6.10.18

NO RIO, ESCOLA CATÓLICA CENSURA LIVRO SOBRE A DITADURA

MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND -

Livro Meninos Sem Pátria foi censurado no Colégio Santo Agostinho / Foto: reprodução.
Um dos maiores absurdos dos últimos tempos no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, quando pais de alunos do Colégio Santo Agostinho, no bairro do Leblon, decidiram censurar um livro e impedir que os filhos seguissem tendo acesso ao Meninos Sem Pária de autoria de Luiz Puntel com a alegação de que se trata de uma literatura comunista.

Os pais simplesmente ignoram a história brasileira e o que representou a vida de exilados e seus filhos na época da ditadura empresarial militar. O autor se baseou na história do jornalista José Maria Rabelo e sua família, que teve de deixar o país após a deflagração do golpe empresarial militar de abril de 1964, porque o seu jornal, Binômio, publicava informações que desagradavam os golpistas de então.

O Binômio na verdade pode ser catalogado como antecessor dos atuais blogs encontrados na internet. Os pais possivelmente não leram a publicação de Puntel que conta a história de adolescentes brasileiros que viviam longe de sua pátria e só retornaram com a decretação da anistia.

O livro, inclusive, conta a história dos jovens e seu amor pela pátria que estavam afastados e foram obrigados, em companhia dos pais, a deixá-la, inicialmente em direção à Bolívia, depois para o Chile e em seguida para a França, onde se estabeleceram e depois retornaram à pátria amada.

Aí, então, os filhos de Rabelo se uniram com outros brasileiros na mesma situação com o claro objetivo de 'cultuar' o país que estavam afastados. Chegaram até a ser mencionados no jornal Le Monde, que os pais censores em sua ignorância devem considerar comunista.

É esse o tema do livro que os pais iletrados decidiram que o colégio tirasse de circulação e que vem sendo adotado, sem problemas, em diversos colégios, até mesmo na época dos estertores da ditadura nos anos 80.

A direção do Colégio Santo Agostinho aceitou, sem pestanejar, o pedido absurdo dos pais e simplesmente não deu nenhuma satisfação, inclusive aos pais que acharam também absurda a decisão. Provavelmente o colégio temia perder os alunos, ou seja, uma mensalidade paga pelos pais censores.

Realmente é lamentável o que aconteceu e dá bem a ideia do clima atual no Brasil em que o mercado e uma parte da mídia comercial dá apoio ao fascismo representado pela candidatura de Jair Bolsonaro.

Uma reportagem investigativa poderia levar a opinião pública a confirmar se os pais censores são adeptos de Bolsonaro consequentemente  do fascismo. O que não seria nenhuma surpresa. Jovens como os filhos de exilados terem amor à pátria que estavam afastados deve merecer, isso sim, o conhecimento dos brasileiros e brasileiras. Deve servir também de alerta o que representa para o país uma eventual ascensão do fascismo.

Os pais censores deveriam conhecer a história, como, por exemplo, a ascensão de Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália.

E que o Brasil não padeça do mesmo pesadelo histórico.

*Fonte: jornal Brasil de Fato - Esta foi a última coluna escrita por Mário Augusto Jakobskind para o Brasil de Fato. O jornalista, que integrava há 15 anos o conselho político e editorial do jornal, faleceu na manhã desta quinta-feira (4), no Rio de Janeiro.