19.1.14

A VOVÓ DE DAVOS

SEBASTIÃO NERY -

Logo após o golpe militar de 1964, que está fazendo 50 anos, o ditador Castelo Branco despachou Lacerda, governador da Guanabara, para uma viagem à Europa e Estados Unidos, a fim de tentar “explicar” a lambança. Lacerda andou por Paris, Bonn, Londres, Lisboa, Nova York.

Em Nova York, Lacerda foi jantar com Juracy Magalhães, embaixador em Washington, o editor Alfredo Machado (Editora Record) e o editor norte americano Alfred Knopf.  Chegou o garçom com a sopa:

       - Oh, governador, o senhor por aqui?
       - Oh, rapaz, você é brasileiro?
       - Sou. Sou de Belo Horizonte.

JURACY

       Quando o garçom serviu Juracy, não o reconheceu, Juracy ficou chateado mas não disse nada. Alfredo Machado estava sendo servido:

       - Quanto é que você faz aqui?
       - Bem, doutor, ganho um total de 700 a 800 dólares por mês.
       - Poxa, esse mineirinho ganha quase como um embaixador.
       - É, mas nós trabalhamos.

       Juracy, e com razão, explodiu:

       - É por isso é que a vida pública é uma coisa insuportável. A gente se sacrifica o tempo inteiro e quando chega à idade a que cheguei, depois de todos os serviços que prestei ao Brasil, um menino diz que trabalha mais do que um embaixador. Então ele acha que eu vim aqui como vagabundo?
       O garçom desapareceu no fundo do restaurante.

DILMA

          Ainda bem que, apesar de cada dia mais gorda e bojuda,  ninguém vai deixar de reconhecer Dilma no Fórum Econômico de Davos, que começa esta semana na Suíça. O perigo é ela jogar o pais no ridículo, tentando dar uma de Vovó de Davos, a avó sabichona, querendo ensinar tudo ao mundo, falando lá fora como fala aqui dentro, mentindo deslavadamente sobre os tristes números da economia brasileira. O mundo ficou um só. Depois do Obama, todo mundo sabe tudo de todo mundo.

       Infelizmente a Dilma vai chegar lá de saco vazio. Vai levando o humilhante “Pibinho” de 1%  de 2012  e o vergonhoso “Pibezinho” de 2%  de 2013. E, para este ano, depois de ser obrigada a dar aos banqueiros a escravista taxa de juros de 10,5,o máximo que pode acenar para a economia nacional em 2014 é repetir os 2% de 2013. Não dá nem para a merenda.

ROMBO

1 – Vejam a lúcida Miriam Leitão em “O Globo”: -“Foram 23 bilhões de dólares gastos lá fora com viagens contra 6,1 bilhões de dólares que entraram no país com turistas estrangeiros. Um rombo de 16,9 bilhões de dólares na conta turismo. A balança comercial registrou até novembro 39,3 bilhões de dólares de importação de petróleo e derivados. Parte disso é combustível de 2012, que foi jogado na estatística de 2013. Como houve apenas 19,8 bilhões de dólares de exportação, o rombo do setor petróleo e derivados chegou a 19,5 bilhões de dólares no ano”.

       2 – Ex-secretário da Receita Federal, o consagrado Everardo Maciel atesta - “A conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias, são males cuja superação vai requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política”.

JUROS

       3 – O sistema financeiro fica com 5% do PIB brasileiro na cobrança de juros, quando internacionalmente a média é entre 1% e 2%. O respeitado  economista Amir Khair, um dos fundadores do PT, exemplifica: 
    
       - “Predomina nas análises a visão do mercado financeiro, para o qual não interessa pôr foco nos juros como despesa. E, para desviar a atenção, colocam o foco em, outro lugar. E por que não interessa? Porque é a mais importante fonte de lucro do sistema financeiro, inclusive de parte importante do setor não financeiro nos ganhos originados em aplicações nos títulos do governo federal”. E completa:

-  “É semelhante ao caso do ladrão que, após se satisfazer no roubo, sai da casa roubada correndo e gritando: “Pega Ladrão!”.

       Vovó Dilma vai ter coragem de gritar “Pega Ladrão!” em Davos?