29.12.13

CHEGANDO O FIM DO PRIMEIRO ANO DO PAPADO DE FARANCISO: ‘ANTICAPITALISMO’ SOB OLHAR DO MERCADO SIMBÓLICO

Via Fazendo Media -
Aos poucos vem chegando o fim do primeiro ano do pontificado e o papa Francisco de Roma cada dia mostra mais à face. Mesmo diante do papa emérito, Bento XVI, o papa Francisco não vem se intimidando, ao contrário, atua sem referências diretas ao antecessor.
Mesmo em pouco tempo, não se pode negar que Francisco vem mudando o rosto da igreja imprimindo um rosto mais pastoral e missional. Também, após os escândalos estourados no mandato de Bento, um governo com olhos no próprio umbigo acarretaria com o gradual sepultamento da milenar expressão religiosa.
Nas imagens, gestos, homilias e prédicas do papa Francisco vem mostrando apelo mais humano aos fiéis. Católicos mais liberais nutrem esperanças de que com ele chegara à hora de o Concilio Vaticano II seja finalmente posto em prática – 50 anos após ele. Concílio, onde se propôs um novo horizonte para igreja enraizando um diálogo mais amplo com a sociedade, se relacionando e integrando a ela. E, ao se relacionar com o Mundo se teria condições de se fazer críticas a ele. O que de fato se vê nos gestos do papa.
Com uma imagem simples sem muitos apetrechos medievais, celebração direta e acima de tudo sua crítica às formas atuais da modernidade capitalista. Nisso, alguns entusiastas (e críticos) dizem que faz da sua leitura social a partir do revolucionário Marx ou do reformismo de Keynes. Causando rebuliço no círculo dos mais conservadores.
Contudo, o rebuliço decorre da falta de conhecimento das religiões mundiais. Sim, por que, se vêm (propositadamente) apagando da memória que a tradição católico-cristã é anterior ao renascimento-humanista moderno. O grosso da tradição cristã é anterior à formação da modernidade.
Assim, inevitavelmente a imaginação religiosa cristã suspira formulações pré-capitalistas, que destoam do capitalismo hoje. Processo de compreensão que pode ser configurado como uma forma de anticapistalismo. O que não é diretamente o que os opositores desse papado vêm afirmando. Ao dizer que têm posições ligadas a credos comunistas. Entretanto, uma linha do anticapitalismo pode ser apenas uma crítica a essa forma de capitalismo robusto atual. Nesse sentido, a doutrina social do papa Francisco tem aproximações ao trabalhismo latino-americano, como, o peronismo argentino. Onde não se concorda com tamanha exploração do trabalhador e do pobre como no liberalismo de hoje.
Aliás, um detalhe estético: os gestos do Papa Francisco na vinda ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) muito se parecia com os gestos praticados por Perón na Casa Rosada, na sacada acenando, cumprimentando e falando aos argentinos.
Não se pode dizer que seus apelos contra os religiosos que vivem apenas intra- paróquias, os que ostentavam com carros do ano, ou (os bem-vindos) palavrões na comunidade do Rio, e também, seu carinho com as crianças são frutos de um papado socialmente progressista-revolucionário; embora, o somatório seja uma novidade na Cúria. Nem tão pouco se pode negar que há uma necessidade mundial de que haja uma figura que acene a humanização da religião.
Em todo caso, não se pode perder de vista que as atitudes/atos do papado são frutos de uma religião altamente estruturada e racional. Ou seja, as ações do atual papado devem ser compreendidas (também) diante do mercado simbólico, quando globalmente se vê a expansão contínua do islamismo na Europa e de formas secularizadas na Europa. E, na América Latina se afere o crescimento vertiginoso de pentecostais e neo-pentecostais. Tanto é que estatisticamente a previsão que em 2050 (ao mantendo a taxa de crescimento) os evangélicos seriam a maior expressão religiosa nacional. Tétrico de tão complexo que isso é.
No geral, espera-se que o dado da humanização nos gestos e falas do Papa Francisco ajudem o catolicismo a retornar quadros perdidos pelas formas religiosas da modernidade (ultra) capitalista. Ações nas quais devem ser pensadas no primeiro momento do mandato como busca de interlocução: consulta aos fiéis das paróquias sobre o tema da família, o acesso direto de seu secretário Alfred Xuareb acompanhando o Instituto para as Obras da Religião (IOR) no Banco da Fé (Banco do Vaticano) os desfalques no banco, e o tratamento de cada caso dos crimes de religiosos católicos.
Com a consulta das famílias católicas se espera abrir o diálogo da estrutura com os fiéis para reverberar nas reflexões do Sínodo da Família previsto para 2014. Evento no qual se têm esperança que sejam revistos posições frente aos casamentos, divórcios e relacionamentos matrimoniais intra-igreja. O que seria fundamental pela quantidade de católicos impedidos de partilhar da eucaristia por conta do segundo casamento. Detalhe que retira uma quantidade de fiéis, famílias para instituições evangélicas.