4.10.18

O TOQUE FEMININO ESSENCIAL PARA CONSTRUÇÃO DO PACTO

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -

Precisamos de mais mulheres na economia política brasileira. Não que isso possa ser conseguido com ridículas quotas de candidaturas, mas que seja o processo de afirmação das próprias mulheres no processo social. Certo senso feminino na política é essencial em alguns momentos históricos. O atual exige o engajamento das mulheres pois o concurso da maioria delas ao debate político favoreceria a construção do grande Pacto Social de que necessitamos como esteio fundamental para a reconstrução de nossas instituições republicanas.

Maria do Rosário e Bolsonaro (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O homem político é arrogante, por natureza. Correm no seu sangue veias machistas. Está acostumado a combater e a vencer. Se perde, passa a alimentar sentimentos de vingança e de ódio. Mesmo em posição subalterna recusa-se a se render. Nessas condições, é extremamente difícil a construção de um Pacto Social. Veja a situação de Lula: nesse momento, tenho certeza de que ele pensa mais em vingar-se dos que o humilharam do que conversar com os que podem lhe abrir caminho de volta sem radicalismos.

A mulher é mais suave. É capaz de perdoar. Mesmo quando tem razão para o ódio é capaz de abrir um caminho de conciliação, tendo em vista seus sentimentos maternos. É de sentimentos desse tipo que a sociedade brasileira precisa hoje. Claro que há mulheres machistas, mas não é o tipo humano específico. Por isso, a meu juízo, seja na frente da cena, seja nos bastidores, será fundamental a participação da mulher brasileira no processo de reconstrução republicana pois do contrário seremos tragados por convulsões sociais.

Provavelmente Haddad ganhará a eleição. Ganhando ou não, o PT terá de administrar o resultado com sabedoria. Se pensar em ir à forra dos 13 anos de humilhação seremos empurrados celeremente para uma guerra civil sem exércitos. O que aconteceria, muito provavelmente, seriam focos de movimentos extremistas a partir de provocações dos próprios bolsonaristas, que não estariam inativos nem conformados. As vítimas seriam milhões de brasileiros que não tem absolutamente nada a ver com movimentos radicais.

A ausência de uma mulher física tanto junto de Lula quanto de Fernando Henrique é um azar de nosso processo histórico. Ambos são fundamentais para a construção do grande Pacto Social, base do Pacto Político. Mas lhes faltam boas conselheiras, como havia antes. Entretanto, o caminho da pactuação está aberto de qualquer forma. O importante agora é a iniciativa. E espero que, de alguma forma, os primeiros passos concretos na direção do Pacto estejam sendo tomados já nesse momento, sob a inspiração das esposas desaparecidas.

Consultaram-me sobre como, nessa bagunça institucional brasileira, eu imagino como se pode tomar o caminho do Pacto. Minha receita é simples: comece por um programa econômico (keynesiano) que abra portas imediatas para a retomada do crescimento econômico e do emprego. Esse pacto, de alguma forma, é mais fácil do que o político porque há exemplos históricos claríssimos a seguir: o New Deal norte-americano e o Novo Plano alemão dos anos 30. Para isso, basta que sejam retirados do caminho alguns preconceitos neoliberais.

Personalidades como o mencionado Fernando Henrique Cardoso devem ser mobilizados para a construção do Pacto. Bolsonaro o indicou pessoalmente para ser executado quando seu grupo chegar ao poder, mas isso, certamente, é um exagero. Como são exageradas as menções que Bolsonaro faz a seus inimigos – não adversários, mas inimigos – do PT. Se todos se sentirem igualmente ameaçados pelo grande chefe da extrema direita brasileira, talvez seja mais fácil chegarmos a uma plataforma mínima de Pacto à margem dele.