16.2.14

JOGO BRUTO DA MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Via Direto da Redação -

O assassinato do repórter cinematográfico da TV Bandeirantes Santiago Andrade deixou não só a família como todo o Brasil de luto. É triste a morte, ainda mais nas circunstâncias em que ocorreu e que poderia até ser evitada se o profissional de imprensa estivesse com equipamento de segurança adequado para coberturas em áreas de risco.

Mesmo antes da tragédia, durante negociações salariais da categoria dos jornalistas no Município do Rio de Janeiro, os representantes dos empresários midiáticos se recusaram a aceitar clausula prevendo a garantia das empresas em fornecer equipamentos de segurança para os repórteres. Esse fato, denunciado pela Presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Paula Mairán, foi ignorado no noticiário sobre o assassinato de Santiago.

Da mesma forma que se condena a violência de alguns poucos, que não leva a lugar nenhum e na prática faz o jogo de setores da elite que tentam sempre impedir qualquer tipo de mobilização e organização popular, não se pode silenciar diante da ação truculenta da Polícia Militar que obedece a voz de comando do Governador para reprimir os protestos.

Infelizmente, nesse contexto se inserem grupos midiáticos de mercado. No caso do Rio de Janeiro, as Organizações Globo bate recordes em matéria de criminalização dos movimentos sociais e de manipulação da informação.

Vale um parênteses. Este mesmo grupo há poucos meses fez uma autocrítica por ter apoiado o golpe de 64. Tratou-se apenas de uma ação mercadológica para tentar limpar a sujeira do apoio, porque na prática a filosofia da Globo continua a mesma de 50 anos atrás.

O mesmo ódio que nutriam contra as autoridades constituídas, sobretudo o Presidente constitucional João Goulart, nos dias de hoje fazem semelhante em relação aos movimentos sociais e a alguns políticos que não rezam pela cartilha da família Marinho. Os tempos e o cenário não são os mesmos de 64, até porque o mundo e o país mudaram substancialmente, mas a forma de manipular a informação segue vigente.

O que dizer de uma mídia impressa, e a eletrônica segue o mesmo caminho, que apresenta um editorial, como de O Globo, sob o título “Quando os black blocs e o MST se encontram”? É a opinião do grupo, que em essência em nada difere de editorais que antecederam ao golpe empresarial militar de 64.

E tem mais uma agravante, não é de hoje que as Organizações Globo criminalizam o mais importante movimento social da América Latina, talvez do mundo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. E também não é de hoje que o grupo da família Marinho, bem como outras mídias, tem vínculos estreitos com o setor do agronegócio.

Um boato durante uma manifestação pacífica de mais de 15 mil trabalhadores rurais que realizavam seu VI Congresso em Brasília fez acionar de forma violenta a Polícia Militar. Alguém, sabe-se lá quem, mas pode-se imaginar os responsáveis, lançou a versão mentirosa segundo a qual um ônibus dos trabalhadores com material de acampamento guardava armas para enfrentar a polícia. Desrespeitando os manifestantes, PMs de forma truculenta se dirigiram ao ônibus e aí começaram os confrontos.

O esquema Globo, que não faz jornalismo, e nestes casos age como um partido político retrógrado, culpou o MST pela ocorrência e no dia seguinte ainda equiparou os manifestantes pela reforma agrária aos Black Blocs.
Os boatos em Brasília chegaram as raias do absurdo quando um dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que presidia os trabalhos, ordenou a suspensão de uma sessão da instância máxima da justiça brasileira alegando “ameaça de invasão”. Mentira total, mas os canais de televisão, capitaneados pela Globo, deram o maior destaque à ameaça que nunca existiu.

É preciso dar um freio nessa manipulação midiática grosseira que tem por objetivo impedir a continuidade das manifestações populares e ainda a aplicação de uma legislação restritiva às mobilizações populares. E de quebra ainda facilita o jogo de uma oposição de direita sem bandeiras.

Se o espaço midiático eletrônico fosse melhor distribuído, digamos com 33% do espectro dividido para a iniciativa privada, pública, estatal e com garantia para canais da cidadania, os brasileiros teriam certamente maiores opções de se informar e não estariam sujeitos, como agora, ao esquema grosseiro de manipulação da informação da mídia de mercado.

Nas manifestações populares que ocorrem em todo o país, o tema mídia tem ganho maiores espaços, o que preocupa sobremaneira os proprietários dos grandes veículos de comunicação, os mesmos que estão criminalizando os movimentos sociais ao misturarem alhos com bugalhos, como equiparar Black Bloc ao MST. 

* Texto de Mario Augusto Jakobskind.