2.2.14

A CANETA DE DILMA E A TINTA DE MERCADANTE

CARLOS CHAGAS - 
Aloísio Mercadante toma posse, amanhã, num ministério que já vinha exercendo há algum tempo. Terça-feira, como chefe da Casa Civil, vai ao Congresso entregar a mensagem anual da presidente Dilma. A principal função do ex-ministro da Ciência e Tecnologia e da Educação será a coordenação política do governo. Mais até do que a coordenação administrativa. Cai na mesma armadilha onde José Dirceu se estrepou. O hoje inquilino da penitenciária da Papuda bateu de frente com Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política, conseguindo afastá-lo. Mercadante, agora, enfrenta Ideli Salvatti, confirmada para continuar exercendo a mesma atividade. Trata-se de mais uma redundância, mas daquelas cujo resultado é previsível. A ministra será atropelada.
Abrindo mão de candidatar-se ao Congresso para exercer as funções de primeiro-ministro informal, Mercadante posiciona-se para continuar onde está no segundo mandato, caso Dilma se reeleja. O resto é um grande ponto de interrogação, desfazendo-se como fumaça o raciocínio de que desde já ele aparece como candidato presidencial às eleições de 2018. Muita água passará sob e sobre a ponte, a começar pelo tsunami chamado Lula. Se mesmo agora o ex-presidente contava com mais da metade das esperanças do PT de que se candidatasse este ano, daqui a quatro anos haverá unanimidade para que volte após o novo mandato de Dilma. Ou, caso sobrevenha a derrota da presidente, com mais força ainda.
O retorno do primeiro-companheiro só não se confirmará caso ele não queira ou não possa. Estará na casa dos setenta anos, já enfrentou grave doença e, além de tudo, anda muito satisfeito com a alternância entre a prática política e o ócio. Faz o que quer, quando quer.
De um virus, no entanto, Aloísio Mercadante parece vacinado. Jamais envolverá o PT em negócios escusos do tipo mensalão. Suas iniciativas no campo da preservação de maioria parlamentar para o governo devem passar longe do dinheiro vivo. Existem, porém, outras formas de conquistar o apoio de deputados e senadores. A caneta do palácio do Planalto é abastecida com tinta preparada na Casa Civil.
DINHEIRO NÃO CAI DO CÉU
José Genoíno tinha multa de 650 mil reais. Em menos de duas semanas arrecadou mais de 700 mil. Agora Delúbio Soares estava condenado a pagar 466 mil reais e já conseguiu um milhão. Quem quiser que acredite nessa história de contribuição de montes de companheiros humildes. As doações vieram de grandes empresas, em especial empreiteiras, que mantém contratos com o governo. Caso o Ministério Público, a Polícia Federal e a Receita Federal decidam investigar a origem desse dinheiro, acontecerá o quê? Nada.