18.12.13

VIVA A MÚSICA BRASILEIRA E A DIVINA ELIZETH CARDOSO

Via Fazendo Media -
Seria chover no molhado dizer que a nossa MPB é umas das melhores músicas do mundo, mesmo contra o mercado internacional que às vezes vem com artistas que nos fazem duvidar do gosto. Não quero dizer que sou contra música estrangeira, pelo contrário, o Rock in Rio está aí. Graças a ele vimos pela televisão Alicia Kiss (bela), Rob Thomas, Justin Timberlake, Erikha Badu e George Benson (cantando bem) e tantos outros do passado e atuais que brilham no cenário musical.
Destaco em nossa MPB as intérpretes femininas, que por várias gerações vêm nos brindando com suas performances próprias, estilo e tons de vozes. É muito fácil identificá-las somente pelo cantar. Vou destacar uma delas, que fez das suas interpretações a arte do ofício: Elizeth Cardoso. Não se trata de dizer que é a melhor, mas a sua pluralidade com a música popular brasileira é singular. É considerada por Chico Buarque a mãe das intérpretes da MPB.
Ele exagerou? Sem dúvida que não. Quem acompanhou e acompanha sua trajetória sabe por que Chico Buarque colocou mais esse adjetivo, dentre outros, em Elizeth Cardoso. Uma cantora revelada por Jacob do Bandolim na década de trinta, que interpretou várias vertentes do nosso cancioneiro desde o samba, passando pelo sertanejo (o verdadeiro), a bossa-nova até o clássico erudito. São poucas ousadas que fazem isso.
Na década de 60 ela aceitou o convite do Maestro Diogo Pacheco em interpretar a obra do compositor Villa-Lobos, no Teatro Municipal. O desafio até então parecia estranho, uma cantora popular cantando clássico, mas para quem conhece o Maestro sabia que ele estava no caminho certo. Pacheco tem um profundo compromisso de levar a música clássica para o povo, e nada mais justo que escolher uma cantora do povo para cantar Villa-Lobos. Quem assistiu a apresentação no Teatro Municipal do Rio e São Paulo diz que Elizeth estava em estado de graça. A ousadia valeu.
A ousadia não para por aí, em 1968 a Divina (seu apelido) realizou no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, junto com Hermínio Bello de Carvalho, um dos melhores shows da história do Teatro. Elizeth interpretou ao lado do conjunto Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e o conjunto Época de Ouro, o casamento perfeito entre dois gêneros musicais: O Jazz e o Chorinho.
Isto nos mostra o quanto a cantora era uma intérprete que sabia desenvolver diversas vertentes da MPB. Não havia barreiras. Não fazia questão de compositores, cantava de tudo: Noel Rosa, Tom, Vinícius, Ary Barroso, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Jorge Aragão, João Nogueira, Baden Powell, Djavan, etc. Tudo era belo em sua voz. O apelido de Divina, dado por seu amigo Haroldo Costa, era justificável.
Poucas pessoas sabiam sobre o estado de saúde da cantora, mas ela não se deixou abater e foi fiel até o último suspiro. Seu último show com o violonista Raphael Rabelo foi magistral. O show seria ao vivo, mas por questões técnicas não foi possível. Mesmo assim, entrou no estúdio de gravação e fez seu trabalho. A gravação saiu melhor ainda, foi acima das expectativas. Sem orquestra e sem mixagem, a Divina fez jus ao apelido. O trabalho se chamou Todo Sentimento, de autoria de Chico Buarque. Lindo. O último trabalho foi como Elizeth queria, triunfal.

Elizeth continuará eterna nas mentes e corações de seus fãs. Não citá-la na história da Música Popular Brasileira é um crime contra a memória e a cultura do nosso país.
Elizeth: uma voz insuperável