7.11.18

NA COMEMORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 88, CARMEN LUCIA FESTEJOU MAS TAMBÉM ALERTOU; BOLSONARO NO CONGRESSO E A PRIMEIRA COLETIVA DE MORO

HELIO FERNANDES -


A ex-presidente do STF fez discurso empolgante, cívico, patriótico, lembrando o passado e o presente, e projetando tudo no futuro bem visível. Disse textualmente: "Não podemos perder os direitos que conquistamos depois de enorme resistência e combate". E relacionou os direitos: "Humanos, econômicos, políticos, financeiros, sociais, de liberdade".

Alem de acentuar que precisamos preservar e não perder ou desperdiçar o que conquistamos democraticamente, deixou implícito e explicito, o que devemos á Constituição de 88. 1 ano depois de promulgada a Carta Magna, a satisfação de todo o país pela eleição direta de 1989. Era a primeira manifestação do cidadão-contribuinte-eleitor, desde 1960.

Foram 29 anos com o povo ignorado, explorado e desprezado. Só que o alerta da ex-presidente não parou por aí. Repetindo suas palavras de forma textual: "Estamos caminhando PERIGOSAMENTE por um roteiro conservador". A ex-presidente foi PERIGOSAMENTE generosa com o capitão eleito de forma transversa e até criminosa.

Ele não é conservador, não ha no seu passado nada que queira ou mereça ser conservado. Bolsonaro é reacionário, retrógrado, ruinoso, autoritário, arbitrário, atrabiliario. Tudo o que ele detesta é a democracia.

Até na simples escolha da sua equipe de ministros, age de forma calamitosa, como aconteceu na indicação do ministro da Justiça, quando confessou praticamente a ligação espúria entre os dois, durante a campanha presidencial, com o magistrado favorecendo abertamente a eleição do capitão.

Quando na fase inicial da campanha, sugeriram seu nome como presidenciável, respondeu até irritado: "Sou magistrado não quero fazer carreira política". Agora, passado o tempo, mudou completamente do que fingia ser uma convicção. E sem o menor constrangimento, com a vaga garantida no mais alto tribunal do país, abandona a magistratura, mergulha fundo na carreira política.

O entrelaçamento entre os dois durante a imoral e amoral campanha presidencial, prevaleceu, previsivelmente por um longo tempo. Um objetivo que serve aos dois. Mas que assusta o país. Os 2008 milhões de habitantes, correm seriíssimo perigo. Ou risco permanente.

BOLSONARO NO CONGRESSO

Estranha e desnecessária a presença do presidente eleito numa reunião em que se exaltava a democracia. Sua campanha presidencial foi feita toda na presunção, de que prescindiria (ou até repudiaria) a participação do Congresso no seu governo. Seu vice, um irresponsável completo, chegou a exibir um programa de governo autoritário e até uma constituinte, nomeada por ele. Isso para um vice, absurdo completo.

Bolsonaro só demonstrou apreço e respeito pelo Congresso, 15 minutos depois de terminada a apuração do segundo turno, e garantida sua vitoria. Foi claro, taxativo, exemplar. Afirmou: "Não haverá constituinte. Farei 3 reformas constitucionais, com aprovação obvia do Congresso". Disseram que era reprimenda ao vice, e era mesmo. Mas era também um compromisso com a democracia, o que ele mais despreza.

Pois ontem na festa da democracia, ele se colocou voluntariamente como alvo. Todos os oradores exaltaram o regime democrático. Com o compromisso de lutar pela sua preservação, intransigentemente. A única ameaça á democracia, estava ali, de corpo presente. Era o presidente eleito que recebeu o recado sem necessidade de emissário.

PS- Agora, Bolsonaro só tem uma saída. Perguntar ao seu parceiro e Conselheiro. "O que é que eu faço?"

PS2- Ele ainda não assumiu, e alem do mais está de férias. Mas dão um jeito.

PRIMEIRA ENTREVISTA COLETIVA DE SERGIO MORO

Ele confessou inicialmente, que estava falando a pedido do próprio presidente Jair Bolsonaro. Acredito que ninguém imaginava que fosse durar exatamente 1 hora e 45 minutos, sem qualquer interrupção. Da parte dele, rigorosa tranquilidade, nenhuma  demonstração de cansaço, desconforto, irritação. Visível desperdício de tempo, perguntas inúteis, outras nem mereciam resposta.

Omissão clamorosa: nenhuma pergunta para o ministro da Segurança Publica, hoje muito mais importante do que o da Justiça. Culpa dos entrevistadores, que em determinado momento tentou corrigir, canhestramente: "Vou combater o crime organizado, com os métodos que usei na Lava-Jato".  Total bola fora. O combate ao crime organizado é uma ação militar. No ministério da Justiça, pode usar o que usou na Lava-Jato.

Pergunta importante, resposta incompleta: "Qual é o seu relacionamento com o presidente Bolsonaro?". "Existe convergência e divergência sanável", não falou em divergência Insanável. Mais tarde, percebendo que ficara um vazio, tentou preencher. Afirmou: "Tenho plena ciência de que sou subordinado".

Três perguntas relevantes, para o ministro da Justiça, com respostas que  dependem de confirmação.

1- "Não existe risco para a democracia e o Estado de Direito".

2- “O ministério da Justiça não perseguirá ninguém".

3- “Não haverá interferência política do ministro da Justiça".

4- "O combate á corrupção, é defesa da democracia".

Ninguém perguntou, mas ele afirmou que o combate á corrupção, precisa de legislação mais abrangente, com penalidades mais duras. Não disse se vai enviar projeto ao Congresso, ou esperar a iniciativa do Congresso. 145 minutos, e ninguém se preocupou em debater o gravíssimo problema das penitenciarias.

PS- Outro esquecimento, culpável para as duas partes: nos mesmos 145 minutos, Lula não foi personagem dos entrevistadores nem do entrevistado.

PS2- Moro só é o personagem que vale uma coletiva de 1 hora e 45 minutos, por causa da conspiração judiciária contra o ex-presidente.