MARCELO MÁRIO DE MELO -
Ignorantação.
O mundo tem muita coisa ignorada e a gente não sabe ignorantar.
A gente gosta de resposta pronta para tudo, como prato feito ou à la carte no cardápio. A gente gosta de conhecer pedaço de coisa e guardar na caixinha feito pedra de dominó. Mas há muita coisa na vida que não entra no abecedário nem tem dialeto. Coisa que existe em tique-taque de tripa e fome do que se desconhece.
A ignorantação é um rio de vibrações com matriz de música e se navega nele sem remo de palavra de alfabeto. A gente entra na água mudo e começa a falar com palavras-sons desconhecidas que nascem e se costuram na hora.
Aí a gente fala, fala, e continua sem saber de nada do que falou, mas se dá por satisfeito e pode pôr o ponto final. Assim como se cantarola larari-larará, rum-rum-rum, e não existe coisa larari-larará, nem coisa rum-rum-rum.
A antacalamalúcia
antulou cantarismando.
Vou palavrando nas águas
o que não sei quê e quando.
Palavra-som aguArada
eu falo ignorantando.
É assim que a gente ignoranta.
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VOEJANDO
O sol faz fogueira nos olhos
e navego rutilâncias
no arco-íris inventado.
Clips e clips desmandam
mergulhando em tobogã
de nuvem na lagoa.
O pássaro roxo se enfolha
em pétalas de pavão
na carcaça do touro.
O norte suleia
esperanças remordidas
singrando verniz e pus.
O amor deposita
juras e juros
na arca dos poréns.
O anjo moleque
vira a mesa
e peida flores
no funeral.