Via Direto da Redação -
O assassinato do repórter cinematográfico da TV Bandeirantes
Santiago Andrade deixou não só a família como todo o Brasil de luto. É triste a
morte, ainda mais nas circunstâncias em que ocorreu e que poderia até ser
evitada se o profissional de imprensa estivesse com equipamento de segurança
adequado para coberturas em áreas de risco.
Mesmo antes da tragédia, durante negociações salariais da
categoria dos jornalistas no Município do Rio de Janeiro, os representantes dos
empresários midiáticos se recusaram a aceitar clausula prevendo a garantia das
empresas em fornecer equipamentos de segurança para os repórteres. Esse fato,
denunciado pela Presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Município do Rio de Janeiro, Paula Mairán, foi ignorado no noticiário sobre o
assassinato de Santiago.
Da mesma forma que se condena a violência de alguns poucos,
que não leva a lugar nenhum e na prática faz o jogo de setores da elite que
tentam sempre impedir qualquer tipo de mobilização e organização popular, não
se pode silenciar diante da ação truculenta da Polícia Militar que obedece a
voz de comando do Governador para reprimir os protestos.
Infelizmente, nesse contexto se inserem grupos midiáticos de
mercado. No caso do Rio de Janeiro, as Organizações Globo bate recordes em
matéria de criminalização dos movimentos sociais e de manipulação da
informação.
Vale um parênteses. Este mesmo grupo há poucos meses fez uma
autocrítica por ter apoiado o golpe de 64. Tratou-se apenas de uma ação
mercadológica para tentar limpar a sujeira do apoio, porque na prática a
filosofia da Globo continua a mesma de 50 anos atrás.
O mesmo ódio que nutriam contra as autoridades constituídas,
sobretudo o Presidente constitucional João Goulart, nos dias de hoje fazem
semelhante em relação aos movimentos sociais e a alguns políticos que não rezam
pela cartilha da família Marinho. Os tempos e o cenário não são os mesmos de
64, até porque o mundo e o país mudaram substancialmente, mas a forma de
manipular a informação segue vigente.
O que dizer de uma mídia impressa, e a eletrônica segue o
mesmo caminho, que apresenta um editorial, como de O Globo, sob o título
“Quando os black blocs e o MST se encontram”? É a opinião do grupo, que em
essência em nada difere de editorais que antecederam ao golpe empresarial
militar de 64.
E tem mais uma agravante, não é de hoje que as Organizações
Globo criminalizam o mais importante movimento social da América Latina, talvez
do mundo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. E também não é
de hoje que o grupo da família Marinho, bem como outras mídias, tem vínculos
estreitos com o setor do agronegócio.
Um boato durante uma manifestação pacífica de mais de 15 mil
trabalhadores rurais que realizavam seu VI Congresso em Brasília fez acionar de
forma violenta a Polícia Militar. Alguém, sabe-se lá quem, mas pode-se imaginar
os responsáveis, lançou a versão mentirosa segundo a qual um ônibus dos
trabalhadores com material de acampamento guardava armas para enfrentar a
polícia. Desrespeitando os manifestantes, PMs de forma truculenta se dirigiram
ao ônibus e aí começaram os confrontos.
O esquema Globo, que não faz jornalismo, e nestes casos age
como um partido político retrógrado, culpou o MST pela ocorrência e no dia
seguinte ainda equiparou os manifestantes pela reforma agrária aos Black Blocs.
Os boatos em Brasília chegaram as raias do absurdo quando um
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que presidia os
trabalhos, ordenou a suspensão de uma sessão da instância máxima da justiça brasileira
alegando “ameaça de invasão”. Mentira total, mas os canais de televisão,
capitaneados pela Globo, deram o maior destaque à ameaça que nunca existiu.
É preciso dar um freio nessa manipulação midiática grosseira
que tem por objetivo impedir a continuidade das manifestações populares e ainda
a aplicação de uma legislação restritiva às mobilizações populares. E de quebra
ainda facilita o jogo de uma oposição de direita sem bandeiras.
Se o espaço midiático eletrônico fosse melhor distribuído,
digamos com 33% do espectro dividido para a iniciativa privada, pública,
estatal e com garantia para canais da cidadania, os brasileiros teriam
certamente maiores opções de se informar e não estariam sujeitos, como agora,
ao esquema grosseiro de manipulação da informação da mídia de mercado.
Nas manifestações populares que ocorrem em todo o país, o
tema mídia tem ganho maiores espaços, o que preocupa sobremaneira os
proprietários dos grandes veículos de comunicação, os mesmos que estão
criminalizando os movimentos sociais ao misturarem alhos com bugalhos, como
equiparar Black Bloc ao MST.
* Texto de Mario Augusto Jakobskind.