até paralisações, mas sem perturbar a
não ser de forma rápida e sem violência a vida do cidadão comum. É
aquela história que ouvíamos em criança, do tigre da Índia.Velho, sem
forças para perseguir os bichos da floresta, o animal postou-se na
entrada de uma aldeia e passou a comer crianças. Gostou, não precisava
fazer força e não queria outra refeição. Até que um dia a comunidade
organizou-se e conseguiu matá-lo.
A greve é necessária, em muitas situações. Deve ser
feita contra o patrão, seja ele empresário ou governante. Jamais contra o
povo. É preciso inteligência, muito mais do que truculência.
Tome-se os rodoviários de São Paulo. Em vez de deixar
os ônibus nas garagens, furar seus pneus e até estimular para que sejam
queimados, por que não continuar circulando , mas com as catracas
abertas? Sem cobrar passagem, fazendo feliz a multidão de usuários. Cada
categoria de reivindicantes encontrará seu artifício para obter
resultados até mais eficazes.
Quanto às depredações, é uma questão de polícia. E
bem simples, se desenvolvido um sistema de informações mesclado à
repressão necessária. Cadeia nos vândalos. Não seria difícil um
entendimento com o Judiciário para tornar difíceis os recursos que em
poucas horas levam os bandidos de volta às ruas.
Do jeito que as coisas vão, viver ficará impossível,
no Brasil. Claro que menos para os governantes, isolados em seus
gabinetes refrigerados e dispondo, quando não de helicópteros, ao menos
de carrões de luxo. Não é com eles a greve dos ônibus, assim como as
greves dos hospitais, da polícia, dos professores, dos aeroviários, dos
metalúrgicos ou quaisquer outras categorias. Disporão sempre de
privilégios especiais, jamais receberam salário mínimo. Em suma, a
autoridade perdida começaria por eles, se descessem à planície. Para
exercê-la, precisariam sofrer os males de sua ausência.
TODO O PODER AO JUDICIÁRIO
Em 1945, quando depuseram Getúlio Vargas, os
militares não assumiram o poder. Foram buscar o presidente do Supremo
Tribunal Federal, José Linhares, para ocupar a presidência da República
até a realização de eleições livres e diretas. Nos estados, foram
recrutados os presidentes dos Tribunais de Justiça para substituir os
governadores. A palavra de ordem no país era “todo o poder ao
Judiciário”. Até que funcionou, naquela emergência.