Matéria original de Breno Costa -
Na década de 1980, uma CPI agitava o Congresso Nacional. A investigação tinha como foco a compra pelo Grupo Abril de dois terrenos, em Salvador (BA) e São Luis (MA), para a construção de hotéis Quatro Rodas. Os governadores dos estados em questão eram, à época, ACM e José Sarney, respectivamente. Ambos doaram belíssimos parques para a construção dos hotéis, sob a condição de que estes fossem parcialmente conservados.
Pouco depois o Grupo Abril, comandado por Roberto Civita, vendeu os hotéis à multinacional espanhola Sofitel. Mas só vendeu os hotéis.
A parte conservada dos parques ficou em posse de Civita, que os loteou, construindo centenas de casas no local.
A parte conservada dos parques ficou em posse de Civita, que os loteou, construindo centenas de casas no local.
A denúncia é de Sebastião Nery, jornalista da Tribuna da Imprensa, reverberada pelo atual governador do Paraná, Roberto Requião, em discurso no Congresso Nacional, em setembro de 1999, quando ainda era senador pelo PMDB. O gesto de ACM parece ter-lhe garantido um bom trânsito na empresa de Civita. É o que fica nítido após a leitura do artigo do jornalista Cláudio Júlio Tognolli na “Caros Amigos” (dezembro de 2003).
Tognolli revela alguns detalhes - não divulgados pela grande mídia - da Operação Anaconda, que resultou na prisão do juíz João Carlos da Rocha Mattos, acusado de venda de sentenças, juntamente com outros integrantes do Judiciário brasileiro. No seu relato, ele conta que, em 1988, então repórter da revista “Veja”, publicaria 1.017 nomes de ilustres brasileiros, acusados de lavagem de dinheiro. O repórter, então, é jurado de morte por Rocha Mattos, que tinha ligações com os acusados. Resultado: um telefonema do sogro para a direção da “Veja” impediu a publicação da matéria.
Mais denúncias
Mas Roberto Requião não se limitou a repetir as denúncias de Sebastião Nery (discurso disponível em www.senado.gov.br/web/senador/requiao/requiao.htm). Ele contou aos senadores que, assim que asumiu o governo do Paraná, em 1990, abriu processo contra o banco Bamerindus, presidido por José Eduardo de Andrade Vieira, por danos causados ao patrimônio público do Paraná. Entretanto, não levou a questão a público. Roberto Civita ficou sabendo do processo e passou a procurar Requião para saber mais detalhes, insistindo que a questão deveria ser tornada pública pela sua gravidade. Requião cedeu e Civita enviou quatro jornalistas para investigar o caso.
Dias depois, ainda duvidando da publicação da matéria, pelo fato de o Bamerindus ser um dos principais anunciantes da revista “Veja”, Requião recebe um telefonema de Civita, que teria dito o seguinte: “Governador, compre a próxima Veja e o senhor verá o que é uma revista independente.” Requião comprou. Mas o que viu foram seis páginas de propraganda do Bamerindus. Nenhuma linha sobre o caso fora publicada. As informações obtidas por Roberto Civita serviram, de acordo com o relato de Roberto Requião, apenas para chantagear o Bamerindus, que teve sua propaganda estampada na revista por mais de seis meses. Para Roberto Requião, restou ser ridicularizado pela revista quando se posicionou contra a liberação do plantio e comércio de transgênicos no Brasil, na edição 1826 da revista, sendo chamado de “governador caça-manchetes” pela publicação.
"Cretino"
Outro exemplo de posições políticas “duvidosas” tomadas pela “Veja” pode ser visto na capa de 23.03.1988. Collor é içado ao pedestal como um valente caçador de marajás.
“Cretino”, “panaca”, “arrogante” e “bobalhão” são alguns dos adjetivos usados por Mino Carta, editor de “Carta Capital” e ex-diretor de redação da “Veja”, para definir Roberto Civita. Na época, a Editora Abril buscava a liberação pelo governo da obtenção de um empréstimo milionário junto a instituições financeiras internacionais. Roberto Civita, em 1976, diz para o então ministro da Justiça, Armando Falcão, que Mino era o responsável pelo caráter da revista. Em seguida, Mino pede demissão da revista, por se recusar a trabalhar com Roberto. Logo após sua saída, o tal empréstimo é liberado pela Caixa Econômica Federal.
Para alguém que, como o italiano Roberto Civita, cursou Física Nuclear e Jornalismo nos Estados Unidos e que, segundo Sebastião Nery, só redige memorandos em inglês para seus subordinados na Editora Abril, tanta pompa não parece ter servido como impulsora de um caráter muito louvável...