Carlos Chagas -
Nada a opor às diretrizes divulgadas pelo PSDB como ideais de novo governo, se Aécio Neves ganhar a eleição. O problema é que são enunciados genéricos, sonhos de noite de verão, quando esperava-se um programa de verdade, com um elenco de promessas concretas a respeito das grandes questões nacionais.
Fazer o quê, por exemplo, no “combate intransigente à corrupção”? Mudar o Código Penal para aumentar as penas dos corruptos e corruptores? Extinguir os montes de recursos que fazem os ladrões de colarinho branco passear sua impunidade por restaurantes de luxo?
“Respeito às instituições” é obrigação de todos, mas quais delas estão exigindo reformas e mudanças? O Congresso, por exemplo, precisa permanecer ao abrigo de leis que valem para todo mundo? Deve perder o mandato o parlamentar que for condenado na Justiça, mas em que limites?
O que será “combater a radicalização da democracia”? Coibir manifestações violentas nas ruas, aprimorar as forças de segurança, federalizar a ação contra badernas e depredações? “Segurança pública como responsabilidade nacional”: utilizar as forças armadas no patrulhamento das cidades, duplicar o contingente da Polícia Federal, reforçar o caixa de estados e municípios para aprimoramento de suas polícias?
Outra diretriz prega a construção de um ambiente adequado para investimentos. Mas como? Cerceando as remessas de lucros ou isentando ainda mais de impostos o capital especulativo? Entre os dois extremos, os tucanos deixam definições em aberto.
Dizer que o Estado precisa ser eficiente e estar a serviço dos cidadãos vem sendo dito desde a Grécia Antiga, mas que tipo de Estado pretendem estabelecer? Ausente ou paternalista? A serviço das elites ou voltado para as carências sociais?
Depois vem a exortação por uma educação de qualidade, “para um novo mundo”. Seria importante para o eleitorado saber se vão implantar outra vez os CIEPS do velho mundo de Leonel Brizola, favorecer os estabelecimentos privados ou de que forma estimular o ensino público?
“Superar a pobreza e construir novas oportunidades”. Mais bolsa-família ou cobrar a função social das empresas através da participação dos empregados em seus lucros? Aumentar ou reduzir o número de funcionários públicos?
São genéricas e prestam-se a todo tipo de interpretação as diretrizes ontem divulgadas. Algumas até meio ingênuas, como “reintegrar o Brasil ao mundo”. Por acaso estamos na estratosfera ou, matreiramente, preparam nossa adesão total ao neoliberalismo hoje condenado pelo próprio Papa?
Precisam definir-se. Em especial o candidato Aécio Neves: de que maneira tratará da agropecuária “para alimentar o presente e o futuro”? Reduzindo a carga fiscal no campo ou promovendo a reforma agrária? Ampliando a demarcação de reservas indígenas ou incorporando os índios à civilização? Tabelando o preço de gêneros de primeira necessidade ou favorecendo o chamado mercado?
“Infraestrutura, inovação e competitividade”. Inovar em transportes exprime apoio a dezenas de trens-bala? Ao aumento ou à extinção de pedágios nas estradas? Privatizar ainda mais rodovias ou apresentar um plano de expansão ferroviária que apenas o poder público conseguirá implantar? Competitividade entre os pimpolhos das elites e o menino esfarrapado que ignora quem foi o pai e onde está a mãe? Ou entre São Paulo e o Piauí?
Mais saúde para os brasileiros importando médicos de Cuba ou aplicando recursos em massa na ampliação do número de faculdades de medicina? Melhorando salários, condições de trabalho e aumentando o número de enfermeiros?
Em suma, postulados dignos de ser entoados por qualquer congregado mariano, mas sem efeito prático algum nas dúvidas que cercam o eleitor. Do que precisávamos mesmo seria um programa detalhado de ação. Ficam devendo, os tucanos…